Gomes Afonso, em 2002, numa reunião da AJEA, no Hotel Mónaco, vendo-se atrás dele a escritora Conceição Pires |
António Gomes Afonso, não era algarvio, porque nascera em Lisboa, mas tornou-se num indefectível farense desde que aqui chegou para cumprir o serviço militar. Em breve se apaixonaria pela sua querida Maria José, que também conheci muito bem, mulher bonita e inteligente, que se dedicou ao culto das musas com relativo sucesso. Faleceu há mais de uma década, deixando um vazio enorme na alma do Gomes Afonso, que foi superando a solidão com indisfarçável pesar. Julgo que tiveram uma única filha, que foi para Lisboa, onde concluiu os estudos superiores e se dedicou à docência.
Gomes Afonso na Ria Formosa, em 2016, numa visita de estudo promovida pelo Rotary Clube de Faro |
O Gomes Afonso será para sempre recordado como um homem do desporto, um senhor do futebol algarvio, e um gentleman da sociedade farense, pelas diversas actividades sociais que desempenhou, em prol da cultura, do livre pensamento e do associativismo cívico. Quando jovem evidenciou uma especial afeição pelo futebol, mas como em tudo o que fez na vida nada mais quis do que ser útil, acabaria por seguir a carreira da arbitragem, que cumpriu durante muitos anos, sempre com isenção, imparcialidade e competência. Creio que em prestígio e sucesso, só o José Rosa Nunes teve uma carreira a nível nacional mais consagrada, com presenças em competições nacionais com grau de exigência máxima.
O primeiro emprego, e único que desempenhou até à aposentação, foi o de funcionário da extinta Direção Hidráulica do Guadiana, na qual viria a desfrutar da amizade do seu director, o engº Tito Olívio, o mais famoso poeta vivo do Algarve. É curioso que ambos engrandeceram com o seu desinteressado esforço a sociedade farense, desde os anos sessenta até aos nossos dias. Fizeram-no quase a par um do outro, por altruísmo de carácter, mas também por serem da mesma geração, a última que produziu cidadãos íntegros, honrados e virtuosos.
Gomes Afonso, saudando a bandeira nacional, na sede do Rotary Clube de Faro, em 2020. |
Gomes Afonso, ao lado de Helena Louro, homenageado em 2022 pelo Rotary de Faro |
Para além disso, e ainda no campo desportivo, não podemos olvidar a sua prestimosa colaboração como dirigente de outras coletividades e associações distritais ligadas às modalidades amadoras, de entre as quais importa destacar o seu esforço para a reafirmação da Associação de Boxe do Algarve, na qual conseguiu reorganizar a situação contabilística e fiscal, permitindo que a mesma pudesse voltar a receber apoios e subsídios estatais. Destaco também o seu esforço e dedicação em prol do desporto juvenil, organizando sucessivos torneios de futsal no Jardim da Alameda, onde durante o verão conseguiu atrair a juventude para o desenvolvimento de actividades saudáveis, desviando assim os jovens dos perniciosos vícios da ociosidade.
No plano social importa lembrar que Gomes Afonso desenvolveu também um importante papel de cooperação em actividades culturais, associativas e de lazer social. Entre outras destaco o seu papel na Associação Filarmónica de Faro, fundada pela Câmara Municipal, em Junho de 1982, na qual conseguiu reunir um conjunto de pessoas que encontraram na música um sentido especial para o entendimento das suas vidas. Foi também pela sua dedicação e esforço que a Associação Filarmónica de Faro recebeu em 1998 o Estatuto de Utilidade Pública, e em 2003 a Medalha da Cidade de Faro, grau Prata.
Última homenagem que o Rotary Clube de Faro prestou ao seu dedicado secretário-geral António Gomes Afonso |
Também não podemos esquecer que em 1976, Gomes Afonso tendo em vista a promoção da leitura sugeriu a criação da primeira Feira do Livro de Faro, ao presidente da edilidade de então, Eng,º Joaquim Lopes Belchior, um homem de aparência rude na qual se escondia um espírito de eleição, pela sua inteligência e cultura. A Feira do Livro teve lugar no Jardim Manuel Bivar, e os proventos daí resultantes revertiam a favor da Misericórdia de Faro. Desde então este importante certame cultural tem-se realizado sem interrupção, e ainda hoje constitui um dos principais eventos culturais do município farense.
Mercê do seu bom carácter e honestidade, Gomes Afonso sempre se disponibilizou a colaborar com as organizações associativas locais, sendo o Rotary Clube Faro a principal a que emprestou os melhores anos da sua longa vida. Quem, como eu, privou de perto com o Rotary, sabe perfeitamente que o Gomes Afonso fazia tudo o que fosse preciso, sem dar nas vistas nem pedir os louros do sucesso. Era a modéstia em pessoa. Por isso, os rotários como representantes da competência profissional e da filantropia social, decidiram num acto de plena justiça nomeá-lo secretário-permanente e sócio honorário do Rotary Clube de Faro. Na verdade, ninguém melhor do que o António Gomes Afonso reunia na alma o espírito benemerente que insuflou vida àquela organização: “Dar de si sem antes pensar em si”. Ele foi assim toda a vida, dava o melhor de si sem nada receber em troca, e disso tenho provas quando comigo colaborou na realização de alguns eventos promovidos pela AJEA – Associação dos Jornalistas e Escritores do Algarve.
Em reconhecimento dos serviços prestado à cidade, a Câmara Municipal de Faro conferiu-lhe a Medalha de Dedicação ao Município de Faro – Grau de Ouro.
António Gomes Afonso, faleceu no dia 8 de Setembro de 2023, aos 95 anos de idade. A sua alma repousa na mão direita de Deus Pai, ao lado dos homens justos que praticaram o bem-comum.
As cerimónias fúnebres decorrem na próxima segunda-feira, dia 11, a partir das 10h00, na Igreja do Convento de Santo António dos Capuchos, em Faro, junto ao quartel da GNR. O funeral sai à 15 horas para o Cemitério da Esperança, em Faro.
Resta-me apresentar a sua filha, e restante família enlutada, as minhas sinceras condolências pela insubstituível perda de um homem bom, generoso e íntegro.