segunda-feira, 27 de junho de 2011

ALGARVE - Planos Hidrográficos

Na secção designada por «Casa Forte» do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, existem em devido e criterioso recato dezenas de mapas, planos e desenhos da mais variada índole, elaborados por Engenheiros e Arquitectos integrados em diversas Comissões oficiais pertencentes a diferentes Secretarias do Reino. A maior parte desses mapas foi desenhada à mão, colorida com aguarelas e tintas da china, sendo que em alguns casos recorreu-se a ocres e outras improvisadas colorações. Possuem grandes dimensões, razão pela qual foram dobrados em várias partes, cujos vincos com o tempo se partiram e rasgaram. Alguns estão enrolados, mas igualmente em deficiente estado, devido ao seu manuseamento. Deve, porém acrescentar-se que a maioria deles são verdadeiras obras primas, não só no pormenor e exactidão orográfica como sobretudo na sua beleza artística. Consultei vários, e sobre alguns deles cheguei mesmo a escrever artigos e comentários de carácter científico que correm impressos em catálogos e revistas da especialidade. Lembro-me, porém, que três desses Planos me deixaram surpreso e até muito positivamente impressionado. Por isso aqui os deixo citados para quem deles se possa interessar, frisando em primeiro lugar o número do seu registo, designação oficial e data:

Nº 3 - Plano Hidrográfico das barras e portos de Faro e Olhão - 1885.

Nº 23 - Plano Hidrográfico da barra e porto do Rio Guadiana - 1874.

Nº 29 - Plano Hidrográfico das Enseadas de Belixe, Sagres e Balieira - 1924.


Acresce dizer, aos interessados no estudo da hidrografia algarvia, que para consultarem estes mapas terão que se deslocar a Lisboa, dirigirem-se ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e fazerem a respectiva requesição, não se esquecendo de nela mencionar que estes documentos se encontram depositados na «Casa Forte», secção de Mapas e Planos.

domingo, 26 de junho de 2011

AFTAS


Todos sabemos que aquelas manchas esbranquiçada, redondas, com uma auréola vermelha, que nascem na ponta da língua e a que vulgarmente chamamos aftas, causam grande incómodo, chegando mesmo a tornarem-se num verdadeiro suplício. Na verdade, as aftas não são mais do que pequenas ulcerações, geralmente dolorosas e insuportavéis, que aparecem de forma inesperada na mucosa bucal. Ninguém sabe o porquê do seu aparecimento, embora se avente a hipótese de terem origem nervosa. Em geral têm menos de 12 mm de diâmetro e costumam aparecer em grupos de duas ou de três, sendo certo que normalmente desaparecem ao fim de poucos dias, sem deixarem, felizmente, rasto.
Não existe especificamente um tratamento para as aftas. Mas aqui no Algarve o povo, que se habituou a designá-las por «sapos», arranjou uma forma sui generis de se livrar delas, bastando para isso dizer , em voz clara e sem se enganar, a seguinte ladaínha: «Tenho um sapo na língua, um cento à roda d'este, nem este nem outro, nem outro como este».
As gentes da serra simplificaram a coisa, para dizerem três vezes seguidas, simplesmente assim: «Em cima deste sapo, outro, nem este nem outro».
Diziam também alguns idosos da serra de Alte que mais eficaz do que as ladaínhas era passar a língua pelas paredes caiadas. Por isso, quando viam alguém encostado às paredes sombrias da Igreja, a lamber a frescura da sua alvura, diziam logo: "pobre coitado deve estar cozido de sapos".

sábado, 25 de junho de 2011

ANDRINO, Teodora Maria

Confesso que sei muito pouco sobre esta hábil e talentosa pintora, nascida na freguesia urbana de Santa Maria, na cidade de Tavira. Era filha de Bernarda da Assunção e do pintor João Rodrigues Andrino, que segundo constava nos "livros da fábrica" relativos a algumas igrejas locais, ganhava a vida fazendo pinturas e restauros, nomeadamente em retábulos, móveis e alfaias religiosas; encarregando-se também de pinturas e de antigos murais, presumindo-se que terá pintado alguns quadros e retocado as paredes das mais antigas igrejas da cidade, na época de seiscentos.

A sua filha Teodora herdou-lhe o talento, e só não se tornou famosa porque morreu cedo demais, impedindo-se assim a progressão da sua obra. Conhece-se da sua autoria apenas um quadro, representando Nossa Senhora da Graça, que estava na cela do prior dos agustinianos de Tavira, que o Dr. Silva Carvalho tanto apreciava.

Faleceu a 10 de Agosto de 1716, com pouco mais de 24 anos de idade, na cidade de Faro, para onde veio residir por causa do seu casamento com André de Mendonça, que era daqui natural. Ficou sepultada na igreja de S. Pedro, cuja pedra tumular depois de levantada, por força da lei higiénica, levou sumiço.

Neve no Algarve

O Algarve sempre foi conhecido pela amenidade do seu clima. Foi essa particularidade, associada à beleza paisagística da sua linha costeira, ao rendilhado rochoso das suas praias e à tepidez das suas águas marítimas, que justificaram o despontar duma frutuosa actividade turística, capaz de cativar meios humanos e de incentivar rendimentos económicos até então nunca alcançados.
Mas se o bom tempo, com sol radioso e celestial azul, identificam a paradisíaca envolvência climática e ambiental desta região, certamente que o contrário - frio, chuva, neve e gelo - traduzem as agruras pelas quais passam os povos do norte europeu, que logicamente por essa razão se tornaram nos principais clientes do nosso turismo internacional.
Não admira pois, que a queda de neve no Algarve (mercê do seu posicionamento geográfico no extremo sul da Europa) seja um fenómeno meteorológico muito raro. De tal forma assim é que, desde longa data, se arreigou no espírito do povo algarvio a quase impossibilidade de tal ocorrência poder vir algum dia a suceder. Por isso surgiu na sua vivência popular, ou naquilo que podemos considerar como a sua etnografia linguística, esta capciosa expressão: «para o ano dá neve». Similarmente os algarvios querem dizer que tal só acontece «quando as galinhas tiverem dentes», ou, mais provavelmente, «para a semana dos nove dias».
Nesta irónica expressão «para o ano dá neve» traduz o povo algarvio a certeza ou o sentimento de algo que só muito dificilmente (senão mesmo impossível) terá realização ou poderá ocorrer. Esta expressão deixou de se ouvir no Algarve com a assiduidade que só a ironia crítica e a sabedoria popular sabe empregar nos momentos mais apropriados.