Numa notícia publicada na imprensa local, ficamos a saber que no final do ano lectivo de 1932, realizou-se um almoço de confraternização dos professores do Liceu de Faro, servido na cantina daquele estabelecimento de ensino. Do elenco docente constavam as seguintes personalidades:
Dulce de Freitas; Ofelia Azinheira; Donatila Baptista; José Monteiro Simões; António de Sousa Agostinho Júnior; Armando Cassiano; Jorge Silv
io Pélico d’Oliveira Neto; David Pacheco; Aleixo da Cunha; Sousa Bazílio; Cruz Malpique; António Rebelo Neves; Silva Pera; Manuel Alexandre; Francisco Fernandes Lopes; António dos Ramos Bentes; tenente-coronel José Guerreiro Fogaça; José Rebelo Neves; Vidal Belmarço; Ricardo Bensaúde; José de Sousa Gago.Faltou por indisposição momentânea o Reitor, Dr. José Júlio Rodrigues, que só apareceu no fim do almoço, e faltou por doença o Dr. Silveira Ramos.
Para quem viveu nessa época, e felizmente ainda hoje contacta com a sociedade mais culta da cidade de Faro, ou para aqueles que conhecem minimamente a história da cultura algarvia, fácil se torna afirmar, e concluir, que no Liceu de Faro exerciam o múnus da docência uma verdadeira elite intelectual, que hoje facilmente se constituiria num escol científico do mais elevado nível universitário.
Os destaques deixámo-los para os que nos queiram interpelar sobre o assunto.
Ao ler este "post" fiquei um pouco perplexo...o Mundo é grande...mas é esférico!
ResponderEliminarIsto porquê?
O reitor do Liceu de Leiria, onde fiz exames...chamava-se José Júlio. Terá ele transitado entre...Faro e Leiria?
Há um outro professor ...Agostinho.
Tive um colega em Coimbra...Geógrafo chamado Agostinho e que foi para Faro...donde era.
Será familiar?
Ando a ver filmes de mais...deve ser isso.
Um abraço.
Prezado Amigo:
ResponderEliminarpara lhe poder responder com absoluta certeza precisava que me desse os nomes certos das pessoas em questão. Todavia é possível que não se trate das mesmas pessoas. Lembro que esta lista de professores do Liceu de Faro é relativa a 1932, e que todos eles andariam com idades já muito respeitáveis. Presumo que o tal Agostinho não coresponde ao seu amigo.
Só tenho dúvidas quanto ao Reitor José Júlio Rodrigues, que pode ter vindo do Liceu de Leiria, mas antes do meu amigo ter nascido...
Um grande abraço do Vilhena Mesquita
Ando às voltas com os diários do meu pai, que os escreveu entre 1934 e 2000. Antes de ir para Lisboa, para estudar Finanças, foi aluno do liceu de Faro, entre 1936 e 1941. Refere por diversas vezes o Dr. Cassiano, O Dr. Joaquim Romero de Magalhães e, para meu grande espanto, Virgílio Ferreira. Confirma-se?
ResponderEliminarConfirmam-se todas as suas suspeitas. O Dr. Armando Cassiano, que era médico, leccionava no Liceu de Faro, creio que as disciplinas de Ciências Naturais e Biologia precisamente no início da década de trinta até meados dos anos sessenta. Ainda o conheci, como figura pública da cidade de Faro após o 25 de Abril, mas já então sofrendo da doença circulatória que lhe haveria de amputar ambas as pernas. Como médico foi chamado uma vez a tratar o bispo da diocese, e fê-lo com tal acerto que passou desde logo a ser o clínico oficial do bispado. Era agnóstico o que não impediu que entre eles existisse uma grande amizade. Foi assim com D. Marcelino Franco, com D. Júlio Tavares Rebimbas e creio que com o D. Ernesto, com quem gostava de falar em latim, só para desenferrujar a língua. No fim da vida andava de cadeira de rodas, porque já não tinha as duas pernas, mas mesmo assim mantinha a boa disposição de sempre, contando anedotas sobre as situações que se lhe deparassem no momento, o que deixava toda a gente encantada com a sua companhia.
EliminarQuanto ao Dr. Joaquim Peixoto da Rocha Magalhães (Romero era, e é, o filho) foi professor de Português e de Francês, grande mestre de gerações sucessivas de jovens algarvios. Chegou a reitor do Liceu de Faro, e foi o único em que nesse cargo se manteve no país após o «25 de Abril», precisamente por ser um homem justo e muito digno, que sempre respeito os direitos e a liberdade de expressão dos seus alunos. E muitos foram os dissabores que teve por causa de manter essa postura em plena ditadura. Foi ele que descobriu, revelou e impulsionou o poeta António Aleixo para a fama de que ainda hoje beneficia no Algarve e no país inteiro. Faleceu em 1999 com 90 anos de idade. Tem uma escola com o seu nome e mais do que uma rua no Algarve.
Quanto ao Virgílio Ferreira, um dos mais famosos escritores da língua portuguesa, foi de facto professor do liceu de Faro durante dois anos, de 1942 a 1944. Tinha feito o curso de Filologia Clássica na Universidade de Coimbra, que concluiu em 1940 e fez o estágio no Liceu D. João III de Coimbra, que terminou em 1942. Nesse ano foi destacado para o Liceu de Faro, onde proferiu e publicou uma brilhante conferência intitulada «Sobre o Humorismo de Eça de Queirós» editada em 1943. O mais curioso é que no liceu de Faro conheceu uma colega, crio que professora de Química ou de Biologia, namoraram e logo depois casaram. Em 1944 parte para o Liceu de Évora, depois foi para Bragança e por fim fixou-se em Lisboa.
E pronto, meu amigo, espero ter-lhe dissipado quaisquer dúvidas, sobre a veracidade do seu pai ter sido de facto aluno desses três grandes mestres da cultura e da literatura portuguesa.
José Carlos Oliveira Mesquita, perdoar-me-á uma pequena correcção ao por si afirmado a propósito do Dr. Armando Cassiano que é reportado no texto que noticia o almoço dos docentes do Liceu de Faro. Com efeito, a pessoa em questão é o pai do médico Armando Rocheta Cassiano, licenciado em matemática e que leccionava esta disciplina no dito liceu, segundo a ideia que retenho e que me foi transmitida pelo meu pai, sobrinho da pessoa referenciada, e em casa de quem viveu enquanto frequentava o 6º e 7º anos do Liceu. Bastará ver que o Dr. Cassiano a que o José Carlos se refere, o médico, nasceu em 1923 e, portanto, na data em que o dito almoço teve lugar, 1932, seria, quando muito, um jovem estudante a iniciar os seus estudos liceais.
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