No anterior spot sobre o "Diamicton" referi-me, de
passagem e sem grandes pormenores, ao "Later". Pois bem, agora vou
acrescentar mais alguma coisa, não muito para não maçar os meus leitores.
Tijolo com marca de oleiro, das ruínas de Milreu |
O "later" é, em suma, um vulgar tijolo de barro,
que, quando menos espesso e grosseiro, pode também chamar-se ladrilho. Neste
caso servia para cobrir o chão das casas, as paredes exteriores e até os arcos
das abóbadas de berço, de canudo ou de meio canhão, tão características da
arquitectura romana. Os tijolos romanos diferenciam-se dos de hoje pela sua
forma densa, compacta e alongada.
Existem várias denominações para o tijolo romano (later),
conforme a sua cozedura e tipo de fabrico. Assim, classifica-se como
"later crudus" o tijolo rudimentar, feito à mão em barro cru, que é
cozido ao sol. Era algo semelhante ao tijolo adubino, que remonta ao Antigo
Egipto, e que ainda hoje se usa nas construções em taipa e adobe, muito comum
na zona do Magreb. Mais perfeito e exigente, na sua composição e moldagem, por
ser cozido em forno, é o "later coctus", por vezes nomeado somente
por "coctilis".
Logicamente obedeciam a vários formatos e feitios, e por
isso eram autenticados pelo próprio fabricante, que neles gravava o seu nome ou
o da olaria. Aliás isso é perfeitamente visível nos vários e diferenciados
"lateres" que foram encontrados no Milreu, e se encontram actualmente
depositados no Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique, em Faro.
A oficina ou olaria onde eram fabricados os tijolos de barro
chamavam-se "lateraria", e em Ossónoba, actual Faro, existiram
várias.
"Laterculus" era a designação que se dava aos
tijolos e ladrilhos de pequenas dimensões, o que, por extensão, passou a
chamar-se também a qualquer objecto de barro que tivesse o mesmo feitio. Por
isso, há que ter cuidado e muita atenção, porque os arqueólogos, nomeadamente
os italianos, usam a classificação "laterculus" para todos os
pedacinhos de barro que, sem saberem do que se trata, registam nos seus
espólios e até nos inventários dos museus.
trecho de parede construída em "opus latericium", |
Por "Latericius" designava-se tudo aquilo que
fosse construído com tijolos de barro grosseiro ou com ladrilhos de fraca
qualidade. O chamado "opus latericium" é o aparelho de construção
usado pelos romanos para encher as cofragens das paredes dos edifícios. Não
esqueçamos que alguns dos edifícios e monumentos da Roma antiga tinham vários
andares, e até as populares "insulae", onde residia o povo miúdo da
cidade, eram erigidas em tijolo e madeira de fraca qualidade, mas não ruíram
senão às mãos dos bárbaros. As técnicas de construção dos romanos eram fiáveis
e muito avançadas para o seu tempo, recorrendo muitas vezes à cal hidráulica,
uma técnica que levamos quase mil anos para descobrir como se fazia.
Em "opus latericium" é construída uma parte do
edifício designado por templum que se encontra nas ruínas do Milreu.
fixe
ResponderEliminar