Vítima de cancro, de que padecia há vários anos, faleceu na noite de sexta-feira, dia 19-02-2016, no conforto da sua casa de Milão e junto da família, aquele que sempre considerei como o último sábio da humanidade. A imprensa vai certamente referir-se a ele como o escritor italiano, autor do best-seller «O Nome da Rosa», adaptado ao cinema pelo realizador Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery com protagonista. Nada mais redutor. Umberto Eco foi escritor apenas por diversão e desafio, porque na essência da sua alma estava a insatisfação e a necessidade de criar novos caminhos nunca antes percorridos. Acima de tudo foi um filósofo que percorreu um longo trajecto intelectual, abarcando todos os conhecimentos primordiais do humanismo, desde a matemática e a geometria até à astronomia, passando pela arte e a linguística, até culminanar na semiótica. De tudo procurava saber este insaciável cidadão do mundo culto, figura cimeira da humanidade ilustrada.
Embora a sua lista de obras seja vastíssima, principalmente no ensaísmo de foro académico, sobre semiótica, linguística, estética e filosofia, foi sobretudo na literatura e no género do romance que alcançou prestígio e sucesso. Destaco aqui O Pêndulo de Foucault editado em 1988, A Ilha do Dia Anterior (1994), Baudolino (2000), A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004) e O Cemitério de Praga (2011), este último considero primoroso pela ousadia como classifica tão despudoramente os alemães e os judeus, não os poupando aos mais insultuoso adjectivos.
No ano passado saiu na Gradiva o seu último romance, «Número Zero», que é uma severa crítica ao mundo do jornalismo. Eco não poupa o mundo da imprensa, a submissão do jornalista ao índice de vendas, a especulação e a mentira, a implacável destruição do bom nome dos cidadãos, a corrosão da moral e da honra, em suma a perversão da ética e da integralidade profissional para satisfação de velados interesses, quer da política quer da finança.
Presentemente, e apesar de aposentado do mundo académico, Umberto Eco desempenhava as honrosas funções de presidente da Escola Superior de Estudos Humanísticos, na Universidade de Bolonha.
Morreu hoje o último sábio do nosso tempo. O dia começou triste e deprimente. Vou recomeçar a ler «O Cemitério de Praga», e rezar uma oração pela alma de um dos principais mentores da minha vida académica e intelectual.
Foi em novembro do ano passado que li o seu último livro: O Número Zero. Um grande escritor e filósofo.
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