LACOBRIGENSE, é o pseudónimo do autor de uma obra poética de carácter épico-narrativo, inspirada no modelo crítico-jocoso dos finais do século XVIII, na qual se revelam procedimentos da administração local relacionados com actos de corrupção, de enriquecimento indevido (locupletação) e de arbitrariedade política.
Na verdade, a obra intitulada A / MINISTRADA / Poema / critico / dado á luz / Por hum amador da tranquilidade lacobri- / gence. Anno / MDCCLXXXIV, é um poema narrativo, que se encontra dividido em seis cantos, preenchidos por estrofes de alexandrinos no género estilístico das obras clássicas. Têm porém um estrito sentido descritivo e exegético dos acontecimentos que suscitaram um generalizado motim popular dos moradores da cidade de Lagos contra as autoridades que exerciam a administração municipal, especialmente contra as arbitrariedades ditatoriais de um vereador em particular e do respectivo Juiz de Fora.
Todos os factos e personagens discriminados nesta obra poética são identificados e clarificados ao leitor com dezenas de notas que figuram no fim de cada canto. Basta esse simples aspecto para poder considerar-se esta obra poética como uma fonte de inegável interesse histórico. Por outro lado, ainda que se trate de um obra literária, e no género poético, pouco aconselhável como fonte histórica, não podemos deixar de salientar que nela se relatam factos verídicos, narrados em tom crítico e, por vezes, jocozo, o que não invalida o seu interesse e necessidade de ser dado à estampa com a chancela da edilidade local, quanto mais não seja como homenagem ao seu talentoso, embora ignorado, autor, que era certamente um lacobrigense.
Embora não tenha uma ideia de quem foi o seu autor, presumo que seria de apelido Vale, porque é essa a assinatura que aparece no fim da Introdução ao poema.
Este livro manuscrito abre com uma breve «Introdução» que passamos a transcrever:
«Os tumultos de Lagos originados das paixoens de alguns Ministros, como pela ellevação da Caza do Vereador Bento de Azevedo, tem sido objecto de rizo para huns, e de trabalhos para outros; mas de lastima para todos aquelles bons, e sinceros animos que se interessão no publico socego. A ultima dezordem que occazionou, e deu lugar a este pequeno Poêma, em que mais se observão as leis da verdade do que as Regras da Arte, se lhe fez de alguma utilidade, dando a conhecer os males e dezordens, a que nos conduz a discórdia, e a ambição, e preencherá o fim do seu Author, único e singular, que se propoz em ordenálo; e se alguém duvidar da variedade dos factos que nelle se apontão, o Author não tem duvida em apprezentar provas autenticas de todos elles, em qualquer Archivo, ou Livraria publica da Corte.»
Esta obra manuscrita poderá consultar-se na Biblioteca Nacional de Portugal, secção de Reservados, códice 6058.
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