Não sou a pessoa certa para contar anedotas, mas não resisto à tentação de
revelar esta, que ouvi em Olhão há alguns anos, porque funciona como uma
anti-anedota, ou seja, não nos faz rir, mas antes reflectir sobre o carácter
dos portugueses. Então aqui vai, tão fiel quanto possível ao linguajar dos
"filhos d'Olhão":
Certo dia no cais de Olhão cruzaram-se dois pescadores locais, o mane
Carocho e o mane Luice ("mane" é o mesmo que mano, forma carinhosa
como se tratam os marítimos olhanenses).
O mane Luice (Lúcio) ia carregado com dois baldes, um em cada mão.
O mane Carocho, após lhe dar de vaia, reparou nos baldes, mas achou
estranho que um deles estivesse tampado, enquanto o outro estava destapado,
vendo-se claramente que trazia caranguejos.
Perante tão inusitada diferença, perguntou-lhe:
Ó mane Luice o que leva aí nos baldes?
Cangrejos móce...
Mas atão um dos baldes está tampado e o outro não, porquém?
É que no tampado levo cangrejos instrangeros, e no destapado levo cangrejos
portugueses...
Mau, nã percebo... atão não tens medo que os cangrejos portugueses fujam do
balde?
Eles bem tentam e até querem fugir... mas quando algum começa a subir os
outros puxam-no para baixo !!!
A moral desta anedota, é simples: os portugueses não se solidarizam uns com
os outros, e, pior ainda, têm inveja daqueles que pretendendo sair da
vulgaridade procuram subir na vida. Acontece que este comportamento de inveja
contra aqueles que se distinguem pelos seus méritos e talentos, tem causado
graves prejuízos no desenvolvimento do nosso povo, a todos os níveis e em todos
os sectores da vida pública.
Acresce dizer, em remate desta
anedota, que não foi por acaso que Camões terminou os Lusíadas com a palavra
inveja. E, na verdade, a inveja tem sido ao longo de séculos o pecado mortal da
nossa cultura, o fel em que se destila o carácter mesquinho dos portugueses. A
anedota de Olhão é um retrato bem elucidativo do espírito lusíada. E por isso
os olhanenses costumam dizer: a enveja mata móce...
Adorei a anedota...
ResponderEliminarObrigado, amigo Luís Tavares, pelo seu comentário. Volte sempre ao convívio deste blogue.
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