J. C. Vilhena Mesquita
Reputado activista sindical e lutador antifascista, Filipe Viegas Aleixo foi também um conceituado publicista e grande estudioso das modernas correntes filosóficas. Era familiar do poeta António Aleixo e do Dr. Vítor Aleixo, que foi presidente da Câmara Municipal de Loulé.
Originário de uma família burguesa de largas posses económicas, nasceu em Loulé a 22-8-1915 e faleceu na mesma cidade a 10-08-2000, mas nos estudos, não foi além da instrução primária. Ainda jovem ficou órfão de pai, tornando-se administrador dos bens familiares. O gosto pela leitura fê-lo admirador das correntes democráticas, e não raras vezes tornava públicas as suas discordâncias políticas, denunciando as desigualdades sociais que então minavam a sociedade portuguesa. Por isso foi preso em 1943 pela PIDE, que sem julgamento o deixou encarcerado até 1945. Empregou-se em 1948 na SECIL mas para fugir à PIDE emigrou em 1953 para São Paulo, no Brasil, onde participou activamente no Movimento Portugal Democrático até 1955. Nesse ano partiu para El Tigre, na Venezuela, onde acabava de ser deposto o ditador Perez Gimenez, inscrevendo-se então na Junta Patriótica Portuguesa de Caracas. Nos anos do pós-guerra pensava-se que as autocracias e o colonialismo tinham os dias contados. Salazar e Portugal eram um dos principais alvos a abater. E quando em 1959 o capitão Henrique Galvão - um dos grandes colonialistas portugueses convertido em democrata - se refugiou na Venezuela começou a preparar uma manobra política que atraísse a atenção do mundo. Decidiu-se por uma acção de pirataria marítima e aproveitando a atracagem do navio «Santa Maria», organizou o seu assalto recrutando um grupo de vinte e um improvisados operacionais. Um deles foi precisamente Filipe Viegas Aleixo, que na noite de 21 para 22 de Janeiro de 1961 tomaram o comando do navio, numa mediática acção política que abalou a “paz podre” do salazarismo e abriu caminho à revolta armada nas colónias africanas.
Terminada a aventura do «Santa Maria» aportou no Brasil, como exilado político, mas em 1964 já está em França ao lado de Palma Inácio para tentar entrar em Portugal, mas é preso por influência da PIDE em Grenoble. Felizmente foi libertado a pedido dos movimentos democráticos que apoiavam os activistas portugueses no exílio. Mas em 1968 entrou clandestinamente em Portugal, sendo detido logo em Agosto na vila de Moncorvo e remetido para o Porto, onde viu reconfirmada a pena de prisão que lhe fora atribuída pela acção contra o «Santa Maria». Transferido para o forte de Peniche aí permaneceu até ao «25 de Abril», altura em que viu finalmente ser-lhe restituída a tão almejada liberdade, desiderato de quase uma vida dedicada à conquista dos altos valores democráticos. Voltou então para Loulé onde foi integrado nos quadros efectivos do município, dedicando-se à actividade sindical até 1985, data da sua aposentação. Em reconhecimento do seu esforço pelas liberdades individuais e colectivas foi agraciado, em 28-5-1998, pela edilidade louletana com a Medalha de Mérito Municipal Grau Prata. No ano 2000, mais precisamente em Março, e ainda na plenitude das suas faculdades intelectuais, mandou editar o livro Lições de Filosofia: dos mais variados ramos da actividade humana à luz da ciência, no qual compilou um conjunto de textos relativos aos mais diversos problemas socioculturais que afligiram a humanidade neste século. A forma desinibida e quase “naive” como interpreta os conceitos filosóficos ou como encara as ideologias modernas, conferem a este livro não só um carácter muito particular como ainda uma leitura bastante invulgar. Nesse mesmo ano de 2000, mandou também às suas expensas editar aquele que foi o seu derradeiro livro intitulado As crianças são a razão da vida e a alma do conhecimento humano, dirigido à formação moral e intelectual dos mais jovens
A sua adiantada idade e precário estado de saúde forçou o seu recolhimento a um lar de idosos onde pouco depois viria a falecer. Acima de tudo, Filipe Viegas Aleixo deve ser lembrado pelas gerações vindouras como um revolucionário anti-fascista, cuja vida de sacrifício e de permanente combate pela liberdade, dava certamente para escrever um verdadeiro romance.
Reputado activista sindical e lutador antifascista, Filipe Viegas Aleixo foi também um conceituado publicista e grande estudioso das modernas correntes filosóficas. Era familiar do poeta António Aleixo e do Dr. Vítor Aleixo, que foi presidente da Câmara Municipal de Loulé.
Originário de uma família burguesa de largas posses económicas, nasceu em Loulé a 22-8-1915 e faleceu na mesma cidade a 10-08-2000, mas nos estudos, não foi além da instrução primária. Ainda jovem ficou órfão de pai, tornando-se administrador dos bens familiares. O gosto pela leitura fê-lo admirador das correntes democráticas, e não raras vezes tornava públicas as suas discordâncias políticas, denunciando as desigualdades sociais que então minavam a sociedade portuguesa. Por isso foi preso em 1943 pela PIDE, que sem julgamento o deixou encarcerado até 1945. Empregou-se em 1948 na SECIL mas para fugir à PIDE emigrou em 1953 para São Paulo, no Brasil, onde participou activamente no Movimento Portugal Democrático até 1955. Nesse ano partiu para El Tigre, na Venezuela, onde acabava de ser deposto o ditador Perez Gimenez, inscrevendo-se então na Junta Patriótica Portuguesa de Caracas. Nos anos do pós-guerra pensava-se que as autocracias e o colonialismo tinham os dias contados. Salazar e Portugal eram um dos principais alvos a abater. E quando em 1959 o capitão Henrique Galvão - um dos grandes colonialistas portugueses convertido em democrata - se refugiou na Venezuela começou a preparar uma manobra política que atraísse a atenção do mundo. Decidiu-se por uma acção de pirataria marítima e aproveitando a atracagem do navio «Santa Maria», organizou o seu assalto recrutando um grupo de vinte e um improvisados operacionais. Um deles foi precisamente Filipe Viegas Aleixo, que na noite de 21 para 22 de Janeiro de 1961 tomaram o comando do navio, numa mediática acção política que abalou a “paz podre” do salazarismo e abriu caminho à revolta armada nas colónias africanas.
Terminada a aventura do «Santa Maria» aportou no Brasil, como exilado político, mas em 1964 já está em França ao lado de Palma Inácio para tentar entrar em Portugal, mas é preso por influência da PIDE em Grenoble. Felizmente foi libertado a pedido dos movimentos democráticos que apoiavam os activistas portugueses no exílio. Mas em 1968 entrou clandestinamente em Portugal, sendo detido logo em Agosto na vila de Moncorvo e remetido para o Porto, onde viu reconfirmada a pena de prisão que lhe fora atribuída pela acção contra o «Santa Maria». Transferido para o forte de Peniche aí permaneceu até ao «25 de Abril», altura em que viu finalmente ser-lhe restituída a tão almejada liberdade, desiderato de quase uma vida dedicada à conquista dos altos valores democráticos. Voltou então para Loulé onde foi integrado nos quadros efectivos do município, dedicando-se à actividade sindical até 1985, data da sua aposentação. Em reconhecimento do seu esforço pelas liberdades individuais e colectivas foi agraciado, em 28-5-1998, pela edilidade louletana com a Medalha de Mérito Municipal Grau Prata. No ano 2000, mais precisamente em Março, e ainda na plenitude das suas faculdades intelectuais, mandou editar o livro Lições de Filosofia: dos mais variados ramos da actividade humana à luz da ciência, no qual compilou um conjunto de textos relativos aos mais diversos problemas socioculturais que afligiram a humanidade neste século. A forma desinibida e quase “naive” como interpreta os conceitos filosóficos ou como encara as ideologias modernas, conferem a este livro não só um carácter muito particular como ainda uma leitura bastante invulgar. Nesse mesmo ano de 2000, mandou também às suas expensas editar aquele que foi o seu derradeiro livro intitulado As crianças são a razão da vida e a alma do conhecimento humano, dirigido à formação moral e intelectual dos mais jovens
A sua adiantada idade e precário estado de saúde forçou o seu recolhimento a um lar de idosos onde pouco depois viria a falecer. Acima de tudo, Filipe Viegas Aleixo deve ser lembrado pelas gerações vindouras como um revolucionário anti-fascista, cuja vida de sacrifício e de permanente combate pela liberdade, dava certamente para escrever um verdadeiro romance.
Encalhei no blogue por recomendação de amigo....e, azar meu, logo neste post.
ResponderEliminarNem uma palavra sobre o homem do leme do Santa Maria que caiu ás balas deste facínora.
Desconhecimento ou má fé do historiador .
Peço desculpa, não foi má fé, mas tão só desconhecimento. Não sabia que o Filipe Aleixo tinha assassinado alguém no assalto ao Santa Maria. Seria um bom contributo para o esclarecimento da verdade e para o aclarar da História se escrevesse neste blogue um comentário desvelando o caso. Prometo que será publicado. Peço-lhe, porém, que o assine para que não fique anónimo.
ResponderEliminarCumprimentos do Vilhena Mesquita
medalhas de prata para assassinos?
ResponderEliminartinha dois objectivos claros :
destruir Salazar e destruir Portugal
conclusão : mais um traidor golpista da pátria
Próprio de cobardes fascistas agirem sobre anonimato. Efectivamente durante o assalto ao Santa Cruz em troca de tiros durante o assalto houve um morto e um ferido entre a tripulação do navio. E, lógico, não tendo sido os disparos premeditados mas sim de defesa não se soube quem disparou os tiros que deram origem à morte do oficial do navio. De notar que por parte do grupo revolucionário houve o cuidado de transportar o mais rápido possível o ferido a um porto para receber tratamento médico.
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. Conheci pessoalmente o Filipe Viegas Aleixo e sempre me pareceu uma pessoa cordata, incapaz de assassinar um ser humano. Sempre soube que durante o assalto ao Santa Maria houve baixas colaterais, nomeadamente um morto, mas nunca se soube ao certo quem foi o autor dos disparos. Por isso, estranhei que no primeiro comentário se tivesse acusado o Filipe Aleixo de ser o autor dos disparos. As pessoas gostam de comentar os meus artigos, mas nem sempre o fazem de maneira correcta. Mais uma vez os meus agradecimentos ao «Tia Anica de Loulé» pela sua intervenção.
ResponderEliminarApesar deste post já ser um pouco antigo não posso deixar escapar a minha revolta pelos dois comentários anónimos que li. Filipe Viegas Aleixo era o meu avô e como tal acho insultuoso alguém ter-lhe chamado facínora e traidor! Realmente só pessoas sem carácter, falta de educação e instrução podem fazer comentários como aqueles! Foi um lutador toda a sua vida. Temos no mínimo que estar gratos a ele e não só, por ter arriscado tudo o que tinha para defender o seu ideal, que era fazer de Portugal um país melhor! sempre me foi ensinado pela minha família que não podemos falar de uma coisa sem sabermos o suficiente, e o que essa pessoa fez foi isso, não tendo coragem suficiente para assinar com o seu próprio nome.
ResponderEliminarMuito obrigada ao Senhor José Carlos Vilhena Mesquita por ter despendido o seu tempo e ter dado a conhecer o meu avô.