terça-feira, 3 de março de 2020

Uma Burra contra a corrupção

No Museu do Hospital Termal das Caldas da Rainha existe uma peça museológica muito curiosa e invulgar. Trata-se de uma Burra, designação atribuída desde tempos remotos a uma espécie de arcaz blindado, chapeado a ferro, à prova de fogo e de roubo, destinado à reserva de bens preciosos, ouro, jóias, dinheiro e até relíquias para fins religiosos. Neste caso servia para guardar os documentos antigos, contratos, escrituras, fórmulas químicas de remédios, e logicamente os fundos de maneio do próprio hospital.As origens da burra remontam à Idade Média, quando estes robustos e pesados cofres eram transportados no dorso de uma azémola para a recolha dos impostos régios, ou para o transporte do soldo com que se pagavam os exércitos. Os exemplares mais antigos são estriados a ferro, e apenas possuem uma fechadura. Mas os mais recentes, construídos entre as centúrias de quinhentos e oitocentos, são blindados e possuem três fechaduras, o que denuncia a preocupação de responsabilizar a sua abertura por três entidades diferentes. Este tipo de cofres eram comummente usados nas instituições públicas, onde a administração e tesouraria se repartia por diferentes responsáveis, com o fim de evitar o seu conluio num hipotético desfalque. Não sei se hoje teriam a mesma eficácia dos nossos antepassados... pois que a corrupção deixou de ser um crime para se tornar na virtude dos mais inteligentes, sobretudo dos políticos e dos banqueiros...!!!

Arcaz blindado em ferro, que serviu de cofre ao Hospital Termal das Caldas da Rainha. Este tipo de cofre ficou conhecido sob a designação de "Burra". Curiosamente o Museu Termal adoptou este cofre como símbolo emblemático da instituição, para certamente atestar a idoneidade e honradez dos seus administradores.


Burra, chapeada a ferro, precioso e muito belo exemplar com origem numa fundição francesa. Dizia-se imune ao fogo, e talvez aos ladrões, já que era difícil de transportar por ser pesadíssimo. Tinha três fechaduras (caso contrário não poderia ser designado como "burra"), e este magnífico exemplar possui ainda hoje as chaves originais. Tem as dimensões de 99 x 65 x 45cm. Este exemplar, de fabrico francês, foi vendido muito recentemente num leilão de antiguidades no Brasil.
Anúncio publicado na imprensa brasileira do século XIX sobre as virtudes destas "burras" francesas que seriam supostamente incombustíveis. Este tipo de cofres destinavam-se aos escritórios das grandes empresas, das agências de câmbio ou das pequenas filiais de província dos grandes bancos e argentárias.