Foi uma das senhoras mais ricas da sociedade farense no século XIX, e um dos partidos mais invejados pelos jovens do seu tempo. Além da beleza, elegância e instrução, a menina D.ª Helena tinha como principal atributo um notável dote, avaliado em várias centenas de contos, para oferecer a quem a levasse ao altar. E isso não era tarefa fácil, nem ao alcance de qualquer um dos seus jovens pretendentes. Por isso lhe chamavam a Helena de Tróia.
Nasceu, D. Helena Emília Coelho, em 1822, em Faro, na Rua Direita (Hoje Manuel Bivar), mais propriamente no edifício nobre que, nos meados do séc. XX, serviu de sede ao Círculo Cultural do Algarve. Essa foi, aliás, uma casa com larga história na cidade, porque nela não só se aboletaram os oficias franceses das tropas de Junot, como antes também se havia nela estabelecido a primeira sede da Companhia de Pescarias do Algarve, precisamente pela mão do seu primeiro administrador José Coelho (parente do Marquês de Pombal).
José Coelho de Carvalho, o «Patriarca do Algarve» |
Era filha do comendador José Coelho de Carvalho (Pedrógão Grande, 12-1-1776; Faro, 10-1-1856) a quem José Estêvão chamou «o Patriarca do Algarve», que foi o mais notável empresário comercial da cidade, apoiante da causa liberal e de cujo bolso pagou o sustento das tropas do Duque da Terceira, durante a ocupação da cidade em Julho de 1833. Segundo confessou Sá da Bandeira, em plena Câmara dos Deputados, entre 1834 e 1838, ou seja durante o período das guerrilhas, o velho Coelho de Carvalho gastou muitas dezenas de contos com o patrocínio das tropas governamentais. Durante a guerra-civil da «Patuleia», entre 1846-47, recebeu a patente de Tenente-Coronel, armou as milícias de Faro e pagou não só o sustento como ainda o equipamento do «Batalhão de Caçadores do Algarve», que ele próprio fundou para sustentar a causa Setembrista e defender a Junta Governativa do Algarve, à qual também pertencia. À frente desse batalhão colocou o seu filho mais velho, José Coelho de Carvalho Júnior, que conduziu os soldados algarvios até ao campo de batalha, sob comando do Conde de Melo.
A mãe de D. Helena, de seu nome D.ª Ana Ignacia da Cruz Coelho (Faro, 20-9-1797; Faro, 19-12-1868) foi outra das grandes senhoras do seu tempo, amiga dos pobres e das crianças desvalidas, protectora dos artistas e dos músicos, que fez das obras misericordiosas o principal objectivo da sua existência. De tal forma que a Venerável Ordem do Carmo, à qual pertencia a burguesia de Faro, deu-lhe túmulo na capela dos ossos da Igreja do Carmo, que é uma das referências artísticas da cidade.
A origem do seu nome prende-se com a herança da avó, D.ª Helena Carvalho, natural de Stª Catarina de Vila Facaia, concelho de Pedrógão Grande, que ali casou com o seu, julgo que ainda parente, José Coelho, o tal que veio fundar a Companhia de Pescarias do Algarve em Vila Real de Santo António, fixando depois residência em Faro.
A D.ª Helena acabaria por ser a última sobrevivente dos cinco filhos que constituíram a ilustre prole do «Patriarca do Algarve»:
José Coelho de Carvalho Júnior, nascido em 1814 e falecido em Faro a 29-3-1855; foi vice-cônsul da Áustria, em 1835, e da Bélgica em 1840.
Sebastião José Coelho de Carvalho, nasceu em Faro a 2-9-1828 e faleceu a 13-6-1874; licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, e abriu banca de advogado em Faro, onde foi também Governador Civil, desde 10-1-1863 até 30-3-1865.
António José Coelho de Carvalho, nasceu em Faro, a 13-3-1836 e faleceu a 8-5-1887, que se dedicou à administração dos negócios da família e à exploração das suas propriedades agrícolas, que se distribuíam por diversos concelhos do litoral algarvios, desde Tavira até Lagos.
Joaquim José Coelho de Carvalho, nasceu em Faro em 1833 e faleceu em 1903; casou-se em 1856, em Lagos, com D.ª Camila Rita Ribeiro, rica proprietária local, e por isso foi Presidente da Câmara daquela cidade, aceitando mais tarde o lugar de Governador Civil, entre Julho e Setembro de 1870. Mas antes de casar teve uma relação amorosa com D. Maria das Dores Vizetto, uma bela e jovem tavirense, de origem italiana, que morreu tragicamente com a célebre epidemia do cólera-morbus em 1855. Dessa relação nasceu um filho, o famoso Joaquim José Coelho de Carvalho Júnior (1855-1934), advogado, diplomata e escritor, que viria a ser Reitor da Universidade de Coimbra, presidente da Academia das Ciências, Cônsul de Portugal no Rio Grande do Sul, Brasil (cargo que não chegou a exercer, por pedido de escusa), seguindo depois para Xangai (China), e, após larga interrupção, retomou a carreira consular em Huelva, na vizinha Andaluzia. Morreu no seu castelo do Arade, em Ferragudo, a 18-07-1934, com 79 anos de idade.
Para terminar este breve apontamento, resta-me acrescentar que D. Helena viria a casar com o Juiz-desembargador José Januário Teixeira Leite Pereira Castro, de quem teve um filho, Viriato de Castro, terminando os seus dias na casa deste, em Santa Marta de Penaguião, no dia 12 de Agosto de 1897.
Grandes Histórias que a cidade encerra e que nos são desconhecidas. Bem haja Professor por reavivá-las.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer ouvi-lo, neste caso lê-lo, uma vez que já passei a cadeira de História Contemporânea.
Parabéns e obrigado.
Saudações sociológicas
JB
Obrigado, JB, pelas tuas amáveis palavras. Volta sempre, e nunca te esqueças de comentar. Um abraço do teu velho professor.
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