Natural de Faro, que em idade avançada foi viver para
Lisboa, onde viria a falecer a 28 de Dezembro de 1903, com provecta idade. Foi
uma mulher bonita das mais admiradas da cidade, frequentadora dos palcos
sociais mais selectos e requintados, mas também dos palcos da arte de Thalma,
como o Lethes e o 1º de Dezembro, neles conhecendo António Vicente Canellas, um
notável artista de comédia, que nunca se deixou seduzir pelo profissionalismo,
para não deixar o lar materno. Apaixonaram-se, casaram por amor, e tiveram dois
filhos, um casal. Criaram-se aqui, mas a vida e os negócios levaram a família
para fora do Algarve, sem nunca deixarem de ser cidadãos de conceituada
honradez moral e social.
Panorâmica do interior do Teatro Lethes |
Para quem não sabe, o actor Canellas, como era conhecido,
teve noites de retumbante sucesso nos teatros do Algarve e Alentejo,
representando papéis cómicos de grande exigência artística. Nos anos sessenta
do século dezanove, o teatro Lethes de Faro gozava de fama nacional. Dizia-se
que a família Cúmano, proprietária do imóvel e da companhia teatral, gastara
centenas de contos para manter um “foyer” de grande nível e um guarda-roupa
muito superior, dizia-se, ao do teatro D.Maria. Muitos dos seus actores,
músicos e cantores de ópera, seguiram as suas carreiras nos teatros da capital,
alguns deles com estrondoso êxito, como a Dores Aço (natural de Silves, casada
com o actor José Ricardo), a sua irmã Teresa Aço (que foi casada com o
actor-empresário Afonso Taveira), e tantos outros. Quando a companhia do Lethes
ostentava nos seus programas o nome do actor Canellas, era garantia de casa
cheia. Vinha gente de todo o lado para vê-lo representar papéis jocosos que só
ele sabia fazer. Ouvir os seus hilariantes monólogos de um acto era lavar a
alma de riso e boa disposição.
Alegoria à musica, pintura no tecto do teatro |
Era mãe do conceituado Alfredo Canellas, farense de coração
que se apaixonara pela África, onde chegou aos corpos gerentes da Companhia do
Nyassa, uma das mais ricas e poderosas do nosso império colonial. Teve também
uma filha, entretanto falecida, que foi casada com o Dr. Vianna de Lemos, outra
grande figura do seu tempo, director da famosa Companhia de Papel do Prado.
O féretro de Ignez Carolina Canellas ficou no cemitério dos
Prazeres, depositado no jazigo de Augusto César Fernandes, amigo íntimo do
filho, não mais regressando ao seu Algarve natal. Os seus descendentes são hoje
pessoas de bem, com vida feita na capital, que talvez não saibam quão notável
foi a vida dos seus ascendentes.
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