O surto pestífero que assolou o Algarve em 1646 foi trazido por um “navio de courama” oriundo do Norte de África que entrando pela foz do Gilão aportou junto à ponte de Tavira.

O sacrifício dos padres franciscanos revelou-se inexcedível e eficaz, mas para isso tiveram de pagar um preço demasiado alto em vidas humanas, contando-se entre as vítimas alguns dos mais notáveis religiosos da Província da Piedade no Algarve. Lembro por exemplo o próprio Guardião do Convento, Frei Luiz de Beringel, que foi Pregador de grande reputação e não menos afamado Teólogo que morreu em cheiro de santidade. Mas também não devemos esquecer entre as vítimas da peste o n

Convém acrescentar que existiam naquela cidade cerca de três conventos, mas nenhum deles quis associar-se aos irmãos de S. Francisco com medo de perecerem no contágio da peste, facto que suscitou do rei D. João IV o seguinte desabafo: «Os meus frades (assim chamava sempre aos da Piedade) são bons religiosos, esperão a morte a pé quedo e não desamparão seus conventos».
Durante esse fatídico ano de 1646 a peste circunscreveu-se apenas à cidade de Tavira, mas nos anos seguintes estendeu-se a outras localidades do Algarve, principalmente

Perante o flagelo, el-rei D. João IV mandou de Lisboa ao Algarve os seus cirurgiões estrangeiros mais experimentados na cura desta epidemia, assim como medicamentos, boticários e enfermeiros especializados no combate ao contágio. Curiosamente estes emissários reais vinham todos destinados ao convento de franciscanos de Vila Nova de Portimão, cujo Guardião os mandava distribuir pelas várias localidades do Algarve, conforme achasse mais conveniente.
Pouco depois dava-se por extinto o surto epidémico em todo o Reino do Algarve, não chegando, felizmente, a estender-se o contágio à província do Alentejo. Todavia, e apesar dos seus nefastos resultados, desconhece-se ainda hoje o número, certo ou aproximado, das vítimas da peste no Algarve. Presumo que tenham sido alguns milhares.
Para se saber mais acerca deste surto epidémico, dos seus perniciosos estragos e, sobretudo, do esforço evidenciado pelos frades franciscanos no combate ao contágio, veja-se, como fonte histórica, a obra de Frei Manoel de Monforte, Chronica da Província da Piedade, Primeira Capucha de Toda a Ordem, & Regular Observância de Nosso Seraphico Padre Francisco, Lisboa, Officina de Miguel Deslandes, impressor de Sua Magestade, 1696, pp. 752-755.