Desenho da Guarda Nacional (in Picturesque Review of the Costume of the Portuguese, 1836) |
Em 1820 foi o primeiro concelho no Algarve em que se
organizou a Guarda Nacional. Convém, já agora, esclarecer que a Guarda Nacional
foi instituída no nosso país em 18-3-1823, para funcionar como milícias armadas, cujo objectivo era salvaguardar o regime liberal, garantir a ordem pública e a defesa militar das
pequenas localidades, em caso de ataque, numa situação de guerra.[1]
Em 1826 foi a vila de Albufeira invadida pelos Regimentos
de Infantaria 14, Batalhão de Caçadores nº 4 e parte do Regimento de Artilharia
nº 2, que haviam clamado D. Miguel, no intuito de obrigar a Câmara e restantes
cidadãos a jurarem fidelidade à causa da usurpação. Isso fez com que dali se
retirassem para Beja os vereadores, autoridades e melhores cidadãos,
acompanhados pelo Coronel José de Mendonça Corte Real e pelo seu Regimento de
Milícias de Lagos, que para ali se havia dirigido para defender, em vão, os
direitos da Carta Constitucional.
Em 1833, após o desembarque do Duque da Terceira, os
albufeirenses acorreram às casas da Câmara para jurarem e firmarem o auto de
aclamação e fidelidade a D. Pedro e sua filha D. Maria II. Fizeram-no
livremente, julgo que por convicção política dos seus principais cidadãos. Porém,
o Remexido ao tomar conhecimento dessa aclamação, cercou e atacou a vila,
saqueando-a e incendiando-a. Nesse ataque foram assassinadas várias pessoas,
diz-se que às mãos do Remexido pereceram 86 dos mais ilustres cidadãos daquela
vila. Na própria igreja foi assassinado, com dois tiros e onze punhaladas, o
major Severino José de Sequeira Samora, que com cerca de 80 anos morreu
abraçado aos seus familiares.
Durante a guerra-civil chamavam à vila de Albufeira a
Gibraltar portuguesa por ali se facilitar refúgio aos constitucionais, que
depois dali emigravam para o Reino Unido, e outros portos da Europa.
Albufeira, pintura de George Landman, 1813 |
Os albufeirenses alistaram-se voluntariamente nas milícias
que combateram e destroçaram a guerrilha do Remexido. Em retribuição desse
importante gesto de patriotismo e sacrifício, D. Pedro IV enviou pessoalmente à
Câmara de Albufeira uma carta, escrita pelo seu próprio punho, a agradecer os
serviços prestados à sua causa, e outorgando-lhe o epiteto de «Baluarte de
Fidelidade». Nessa altura, o concelho de Albufeira recebeu, para a sua
administração, as freguesias de Pera e Alcantarilha.
Porém, dois anos depois, na vigência política conhecida por
“Setembrismo”, tudo se alterou. A vila de Albufeira perdeu a influência que com
tanto sacrifício lograra conquistar. A prova disso ficou demonstrada na
remodelação do seu património administrativo. As freguesias de Pera e
Alcantarilha perdeu-as para o concelho de Silves, e até a pingue aldeia de
Boliqueime lhe foi retirada, para enriquecer a administração autárquica de
Loulé.
[1] Percebe-se
que as origens da Guarda Nacional estão directamente relacionadas com as ideias
políticas que inspiraram a Revolução de 1820. Por isso, quando ocorreu a
Vilafrancada, em 1823, de inspiração reacionária e absolutista, decretou-se
quase de imediato a abolição da Guarda Nacional. Importa dizer que, como tropa
de 2.ª linha, tinha as mesmas funções até aí exercidas pelos antigos Regimentos
de Milícias do Reino. Após a guerra-civil e a reimplantação do regime liberal,
a Guarda Nacional foi recriada em 1834, acabando por ser definitivamente
extinta em 1847, no seguimento da guerra da Patuleia.
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