Uma das mais apreciadas senhoras da sociedade farense na primeira metade do século XX. Creio que era natural de Faro, filha de muito boas famílias, casou-se com o empresário de artes gráficas e jornalista José Ferreira da Silva, que foi um dos fundadores do semanário farense «O Algarve», cuja vida editorial se espraiou por mais de um século de existência. Devido à sua longevidade editorial, granjeou desde os finais dos anos setenta do século passado até à primeira década deste milénio, o honroso epíteto de «decano da imprensa algarvia».
Além de muito caridosa, e sempre preocupada com os mais desfavorecidos, era também muito culta, conhecedora da nossa literatura clássica e sempre ocupada na leitura dos textos que se publicavam no “seu” jornal, sendo a primeira a fazer críticas e reparos aos colaboradores que visitavam a redacção do jornal. A um deles prestava os maiores desvelos, um engenheiro silvicultor que residia na cidade, e fazia o favor de colaborar no seu jornal, usando apenas as iniciais do seu nome, que por feliz coincidência eram exactamente iguais às do filho. Isso fazia crer no público que o velho Ferreira da Silva deixara descendência capaz de dar continuidade à sua obra. Mas ao filho faltavam qualidades de toda a ordem, inclusivamente tinha um feitio insuportável que lhe valeu o epiteto de “Silvinha marau”.
Com efeito, o pobre do Silvinha, não tinha jeito nenhum para a escrita, divertindo-se enquanto pode a gozar dos bens que os pais lhe haviam deixado. Só depois do falecimento da mãe, é que tomou juízo e se dedicou de facto ao jornal, prosseguindo a sua publicação, nem sempre com a regularidade desejável, por vezes com o simples objectivo de manter a tipografia que herdara em laboração.
Na sua qualidade, burguesa e educada, D. Filipa Serrão e Silva fez-se irmã da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, uma organização religiosa de leigos muito selectiva nos seus aderentes. Dizia-se que na Ordem do Carmo só entrava a elite de Faro. E, de facto, assim era. Em todo o caso, era uma senhora muito bondosa e profundamente crente, sempre presente na missa dominical e nas festas religiosas da cidade, doando aos mais necessitados esmolas e bens de primeira necessidade. Razão pela qual gozava de gerais simpatias da choupana ao palácio. Já no fim da vida sobreveio-lhe uma doença que progressivamente lhe foi minando a saúde até ao desfecho final, que foi lento e doloroso.
Além de esposa amantíssima foi mãe extremosa de Dª. Basilisa da Conceição Serrão e Silva, que conheci muito bem, imitando a mãe como presença, nem sempre regular na tipografia e redacção do jornal; e de Artur José Serrão e Silva, que assumiu a direcção da empresa gráfica e do semanário «O Algarve».
Quando Dª. Filipa Serrão e Silva faleceu, a 17 de Agosto de 1952, com a apreciável idade de 79 anos, já era de há muito viúva daquele saudoso jornalista, José Ferreira da Silva, fundador e director do semanário farense «O Algarve».