Panorâmica da antiga doca de Faro na década de vinte |
Uma das figuras que permanece ignorada na cultura
algarvia e até mesmo nas relações transfronteiriças luso-espanholas, é a de D.
Álvaro Seminário, que nos princípios da sua carreira diplomática, precisamente
em 1923-1924, exerceu na cidade de Faro as funções de Cônsul de Espanha.
Durante essa curta passagem deixou no seio da elite farense um perfume de
elegância, de donjuanismo, muito raro e invejável, numa sociedade ronceira e
provinciana.
Em todo o caso, deixou sólidas amizades e uma
grande admiração entre os mais recatados e ilustres farenses, para não falar já
dos corações dardejados pelo traiçoeiro cupido, abandonados à pressa por uma
retirada estratégica.
Jardim Manuel Bivar e praça de táxis de Faro, anos vinte |
Elegante e afável no trato, cativava facilmente
amizades, até pela sua sólida cultura, aliás demonstrada no livro de memórias e
sensações que publicou com o título de «España y Portugal - Incitaciones a una
política de acercamiento espiritual», publicado pela famosa editora
Espasa-Calpe, em 1940. Nesse livro deu relevo ao amor que sentia pelas duas
pátrias que trazia no coração, advogando com sincera convicção a necessidade de
estreitamento das relações políticas, económicas e culturais entre os dois
países irmãos, dando como exemplo as opiniões de vários outros escritores, que
haviam anteriormente sugerido um abatimento das fronteiras físicas em prol duma
união intelectual da velha Ibéria. Essa ideia não era nova, pois já havia sido
propalada nos anos setenta da centúria de Oitocentos, tendo então entre nós
como principais defensores os mais conceituados intelectuais republicanos e
socialistas, de entre os quais destaco Antero de Quental, Teófilo Braga, Júlio
de Matos e Oliveira Martins.
Capa da obra de Álvaro Seminário |
Na sociedade farense dos loucos anos vinte, Álvaro
Seminário marcou posição de relevo, não só pela sua admirável educação como
também pela sua cativante cavaqueira no Clube Farense, na Havaneza e nos cafés
mais concorridos da cidade, onde fazia amigos com extrema facilidade. Pode
mesmo dizer-se que foi um dos cônsules espanhóis que mais simpatias soube
arrecadar na burguesa cidade de Faro.
Distinto funcionário do Ministério dos Negócios
Estrangeiros de Espanha, não admira que fosse galardoado com numerosas
condecorações, de entre as quais assume particular destaque a Comenda da Ordem
de Cristo com que o governo português o soube premiar pela leal amizade que
dedicou ao nosso país.
Álvaro Seminário Martinez, de seu nome completo,
após uma brilhante carreira diplomática, retirou-se da política no pós-guerra,
na qualidade de Ministro plenipotenciário de Espanha para a América Latina,
vindo a falecer na sua residência em Madrid, a 30-12-1950.
Embora não tivesse ocupado o melhor do seu tempo na
escrita, sei que da sua autoria se publicaram ainda os seguintes livros:
Cuadernos de Derecho Consular, 1932; El consul de
España en América, 1935; El doctor James Brown Scott y los teólogos españoles
de los siglos XVI y XVII, 1946 [conferencia pronunciada por Álvaro Seminario,
Ministro Plenipotenciario, director de política de América].
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