Não deve haver hoje na cidade de Faro quem se lembre desta senhora. E, no entanto, pertenceu à nata da melhor sociedade, à fina flor da burguesia farense. Nasceu em Faro, julgo que em 1884, no seio da família Belmarço, que como se sabe era das mais distintas da cidade. Essa distinção social não lhe advinha do berço, nem das qualidades morais ou intelectuais, mas antes do dinheiro, que um seu distinto antepassado trouxera para a cidade onde assentou âncora, depois de uma vida de atribulados negócios, e zagaiados sucessos, nos brasis.
A senhora Adelaide do Rosário era prima-irmã, como soe dizer-se, do conhecido e muito apreciado professor do Liceu de Faro, Vidal Belmarço, que foi homem da alta-roda, mas que teve uma juventude marcada pelo infortúnio financeiro, apenas suavizada pelo sucesso entre o público feminino. O prof. Vidal era uma mistura de boas maneiras francesas com um vestuário e algum snobismo britânico à mistura. É claro que aqui na parvónia, no trato do gentio ignaro, não passava de um falido com ares de rico. E para ganhar a vida com a honradez que se lhe exigia, foi-se à vida e fez-se professor, valendo-se da esmerada educação e da formação académica que adquirira.
A sua prima, Adelaide Rosário, sendo dotada de fina educação e enorme sensibilidade para as artes, seguiu os passos do primo, e fez-se professora da secção feminina do Liceu, lecionando música durante várias décadas, até ao início da década de cinquenta do século passado. A sua casa era também um verdadeiro templo de Orfeu, onde se ministravam lições particulares de piano, canto e declamação, para as meninas da mais alta sociedade farense. No tempo em que o Ginásio Clube de Faro era o areópago das artes, e o cenáculo intelectual da classe média, a D.ª Adelaide do Rosário Belmarço costumava presentear os seus modestos conterrâneos, nas amenas tardes primaveris, com magníficos concertos de piano. O público não se fazia rogado na estridência dos seus aplausos, sobretudo quando se deixava embevecer pelas sonatas de Haydn, Beethoven, Mozart, Schubert, Chopin e Liszt.
Já septuagenária e algo debilitada rumou à cidade do Porto, onde viveu no conforto dos familiares mais próximos até ao fim da vida, cujo desenlace ocorreu nos fins de Abril, ou princípios de Maio, de 1964, quando tinha precisamente 80 anos de idade. Lá ficou, no cemitério de Agramonte, na Invicta cidade da Liberdade, uma algarvia ilustre de que hoje já ninguém se lembra.
Achei graça à sua descrição de Vidal Belmarço, que recomendarei em post a propósito de recente notícia sobre a venda da Casa Belmarço. Visitarei com interesse o seu blog e convido-o a visitar o meu: http://retrovisor.blogs.sapo.pt
ResponderEliminarCumprimentos cordiais da
Vera