quarta-feira, 28 de abril de 2010

FREIRE, Albertina


Instrumentista e musicóloga, Albertina Maria de Sousa Freire, de seu nome completo, era, segundo creio, natural de Silves, e faleceu em Lisboa a 28-1-1954, com apenas 49 anos de idade.
Residiu em Faro na flor da idade, dando então mostras de enorme apetência para a música, razão pela qual partiu para a capital, onde aprofundaria os seus conhecimentos e as suas capacidades técnicas como exímia instrumentista. Quem a conheceu enaltecia-lhe a propensão natural para a música, evidenciando as suas ingénitas aptidões para os instrumentos de percussão e cordas. Mercê dessas raras qualidades foi convidada para tocar numa das orquestras da Emissora Nacional, onde era muito apreciada pelas suas qualidades de genial instrumentista e de disciplina no trabalho, nunca faltando a um ensaio, às gravações radiofónicas ou aos espectáculos.
Pelos seus dotes artísticos e pelo seu precoce desaparecimento, pode dizer-se que Albertina Freire passou ao lado de uma grande carreira no difícil mundo da música.
Tinha seis irmãos: Ilda Freire de Oliveira; Corina Freire, conhecida artista e cantora de teatro; Judite Freire Ferreira de Sousa, casada com o coronel José Cortes Ferreira de Sousa, que foi comandante do Regimento de Infantaria 4; Carlos, Jorge e Raul Freire, todos residentes em Faro.
O seu falecimento causou a maior consternação nos meios artísticos de Lisboa, ficando sepultada no cemitério dos Prazeres.

sábado, 24 de abril de 2010

Pascoal Turri, um colaboracionista dos invasores franceses, em Faro


Em boa verdade pouco sei acerca desta curiosa personagem que passou pelo Algarve de forma quase despercebida, se acaso não tivesse sido considerado “persona non grata”, para não dizer traidor, aos olhos daqueles que aqui o acolheram com estima e carinho.
Apesar da neblina que envolve o conhecimento das suas origens, sei que era de origem milanesa, isto é, que teria nascido na cidade de Milão em data que desconheço, mas que deverá ter ocorrido entre 1870 e 1880. O que sei é que como músico serviu em jovem o Regimento de Artilharia n.º 2, em Faro, cidade onde fixou residência e constitui família, consorciando-se, segundo creio, com uma senhora algarvia. Tinha, ao que parece, uma especial predilecção pela cultura francesa, presumo que por na família haverem laços de consanguinidade gaulesa. O que sei é que em Faro se estabeleceu com uma pequena loja de comércio que depressa expandiu para armazém de “secos e molhados” destinados à exportação. Pela sua inteligência e capacidade empresarial conseguiu reunir meios de fortuna muito razoáveis. Consta também que falava com desenvoltura na língua de Molière e que se correspondia com empresários das praças e portos da velha Gália, com os quais mantinha os seus negócios. Também se dizia, com a proverbial tolerância algarvia, que nutria simpatias pela Revolução e pela heróica figura de Napoleão, a quem chamava “o Imperador”. Mas disso nunca houve reflexos de quaisquer gestos de animosidade ou perseguição.
Pelo bom relacionamento estabelecido com os empresários franceses foi, desde 1803, nomeado cônsul da França no Algarve, cuja sede em Faro seria na casa Turri, também oficialmente grafada como Turi. Acontece que por causa do tão propalado Bloqueio Continental que os franceses pretendiam impor às relações comerciais com o Reino Unido, o nosso país se mostrou bastante remisso, em face da sua secular aliança emergente do Tratado de Windsor, dando com isso justificação às chamadas “invasões franceses”. E, como é de todos conhecido, Napoleão encarregou um dos seus mais famosos cabos de guerra – o general Jounot – de entre 1807 e 1808 encabeçar o movimento militar de invasão do território português. Nessa altura, o comerciante Pascoal Turri, rejubilante de alegria, colocou-se de imediato ao serviço das novas autoridades, que em Faro tiveram na figura do militar Maurrin um tolerante apaziguador, a quem só os olhanenses conseguiram tirar do sério, quebrando o hipócrita sossego em que a região se encontrava amorrinhada.
Logo após o 16 de Junho, que nesse glorioso ano de 1808 convulsionou o povo de Olhão contra os ocupantes franceses (e, por contas antigas, também contra os farenses), foi o afrancesado Pascoal Turri procurado na sua residência pela populaça, que em alvoroço pretendia fazer a patriótica justiça de prender, ou até matar, os traidores da lusa pátria. É claro que o Turri conseguiu escapulir-se a tempo de cair nas mãos da turba-multa, sem impedir porém que o mesmo acontecesse aos seus haveres pessoais e materiais, com os quais animava o comércio local. Fugiu então para a cidade de Loulé, onde escapou de vinganças e perfídias, até que, algum tempo decorrido, e pensando que as coisas já tivessem retornado aos eixos da rotina, retomou o caminho para Faro, em cuja cidade foi, porém, recebido a tiro por quem não se esquecera dos seus aleivosos favores prestados aos intrusos franceses.
Escapando com vida ao seus vingativos algozes fugiu para Lisboa, onde lhe perdi o rasto, não sei se por ter mudado de nome, ou se por dali ter partido para outros mundos de que não restam memória.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

FRANCO, Maria das Dores Dias Barbosa Lyster

Bondosíssima senhora, esposa do pintor e professor Carlos Augusto Lyster Franco, e mãe do Dr. Mário Lyster Franco, creio que natural do distrito de Braga, veio residir para Faro nos finais do século XIX, vindo a falecer nessa cidade a 1-4-1948.
Extremamente religiosa pertencia a várias associações de piedade e de beneficência, sendo para além disso das mais conceituadas e admiradas damas da sociedade farense do seu tempo.

domingo, 11 de abril de 2010

DAVIM, Joaquim Rodrigues


Advogado, poeta e publicista, nasceu em Águeda a 31-3-1869 e faleceu em Faro a 5-1-1923, vítima de enfarte cardíaco.
Estudou em Coimbra, formando-se em Direito em 1895, vindo para Faro em 1899 na qualidade de administrador do concelho, fixando aqui residência e escritório de advogado, exercendo, porém, com mais eficiência e proveito o notariado, funções em que aliás se manteria até à morte.
Foi um dos cidadãos mais queridos da sociedade farense do seu tempo, não admirando por isso que fosse convidado a desempenhar diversas funções de relevo político e sociocultural. Assim, foi membro da Junta Distrital, Reitor do Liceu de Faro e Presidente da Instituto Arqueológico do Algarve. Além disso era sócio efectivo da Academia das Ciências de Portugal e do Instituto Histórico do Minho.
Publicou centenas de poesias em jornais e revistas, muitas das quais depois imprimia em postal ou em folhas artísticas que distribuía pelos amigos. Acontecia que às vezes essas poesias eram vendidas para benefício de instituições de caridade social. Felizmente reuniu em livro a maioria das suas composições, distribuídas pelas seguintes obras: Sombras, 1889, Morta, 1898, Ode aos Artistas, 1900, Ode aos Heróis, 1908. Em prosa escreveu vários contos que reuniu no livro Telas Rústicas, deixando também publicado em opúsculo o discurso inaugural do Instituto Arqueológico do Algarve.
No seio da imprensa algarvia, o Dr. Rodrigues Davim dispersou a sua erudita colaboração por diversos órgãos: «Algarve e Alentejo» (1903), «O Algarve» (1908), «Correio do Sul» (1920), «Os Algarvios a João de Deus» (1924), etc.
Para terminar, acrescente-se que A Câmara Municipal de Faro, em finais Janeiro de 1928, por proposta do seu vice-presidente, Dr. Justino de Bivar Weinholtz, decidiu atribuir o nome daquele antigo notário e conceituado poeta a uma das ruas do novo bairro situado no Alto Rodes.