quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Ana Lorjó Tavares de Oliveira

Rua de Santo António, em Faro, 1909
Senhora natural de Faro, onde nasceu em 1851, no preciso ano em que o Liceu Nacional de Faro recebeu da rainha D. Maria II a carta oficial da sua fundação. Não podemos afirmar que Ana Lorjó tivesse sido uma figura marcante na sociedade farense da sua juventude, isto é, no período áureo do chamado Fontismo, que no Algarve deu azo ao surgimento de importantes melhoramentos na organização cultural, social e económica, em particular na cidade em Faro. Lembro como exemplo a vida cultural dos farenses, que nessa época sentiu um enorme impulso no Teatro Lethes, mercê da gerência do Dr. Paulo Cúmano, detentor de avultados meios de fortuna que lhe permitiram manter nesta cidade de província uma casa de espectáculos ao mais alto nível, cuja programação artística não era inferior ao que de melhor se apresentava no São Carlos de Lisboa. No que se refere aos “melhoramentos materiais”, símbolo da política fontista, devemos lembrar que nessa época se melhorou o cais de acostagem, que servia de porto marítimo à cidade, e inaugurou-se a chegada do caminho de ferro, o que significou o fim do isolamento a que o Algarve esteve condenado durante séculos.
Ana Lorjó, segundo nos apercebemos pela imprensa local da época, foi uma cidadã muito respeitada e muito apreciada na sociedade farense, pela sua esmerada educação e cultura intelectual. Escreveu breves apontamentos sobre a programação do Lethes e pequenas notas sociais nos “carnets” da vida local, referindo-se à chegada de certos individualidades que vinham à capital algarvia por razões profissionais ou familiares, e à partida de outras que seguiam para Lisboa, ou até mesmo para o estrangeiro, por razões muito diversas. Assinou também nos periódicos de Faro, breves textos sobre assuntos de particular interesse para as mulheres.
Jardim Manuel Bivar, em Faro, 1919
O que mais a distinguia era o facto de pertencer à família Lorjó Tavares, que marcou posição de relevo no teatro amador, nomeadamente no Lethes e nas reuniões femininas do Clube Farense, espécie de salões de elite, mas ao estilo provinciano, numa tentativa de imitação dos que se realizavam no séc. XIX em Lisboa, nas residências de mulheres notáveis, como Amália Vaz de Carvalho, Ana de Castro Osório, Celina Guimarães e outras.
Foi casada com o general Francisco Palermo de Oliveira, do qual julgo não ter tido descendência. Fixaram residência em Faro onde desfrutavam de grande simpatia social e até de certo prestígio, mercê das origens familiares do esposo, que provinha dos Palermos, que em Faro alcançaram significativos meios de fortuna, e até dispunham de um palacete na Rua de Santo António.
Era irmã do jornalista e escritor teatral José Lorjó Tavares (vide este nome) e tia de Henrique Cortes Ferreira de Sousa, do tenente José Cortes Ferreira de Sousa e de Frederico Ferreira de Sousa, todos eles distintas figuras da sociedade farense do seu tempo.
Sabemos que Ana Lorjó Tavares herdara da família o génio da escrita, e chegou a colaborar com certa regularidade na imprensa algarvia, mas é bastante difícil descortinar em que órgãos em que efectivamente colaborou, visto que o fazia sob a cobertura de enigmáticos pseudónimos. Faleceu com 87 anos em Faro, nos finais de Abril de 1938.

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