domingo, 11 de maio de 2014

LÁBDANO, a resina da esteva


A flor da Esteva
   Designa-se por Lábdano ou Ládano a planta silvestre, muito vulgar por entre os matos do sul peninsular, conhecida por Esteva. A sua designação científica, cistus ladanifer, deriva precisamente do lábdano, que é o óleo resinoso que cobre as folhas verde escuras da planta. Quem já andou pelas matas algarvias por certo já colheu a flor da esteva, seduzido pelo aroma da sua resina, que supunha ser o perfume da flor. Embora seja uma planta silvestre, a esteva é de uma beleza ímpar e sedutora. Apresenta-se em forma de arbusto, com mais de um metro de altura, e tem uma flor grande de uma brancura imaculada. Possui cinco pétalas muito finas, com uma pinta bordeaux em forma de ponta de lança. Ao centro os estames amarelos cintilantes parecem uma coroa de fios de de ovos. Há quem lhe atribua propriedade medicinais únicas. Em chã é muito recomendado o chã das flores para o colesterol e a rama para o combate ao ácido úrico. Muitas outras propriedades lhe são atribuídas, que não vem agora e aqui ao assunto.
   Uma das suas utilidades, depois de seco o arbusto, é como combustível natural. Antigamente, nos campos algarvios, cozinhava-se com o fogo da esteva, pois que sendo uma planta lenhosa e resinosa transforma-se facilmente num combustível de fácil incineração. A chama do fogo da esteva é muito luminosa e incandescente, mas dura pouco, porque a planta-se consome-se rapidamente. Por isso é muito boa para acender o fogo das actuais lareiras, funcionando como uma espécie de acendalha natural. Quando no verão as florestas ardem por esse país fora, a esteva é o maior inimigo dos bombeiros.
   Mas o mais importante da esteva é o Lábdano, essa natural exsudação resinosa e aromática que ressuma das suas folhas, muito empregue na indústria da perfumaria, e actualmente também na farmacologia. A forma como era capturada antigamente constitui o cerne deste apontamento. O método era rudimentar, mas creio que ainda hoje não se conhece outro. Fazia-se do seguinte modo: dois homens seguravam nas pontas de uma corda de crina (feita geralmente com a lã da ovelha) e passavam-na meticulosamente por cima das estevas para capturar a resina. Havia também quem improvisasse atando cordéis a um pau curto e com ele se sacode todas as manhãs as plantas, enquanto estão cheias de orvalho. O método mais rudimentar era o dos pastores, que levando os seus rebanhos para os matos das estevas, costumavam ao fim do dia pentear pacientemente a lã do pescoço e do dorso dos animais, para dela extrair a resina. Apanhada a resina tratava-se depois de a derreter em lume brando até que por fim se deixava coalhar.
   A principal utilização industrial da resina da esteva é na preparação da perfumaria, onde é empregue como fixador. Por isso, no século passado houve um indivíduo francês que passando pelo Algarve verificou que a esteva era uma espécie de praga natural que se desenvolvia sem custos nem trabalhos. Logo fez divulgar pela imprensa regional que iria aqui fundar uma fábrica de perfumes. O caso subiu às instâncias superiores que acolheram a ideia com júbilo. Só havia um pequeno pormenor: o indivíduo não tinha capital para fundar a indústria, mas tinha o saber especializado para extrair a resina e começar a produzir perfumes no Algarve. É claro que se fosse hoje o homem estava garantido. Mas, naquela altura, o governo mandou-o primeiro arranjar o capital junto dos investidores do país dele, e só depois é que estaria disposto a recebê-lo para se pensar nessa tal indústria dos perfumes do Algarve.

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