Iluminura das Cantigas de Santa Maria da autoria de Afonso X, o Sábio |
Mas tudo isto vinha a propósito de Frei António de Moncarapacho cuja existência ressaltou ao meu conhecimento através de uma notícia inserta na «Gazeta de Lisboa», onde consta que no dia 28 de Dezembro de 1828 o Corpo de Voluntários Realistas da Vila de Moura (comarca de Beja), em conjugação com a Câmara mandaram cantar um Te Deum na Igreja Matriz “em acção de Graças ao Todo Poderoso pelo grande benefício que a sua prodigiosa mão liberalizou á nação portugueza pelas completas melhoras de Sua Magestade”, tendo o padre Frei António de Moncarapacho nessa altura proferido um “elegante discurso”.(1)
Esta «acção de Graças pelas melhoras de Sua Magestade» respeita ao acidente que o Rei D. Miguel teve no dia 9 de Novembro de 1828, quando a galope num trem puxado por uma parelha de cavalos malhados caiu por uma ribanceira abaixo tendo uma das rodas passado por cima das pernas, de que resultou uma perigosa fractura. Diz-se que foi por esse facto que a partir de então os liberais, considerados como os principais inimigos do Trono e do Altar, passaram a ter o epíteto de "malhados". O país cobriu-se de pesar e de lamento pelo sucedido, a tal ponto que se fizeram novenas e promessas aos santos e oragos de maior devoção popular. A Igreja da Senhora da Rocha, na freguesia de Carnaxide, actual concelho de Oeiras, tinha fama de grandes milagres, razão pela qual o Rei com suas irmãs ali se dirigiu, em romaria popular. Diz-se que com fé e humildade implorou à Virgem uma cura rápida, o que de facto aconteceu. Por causa disso, o culto da S.ª da Rocha cresceu exponencialmente, tornando-se num símbolo do absolutismo. As modinhas do «Rei chegou» passaram a concluir-se na seguinte quadra:
Altar barroco de S.Francisco d'Assis
na Igreja de que é patrono em Faro.
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D. Miguel é bonito,
É bonito e bem feito.
Quebrou as pernas,
Ficou sem defeito.
No Algarve até 1834, quando o primeiro governo liberal, pela mão do ministro Joaquim António Aguiar – que por isso ganhou o epíteto de “mata-frades – promulgou a lei da extinção dos conventos e das ordens religiosas, existiam nesta região dezasseis conventos e casas religiosas da Ordem Franciscana. Já agora acrescento que se distribuíam do seguinte modo: dois eram de frades Claustrais, estabelecidos em Tavira e Loulé; três eram de frades Observantes, em Tavira, Faro e Lagoa; sete eram de frades da “Mais Estrita Observância”, que se dispersavam desde o Cabo de São Vicente até Tavira; dois eram conventos femininos, um de Santa Clara, em Faro, e outro de freiras Concepcionistas Franciscanas em Loulé; por fim, há que registar ainda dois conventos do terceiro ramo da Ordem Franciscana, em Silves e em Monchique, que se dedicavam à instrução feminina. Foi aliás deste último que vieram as religiosas que tomaram conta, já no séc. XX, do Colégio de St.º António do Alto, em Faro, que ainda existe.
Resta-me acrescentar que sobre o Frei António de Moncarapacho nada mais conheço. Presumo que como miguelista deve ter sido alvo de perseguições políticas após a Convenção de Évora Monte. Talvez tenha então recolhido à protecção de alguma família de posses, ficando ignorado numa qualquer herdade desse imenso Alentejo.
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(1) [«Gazeta de Lisboa», nº 2, de 2-1-1829, p. 8.]. ________________________
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