terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Um herói ignorado das lutas liberais no Algarve.

Faz hoje, 17 de Janeiro de 2016, precisamente 128 anos que faleceu em Silves, com 78 anos de idade, João Gregório de Figueiredo Mascarenhas, uma figura heróica e muito popular no Algarve, durante o conturbado período das Lutas Liberais.
Silves, ruínas do castelo, cerca de 1890
Nasceu a 24-06-1812 em S. Bartolomeu de Messines, e faleceu em Silves a 17-1-1889. Era filho do major José Gregório de Figueiredo Mascarenhas, um respeitado proprietário local, casado com D. Catarina Jacintha Duarte Machado Guerreiro, também originária da fidalguia fundiária, com bens de nomeada no concelho de Silves. Descendia de um casal muito respeitado na ald
eia de São Bartolomeu de Messines, uma das mais prósperas e economicamente das mais poderosas do termo de Silves.
João Gregório Figueiredo Mascarenhas desde jovem que se tornou famoso pela sua destreza na caça, batendo toda a serra algarvia, desde as cordilheiras do Espinhaço de Cão e Monchique e até quase ao cume do Caldeirão. Nas suas batidas de caça por essas serranias agrestes do Algarve e Alentejo, era certo e sabido que voltava a casa com um carro de javalis, lebres, coelhos e corças. Conhecia os recônditos mais escabrosos da serra algarvia, e como ele não havia outro que se igualasse no manejo das armas de fogo.
Desenho de Silves, com a rua do castelo no séc. XIX
O conhecimento da serra e a destreza nas armas foram decisivos quando em 1833, incorporado no batalhão móvel de Lagos, seguia em expedição ao Alentejo para combater as guerrilhas miguelistas que assolavam as aldeias, montes e casais desde São Marcos até Ourique. No sítio do Valle da Mata, as guerrilhas montaram uma cilada com tal sucesso que conseguiram aprisionar o coronel Custódio Pires Bandeira, assim como todos os soldados que seguiam na frente do batalhão móvel de Lagos. Felizmente o João Figueiredo Mascarenhas seguia nesse momento na retaguarda e por isso conseguiu escapar juntamente com alguns camaradas de armas, que seguindo-lhe os passos lograram alcançar o sítio da Amorosa, onde se fizeram fortes, conseguindo rechaçar as guerrilhas que seguiam na sua peugada. Conhecedor do terreno conseguiu conduzir os seus homens pelos caminhos acidentados da serra algarvia, escapando incólumes à sanha impiedosa das guerrilhas, até chegar à cidade de Silves. Mas não se sentindo seguro rumou para Vila Nova de Portimão, onde dias depois teve de enfrentar o grosso das forças miguelistas. O ataque a Portimão foi uma das páginas mais heróicas das lutas civis no Algarve. As forças liberais, mal equipadas e em menor número do que as guerrilhas do Remechido, quase soçobraram ao cerco miguelista, não fosse, entre outros o heroísmo de João Gregório Figueiredo Mascarenhas, que numa posição arriscada conseguiu suster as investidas das forças inimigas. Porém, num dos ataques as guerrilhas vararam impiedosamente a sua posição de resistência, ferindo-o gravemente. O jovem Figueiredo Mascarenhas foi recolhido ao hospital onde recuperou a vida, mas não a capacidade para voltar ao efectivo, encontrando-se em convalescença quando foi assinada a Convenção de Evoramonte.
Panorâmica da cidade de Silves nos inícios do séc.XX
Após a guerra-civil retirou-se para a sua aldeia natal, onde se casou com D. Maria Mascarenhas Neto de Figueiredo, de quem teve dois filhos: Maria Elisa de Figueiredo Mascarenhas e José Gregório de Figueiredo Mascarenhas. Reassumindo os negócios e interesses de família, teve uma vida próspera, mantendo sempre a sua lhaneza de trato sem perder a postura fidalga nem os seus ideais de tolerância e de liberalidade. Repartiu a vida e os negócios entre a aldeia de Messines e a cidade de Silves, onde o seu heroísmo durante as lutas liberais seria sempre lembrado para exemplo das gerações futuras. O principal beneficiado do seu prestígio popular seria o filho, José Gregório de Figueiredo Mascarenhas, que viria a ser também um militar e político de grande notoriedade.

Sem comentários:

Enviar um comentário