1539 – O rei D. João II, anuindo a um requerimento do povo de Tavira, proibiu os alcaides-mores de fazerem parte da governação daquela cidade, isto é da vereação ou de qualquer outro cargo autárquico. Determinava também que se elegessem dois representantes, dos mesteres (artesãos e comerciantes) ou dos mecânicos (mareantes, pescadores, oleiros, ferreiros, etc), para fazerem parte da vereação. O ojectivo era evitar a concentração do poder externo, dando representação às actividades económicas locais. Os produtores manuais e mecânicos representavam a burguesia tavirense, rivalizavam com os “ricos homens” ou “homens bons”, proprietários rurais e urbanos que desempenhavam normalmente a administração pública. O facto de serem sempre os mesmos, acabaria por dar origem à fidalguia dos concelhos, que era o nível mais baixo da nobreza.
Rótulo turístico, para colar nas malas de viagem, oferecido pelo Hotel Aliança, de Faro, aos seus clientes |
1653 – A Rainha D.ª Luísa de Gusmão fez mercê da alcaidaria-mor da vila do Alvor (antigo concelho extinto por Pombal e suprimido por Passos Manuel, em 1836), ao Conde de Odemira, D. Francisco de Faro (apelido e não naturalidade). O interesse desta alcaidaria estava nas suas pingues salinas, cuja produção se escoava em grande parte na transformação do pescado das armações do atum e das xávegas da sardinha. Estas salinas foram tão cobiçadas que chegaram às mãos dos Távoras, recaindo depois na posse da coroa, pelas razões sobejamente conhecidas.
1894 – Morre em Faro o Barão das Pontes de Marxil. Já escrevi detalhadamente sobre ele no meu livro sobre a «História do Teatro Lethes». Não obstante, deixo aqui alguns elementos biográficos.
Frontaria do Café Aliança, de Faro, estilo neo-clássico |
Quando o Ministro do Reino (primeiro-ministro nos tempos modernos) Fontes Pereira de Mello, visitou o Algarve em 1874, agraciou como de costume as figuras que mais se distinguiram no desenvolvimento local por acções de benemerência e filantropia. Um deles, Francisco Pedro da Silva Soares, construiu à sua custa uma pequena ponte férrea, na sua propriedade do Marxil, para dar passagem à linha do caminho-de-ferro. O benefício público justificou a outorga do título de Barão da Ponte de Marxil. Este Francisco Soares, nascido em Faro em 1830, dedicou-se ao comércio acumulando avultados meios de fortuna que distribuiu em acções de altruísmo, nomeadamente através da fundação do Asilo da Infância Desvalida de Nossa Senhora do Pé da Cruz, para o sexo feminino, e o já desaparecido Teatro 1º de Dezembro, que ficava ali na esquina da Rua Rebelo da Silva, onde está hoje uma sapataria, e esteve até há pouco tempo, no 1º andar, a sede da Companhia de Pescarias do Algarve. Além de comerciante foi também vereador da Câmara de Faro, e procurador à Junta Geral do Distrito. Quando em 1850 o Algarve sofreu uma seca severa, suscitando uma fome generalizada, como todos os flagelos que isso comporta, Francisco Soares instituiu a suas expensas um sopa dos pobres, que durou mais de um ano. Politicamente seguiu o Partido Regenerador, promovendo e patrocinando várias festas locais, nomeadamente a visita do grande Fontes Pereira de Mello ao Algarve.
Decoração interior do Café Aliança, com fotos e caricaturas de grandes vultos da cultura algarvia frequentadores do Café |
Teve distintos e notáveis descendentes, nomeadamente José Pedro da Silva, um dos impulsionadores do turismo na cidade de Faro, proprietário dos estabelecimentos «Aliança», café, mercearia e hotel (que depois tomos o nome de Hotel Faro). A sua neta, Maria Isabel Pacheco Soares, foi uma notável pianista e senhora de grande cultura, que muito enobreceu o Algarve. Para terminar, acrescento que os Barões da Ponte de Marxil estão sepultados, em túmulo perpétuo, no cemitério privado da Ordem do Carmo, em Faro. Também ali se encontra sepultada sua mãe, Clara Maria dos Anjos Soares, nascida a 10-1-1793, e falecida a 9-8-1877, e seu irmão, António Francisco da Silva Soares, falecido em 17-9-1889.
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