Poetisa e jornalista, Maria da Conceição de Sousa Elói
nasceu em Paderne, freguesia do concelho de Albufeira, a 31-8-1898, e faleceu
em Faro a 7-12-1979.
Desde criança, nos bancos da escola primária, que revelava
aptidões para a poesia, escrevendo versos dedicados aos colegas e professores.
Não tendo podido ir mais além nos estudos, conseguiu aumentar a sua educação
através da leitura de autores clássicos e de algumas lições de francês e de
piano, adquiridas na convivência com as famílias mais ilustradas de Paderne.
A vontade de auxiliar os pobres e de comunicar à sociedade a
urgente necessidade de ajudar os mais desfavorecidos, levou-a editar, em Março
de 1921, um jornal manuscrito inocentemente intitulado "a Avezinha",
tendo como redactoras principais quatro meninas, e todas Marias, cujo coração
transbordava de altruísmo e de amor pelo próximo. As quatro Marias, subscreviam
os seus artigos e poesias, na pueril inocência das suas idades, com o
pseudónimo de flores. Assim, além da Maria Conceição Elói, que assinava como
Madressilva, colaboravam também a Maria Feliciana Marim Marques, como Violeta,
a Maria da Conceição Mendes Costa Biker, como Rosa, e a Maria do Espírito
Santo, como Hortênsia. Seguiu-lhes o exemplo, a ilustre Maria Francisca Arez
Frias, que assinava os seus preciosos artigos com o pseudónimo de Gardénia.
Ignoro, infelizmente, a identidade daquelas que assinavam com os criptónimos de
Bonina, Urze, Assucena, Margarida, Camélia, Tília, etc. Pode mesmo dizer-se,
que naquele pueril “jardim” despontou uma espécie de escola de jornalismo
feminino.
Inspiravam-se as cândidas redactoras no culto da natureza,
na bondade e na fraternidade, a tal ponto que parece estar na sua génese a
intenção de angariar esmolas para uma velhinha que se encontrava cega, o que só
se poderia fazer estendendo a triste notícia a todos os amigos padernenses
espalhados pelo Algarve. A designação do jornal, algo infantil, demonstra a
inocência das suas fundadoras, que julgando-se pobres criaturas indefesas e
perdidas nos montes do barrocal, longe dos centros culturais e das grandes
cidades, procuravam através do voo da sua “Avezinha” transmitir a todos os seus
conterrâneos uma mensagem de amor e fraternidade, consentânea com o espírito
cristão que a todas irmanava.
Depois da fase manuscrita, em que o jornalinho passava de
mão em mão, com redobrados carinhos, o padre João Santos Silva, reconhecendo o
esforço daquelas jovens e a utilidade daquele arauto da benemerência e da
bondade, conseguiu que a diocese o aceitasse como boletim paroquial. Assim, em
17-7-1921, e sem quaisquer encargos para os seus fundadores, passou a editar-se
em letra de forma, na tipografia União em Faro, aumentando o seu auditório e os
seus horizontes de comunicação.
Tornou-se, deste modo, no primeiro jornal do povo de
Paderne. E durante quinze anos foi cumprindo os seus objectivos, humanitários e
culturais, até que a emigração para o Brasil da Maria Feliciana, e a morte do
padre João dos Santos Silva, suscitaram em 28-12-1939 a mudança da sede do
jornal para Faro, onde sobreviveu até à edição n.º 331 datada de 17-10-1953.
Nesse período «a Avezinha» foi dirigida pelo padre Dr. Sesinando Oliveira Rosa,
tendo estranhamente como proprietário do título o Padre José Gomes da
Encarnação bondosíssima figura do presbitério diocesano. O apoio das suas
fundadoras e dos seus beneméritos colaboradores foi esmorecendo até que se
extinguiu.
Maria da Conceição Elói teve, felizmente, a alegria que ver
ressurgir em Maio de 1977, a sua «Avezinha», pela mão de Arménio Aleluia
Martins, seu dedicado amigo e admirador, que ainda tentou entregar-lhe o lugar
de Directora que, modestamente, declinou. Continuou, porém, a colaborar até
quase aos derradeiros dias da sua vida.
O talento, sobretudo poético, de Maria da Conceição Elói
revelar-se-ia noutras colunas da comunicação social algarvia, nomeadamente na
«Folha do Domingo» e «Correio do Sul» (ambos de Faro), no «Povo Algarvio» (de
Tavira), na «Folha de Alte» (Loulé), nas revistas «Portugal Feminino» e
«Almanaque de Santo António» (ambas de Lisboa) e em mais duas outras que se
editavam no Brasil.
Consciente do seu valor, mas também desejosa de poder
aferi-lo, concorreu a variadíssimos Jogos Florais, realizados tanto no Algarve
como no resto do País, nomeadamente em Lisboa, Évora, Caldas da Rainha, Porto,
Cascais. Desse modo obteve dezenas de prémios, entre 1ºs e 2°s lugares, assim
como centenas de menções honrosas. Recebeu o último galardão em Lisboa, num
concurso promovido pela revista «Mundo Rural», onde classificou em 2° lugar um
dos seus contos. Ficou muito sensibilizada com o prémio atribuído e por isso
decidiu ir a Lisboa, que foi dos raros actos públicos a que compareceu, pois o
seu espírito modesto e simples não se compaginava com honrarias públicas.
Exerceu uma fecunda actividade literária durante quase
setenta anos, escrevendo em verso todos os géneros de poesia, e em prosa
redigiu belos contos literários e inúmeras crónicas jornalísticas. Como poetisa
possuía especial apetência para a composição de sonetos.
No primeiro aniversário da sua morte o povo de Paderne
homenageou-a com a colocação de uma lápida na casa onde nasceu, no sítio dos
Montes Elóis, e uma placa evocativa junto do seu túmulo no cemitério local.
Também lhe atribuiu o nome a uma das ruas da sua amada terra-natal.
Maria da Conceição Elói, na velhice |
Em homenagem à sua obra poética, o Racal Clube de Silves
escolheu-a para patrona dos VI Jogos Florais do Algarve, com a particularidade
de ter sido a primeira mulher a receber essa distinção.
O jornal «a Avezinha», prestou-lhe, porém, a mais profunda e
merecida homenagem de todas as que se haviam realizado, quando o seu director,
Arménio Aleluia Martins, decidiu realizar o maior dos sonhos que a pobre
poetisa nunca concretizou em vida - a publicação em livro dos seus versos. O
título já ela o havia escolhido quando confidenciou à sua dilecta amiga
Joselina: “Mal acordei esta manhã, passou-me pela mente, este pensamento com a
rapidez de um relâmpago – se um dia publicasse um livro, gostaria que lhe
pusessem: «Ecos da Minha Voz»...” Com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de
Albufeira o livro saiu a público em Janeiro de 1983, com o título de Ecos da
Minha Voz, cumprindo-se a vontade da sua autora.
Acima de tudo Maria da Conceição Elói era uma mulher
simples, alegre, afectuosa e expansiva. Tinha uma débil compleição física, era
pequena e frágil, mas possuía um coração de ouro, uma alma de bondade e
carinho, uma rara grandeza de espírito para uma mulher do campo, desprendida de
vaidades e honrarias, que as mereceu, mas só as teve depois de morta.
Na sua lápide funerária incrustaram, em jeito de homenagem,
este belo poema da sua autoria:
ANOITECEU...
Minha "irmã morte", quando tu chegares
Não tentes desviar o meu destino,
Nunca gostei de coisas singulares,
É tudo em mim, humilde e pequenino.
É tudo em mim, suave e cristalino,
Sem loucas alegrias, vãos pesares,
Eu canto a vida, como a voz do sino
Vai espalhando sons por esses ares...
Como regressa ao ninho uma andorinha
Ao pressentir que a noite se avizinha,
E para repousar ali desceu,
Numa campa rasa ó minha "irmã morte!"
Quisera um epitáfio desta sorte:
"Minha aldeia, voltei! Anoiteceu"...
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