J. C. Vilhena Mesquita
Engenheiro mecânico e romancista, João Carlos Telo Baptista de Abreu Pimenta, de seu nome completo, que usava o pseudónimo literário de Carlos Abreu. Nasceu em 1926, na freguesia de São Sebastião, concelho de Lagos, no seio de uma abastada família da burguesia industrial, muito conceituada no Algarve, e faleceu em Outubro de 1999.
Fez os estudos secundários no Colégio Infante Sagres, em Lisboa, ingressando depois na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde concluiria, em 1951, com distinção a licenciatura em engenharia mecânica. Exerceu o seu múnus profissional em reputadas empresas de âmbito internacional sediadas em Lisboa e em Paris. Foi ao serviço das mesmas que percorreu a África e América Latina, numa odisseia mercantil que lhe permitiu conhecer diferentes culturas e adquirir impensáveis experiências de vida.
Em meados dos anos oitenta, retornou à terra-mãe após o que decidiu concentrar o melhor da sua atenção e do seu esforço na actividade cultural, nomeadamente na criação literária, tornando-se a escrita numa espécie de companheira fiel nos rebates de saudade das suas viagens e dos tempos felizes da sua juventude. Muitos desses momentos e dessas recordações materializou-as em belos quadros literários de um forte e expressivo realismo. Carlos Abreu revelou-se tardiamente como literato. Porém, depressa se tornou num valor seguro da cultura algarvia.
Como colaborador da imprensa algarvia estreou-se, em 1983, nas colunas do «Farol do Sul», passando pois pelas revistas «Nova Costa d’Oiro» e «Cadernos Históricos», e terminando no «Jornal de Lagos». Todos esses órgãos estavam sediados na sua terra-natal. Essa sua desinteressada colaboração na imprensa incidia geralmente em aspectos literários, muito particularmente na publicação de contos e de crónicas de belo recorte estilístico, a maioria das quais inspiradas nos actuais moldes da literatura britânica. Nessas crónicas revelava uma invejável cultura cosmopolita, estribada no conhecimento de diversas línguas e civilizações, nas suas experiências sociais e sobretudo nas viagens que realizou pelos quatro cantos do globo.
Os seus contos evidenciavam uma rara beleza estilística e uma grande versatilidade na construção do discurso literário. Já próximo do fim da vida dedicava-se aos estudos históricos regionais, sobretudo os que respeitassem à Náutica dos Descobrimentos. Não o fazia com grandes pretensões científicas, mas tão só pela simples curiosidade de saber mais sobre o glorioso passado da sua terra-natal. Por outro lado, Carlos Abreu era um inveterado apreciador das coisas marítimas e também um velejador que percorria a costa algarvia com a curiosidade de perscrutar os sentidos dos velhos argonautas seus antepassados.
Como intelectual e escritor foi membro de plenos direitos da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores e da Associação dos Jornalistas e Escritores do Algarve. Foi também Presidente da Direcção dos Estudos Marítimos de Lagos e vice-presidente da Academia de Música de Lagos, tendo igualmente pertencido aos corpos directivos do Círculo Cultural Teixeira Gomes e do Centro de Estudos Gil Eanes.
Quem teve o privilégio de privar com o Eng.º João Pimenta ou o escritor Carlos Abreu, sabe o quanto era estimado na sua cidade de Lagos, não só pela sua estampa de “cavalheiro britânico” como sobretudo pelas qualidades intelectuais e bonomia de carácter. Tinha amigos em todos os quadrantes sociais e à sua volta havia sempre quem o escutasse com atenção, admirando a forma como se exprimia, num tom sereno, baixo e pausado, próprio de um homem fino e educado. Pouco tempo antes de falecer tínhamos estado juntos no Centro Cultural de Lagos, onde fiz a apresentação do livro de Vieira Calado, Transparências, no fim da qual falamos dos seus projectos futuros, nomeadamente da preparação de um romance que tinha em mãos. A seu lado estava o também nosso comum amigo José Paula Borba e entre as suas preocupações recordo-me que destacava a centenária Sociedade Filarmónica com a sua notável escola de música, e a Misericórdia de Lagos a cuja benemerência não regateava elogios. A sua esposa, senhora de invejável beleza, segundo creio de origem britânica, subscrevia-lhe as preocupações, sobretudo na “cruzada” da música, cujo ensino entendia de fulcral importância na formação da juventude. Era um casal raro na nossa pequenina e por vezes tão provinciana sociedade.
Apesar de tudo, parecia estar bem de saúde e com vontade de prosseguir os seus projectos literários. Porém uma arreliadora insuficiência respiratória mantinha-o em tratamento médico, creio que em Coimbra e no Porto, onde se deslocava amiudadas vezes também para se actualizar junto das tertúlias literárias que o recebiam com agrado e satisfação. O seu porte elegante e cavalheiresco, o cachimbo inglês e os cigarros Gauloise, conferiam-lhe um semblante especial, a imagem de homem de outro pensar e de outros mundos. Verdadeiramente singular, Carlos Abreu era um estrangeirado, herdeiro da nobre cepa lacobrigense. Da sua estirpe havia poucos no Algarve e nesse alfobre de intelectuais, que é e sempre foi a cidade de Lagos, fica agora uma vaga insubstituível e uma profunda saudade.
A vida de Carlos Abreu foi uma odisseia pelo mundo fora, sobretudo em África e na América Latina, onde trabalhou como engenheiro mecânico na reparação naval ao serviço de uma empresa multinacional sediada em Paris. Dessa vivência e da sua intrínseca apetência para a escrita nasceram os seus romances Concurso Internacional, 1987; Em Busca de Ilusões, 1989; e Tolentino Venâncio, grande industrial, 1998, para além de dois livros de crónicas intitulados Gentes de Lagos, 1994 e Lagos, um certo tempo – Crónicas e reflexões, 1998.
Pouco tempo antes de falecer confidenciou-me que tinha prontos a entrar no prelo um romance intitulado «O Pescador de Sagres» e uma peça de teatro em três actos, «A Casa de Yolanda», cujos originais deverão permanecer em posse dos herdeiros. Projectava também dar a público uma compilação das suas melhores crónicas publicadas nos órgãos regionais acima referidos.
Engenheiro mecânico e romancista, João Carlos Telo Baptista de Abreu Pimenta, de seu nome completo, que usava o pseudónimo literário de Carlos Abreu. Nasceu em 1926, na freguesia de São Sebastião, concelho de Lagos, no seio de uma abastada família da burguesia industrial, muito conceituada no Algarve, e faleceu em Outubro de 1999.
Fez os estudos secundários no Colégio Infante Sagres, em Lisboa, ingressando depois na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde concluiria, em 1951, com distinção a licenciatura em engenharia mecânica. Exerceu o seu múnus profissional em reputadas empresas de âmbito internacional sediadas em Lisboa e em Paris. Foi ao serviço das mesmas que percorreu a África e América Latina, numa odisseia mercantil que lhe permitiu conhecer diferentes culturas e adquirir impensáveis experiências de vida.
Em meados dos anos oitenta, retornou à terra-mãe após o que decidiu concentrar o melhor da sua atenção e do seu esforço na actividade cultural, nomeadamente na criação literária, tornando-se a escrita numa espécie de companheira fiel nos rebates de saudade das suas viagens e dos tempos felizes da sua juventude. Muitos desses momentos e dessas recordações materializou-as em belos quadros literários de um forte e expressivo realismo. Carlos Abreu revelou-se tardiamente como literato. Porém, depressa se tornou num valor seguro da cultura algarvia.
Como colaborador da imprensa algarvia estreou-se, em 1983, nas colunas do «Farol do Sul», passando pois pelas revistas «Nova Costa d’Oiro» e «Cadernos Históricos», e terminando no «Jornal de Lagos». Todos esses órgãos estavam sediados na sua terra-natal. Essa sua desinteressada colaboração na imprensa incidia geralmente em aspectos literários, muito particularmente na publicação de contos e de crónicas de belo recorte estilístico, a maioria das quais inspiradas nos actuais moldes da literatura britânica. Nessas crónicas revelava uma invejável cultura cosmopolita, estribada no conhecimento de diversas línguas e civilizações, nas suas experiências sociais e sobretudo nas viagens que realizou pelos quatro cantos do globo.
Os seus contos evidenciavam uma rara beleza estilística e uma grande versatilidade na construção do discurso literário. Já próximo do fim da vida dedicava-se aos estudos históricos regionais, sobretudo os que respeitassem à Náutica dos Descobrimentos. Não o fazia com grandes pretensões científicas, mas tão só pela simples curiosidade de saber mais sobre o glorioso passado da sua terra-natal. Por outro lado, Carlos Abreu era um inveterado apreciador das coisas marítimas e também um velejador que percorria a costa algarvia com a curiosidade de perscrutar os sentidos dos velhos argonautas seus antepassados.
Como intelectual e escritor foi membro de plenos direitos da Associação Portuguesa de Escritores, da Sociedade Portuguesa de Autores e da Associação dos Jornalistas e Escritores do Algarve. Foi também Presidente da Direcção dos Estudos Marítimos de Lagos e vice-presidente da Academia de Música de Lagos, tendo igualmente pertencido aos corpos directivos do Círculo Cultural Teixeira Gomes e do Centro de Estudos Gil Eanes.
Quem teve o privilégio de privar com o Eng.º João Pimenta ou o escritor Carlos Abreu, sabe o quanto era estimado na sua cidade de Lagos, não só pela sua estampa de “cavalheiro britânico” como sobretudo pelas qualidades intelectuais e bonomia de carácter. Tinha amigos em todos os quadrantes sociais e à sua volta havia sempre quem o escutasse com atenção, admirando a forma como se exprimia, num tom sereno, baixo e pausado, próprio de um homem fino e educado. Pouco tempo antes de falecer tínhamos estado juntos no Centro Cultural de Lagos, onde fiz a apresentação do livro de Vieira Calado, Transparências, no fim da qual falamos dos seus projectos futuros, nomeadamente da preparação de um romance que tinha em mãos. A seu lado estava o também nosso comum amigo José Paula Borba e entre as suas preocupações recordo-me que destacava a centenária Sociedade Filarmónica com a sua notável escola de música, e a Misericórdia de Lagos a cuja benemerência não regateava elogios. A sua esposa, senhora de invejável beleza, segundo creio de origem britânica, subscrevia-lhe as preocupações, sobretudo na “cruzada” da música, cujo ensino entendia de fulcral importância na formação da juventude. Era um casal raro na nossa pequenina e por vezes tão provinciana sociedade.
Apesar de tudo, parecia estar bem de saúde e com vontade de prosseguir os seus projectos literários. Porém uma arreliadora insuficiência respiratória mantinha-o em tratamento médico, creio que em Coimbra e no Porto, onde se deslocava amiudadas vezes também para se actualizar junto das tertúlias literárias que o recebiam com agrado e satisfação. O seu porte elegante e cavalheiresco, o cachimbo inglês e os cigarros Gauloise, conferiam-lhe um semblante especial, a imagem de homem de outro pensar e de outros mundos. Verdadeiramente singular, Carlos Abreu era um estrangeirado, herdeiro da nobre cepa lacobrigense. Da sua estirpe havia poucos no Algarve e nesse alfobre de intelectuais, que é e sempre foi a cidade de Lagos, fica agora uma vaga insubstituível e uma profunda saudade.
A vida de Carlos Abreu foi uma odisseia pelo mundo fora, sobretudo em África e na América Latina, onde trabalhou como engenheiro mecânico na reparação naval ao serviço de uma empresa multinacional sediada em Paris. Dessa vivência e da sua intrínseca apetência para a escrita nasceram os seus romances Concurso Internacional, 1987; Em Busca de Ilusões, 1989; e Tolentino Venâncio, grande industrial, 1998, para além de dois livros de crónicas intitulados Gentes de Lagos, 1994 e Lagos, um certo tempo – Crónicas e reflexões, 1998.
Pouco tempo antes de falecer confidenciou-me que tinha prontos a entrar no prelo um romance intitulado «O Pescador de Sagres» e uma peça de teatro em três actos, «A Casa de Yolanda», cujos originais deverão permanecer em posse dos herdeiros. Projectava também dar a público uma compilação das suas melhores crónicas publicadas nos órgãos regionais acima referidos.
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