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Dr. António Pedro da Silva Martins |
Poucos se lembrarão hoje deste médico, natural de Portimão, que alcançou grande prestígio em Lisboa, onde teve reputação de proficiente, bondoso e solidário com os desafortunados da vida. Chamaram-lhe, como aliás acontecia com muitos outros, “o médico dos pobres”, por exercer a clínica de forma graciosa e com a generosidade de ainda lhes oferecer os medicamentos. Era assim, de carácter pródigo e fraterno, a que acrescia uma personalidade afectuosa, cordial e filantrópica.
Nasceu em
1893, na então Vila Nova de Portimão, onde após a escolarização básica e
secundária, transitou para o Liceu de Faro, em cuja cidade viveu e sentiu os
conturbados tempos da implantação da República. Seguiu depois para a
Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Medicina com distinção. Aí fixou
residência e abriu depois consultório, na esquina da Rua do Salitre para a
Praça da Brasil.
Ainda jovem
aderiu ao Partido Republicano Português, filiando-se depois no Partido
Democrático do Dr. Afonso Costa, cujas ideias e propostas políticas se
coadunavam com o seu espírito humanista de democrata interventivo. Talvez pela
sua refulgente inteligência ou pelo seu activismo social, tivesse o nome
chegado aos ouvidos do Dr. Leonardo Coimbra, um homem do norte, franco e leal,
enérgico e empreendedor, cujas ideias revolucionárias e notável sucesso como
filósofo e literato, justificaram a sua ascensão para sobraçar, por duas vezes,
em dois ministérios distintos, a pasta da Instrução Pública. O
último dos elencos a que deu o seu contributo político, foi em 1923, no 37º
governo da República (7-12-1922 a 15-11-1923), liderado pelo célebre António
Maria da Silva, fundador da Carbonária e Grão Mestre do Grande Oriente
Lusitano. O honrado, mas efémero, ministro da Instrução, Leonardo Coimbra,
chamou ao seu serviço, na qualidade de secretário particular, o jovem médico
Dr. António Pedro da Silva Martins, que infelizmente não chegou a aquecer o
lugar, por à imagem e semelhança da vida governativa republicana, não ter
durado o seu ministério senão algumas semanas. Em todo o caso, daí terá nascido
uma amizade que perdurou até à morte prematura daquele que foi um dos maiores
intelectuais do século vinte. Lembro que da iniciativa de Leonardo Coimbra que surgiram
as Escolas Primárias Superiores, destinadas à formação de professores; recordo
que foi ele quem reformou a Biblioteca Nacional; quem
fundou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde foi professor e director; quem congregou o cenáculo
intelectual da «Nova Seara» e da «Renascença Portuguesa», cujo órgão literária
«A Águia» seria das revistas de maior sucesso no seu tempo; lembro, por fim,
que foi ele quem fundou as Universidades Populares, que por todo o país levaram
as luzes da ilustração aos cidadãos anónimos da classe operária.
A amizade
com Leonardo Coimbra fez com que Silva Martins aceitasse o seu convite para
leccionar nas antigas Escolas Primárias Superiores, depois designadas como
Escolas do Magistério Primário, mantendo-se ligado ao ensino, como médico
escolar, até se reformar do funcionalismo público no Ministério da Educação.
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Vila Nova de Portimão, zona portuária, em 1914 |
Nunca
esqueceu a sua terra natal, onde vinha com frequência visitar familiares e
passar férias na Rocha, sendo essa a razão por que aceitou dirigir o Hospital
da Misericórdia de Portimão, durante alguns meses, creio que no início da
década de cinquenta do século passado.
Na sua casa da Rua do Salitre, em Lisboa, recebia doentes a toda a hora, sem qualquer tipo de
discriminação, social ou económica, sempre com aquele espírito de missão
humanitária que os verdadeiros discípulos de Hipócrates sabem desenvolver em
prol dos desafortunados.
Faleceu em
Lisboa, no dia 27 de Outubro de 1952, com 59 anos de idade, deixando viúva Dª
Adelaide Augusta Monteiro da Silva Saturnino Martins, senhora de preclaras
qualidade morais que sempre muito de contristava com o facto de não lhe ter dado
a felicidade da descendência. Era irmão do prestigiado comerciante em Portimão
José Tadeu da Silva Martins, casado com Isabel Cabrita Tadeu Martins, e tio de
Maria de Lurdes Tadeu de Almeida Henriques, casada com o Capitão João Afonso
Henriques; de Maria José Tadeu de Almeida Figueiredo, casada com o Tenente
Josefeth Monteiro de Figueiredo; e de António Pedro Tadeu de Almeida Martins, à
época ainda aluno do Instituto Industrial de Lisboa.