sábado, 28 de dezembro de 2019

A vila de Albufeira – «Baluarte de Fidelidade» ao Liberalismo

Desenho da Guarda Nacional 
(in Picturesque Review of the
Costume of the Portuguese
, 1836)

Em 1820 foi o primeiro concelho no Algarve em que se organizou a Guarda Nacional. Convém, já agora, esclarecer que a Guarda Nacional foi instituída no nosso país em 18-3-1823, para funcionar como milícias armadas, cujo objectivo era salvaguardar o regime liberal, garantir a ordem pública e a defesa militar das pequenas localidades, em caso de ataque, numa situação de guerra.[1]
Em 1826 foi a vila de Albufeira invadida pelos Regimentos de Infantaria 14, Batalhão de Caçadores nº 4 e parte do Regimento de Artilharia nº 2, que haviam clamado D. Miguel, no intuito de obrigar a Câmara e restantes cidadãos a jurarem fidelidade à causa da usurpação. Isso fez com que dali se retirassem para Beja os vereadores, autoridades e melhores cidadãos, acompanhados pelo Coronel José de Mendonça Corte Real e pelo seu Regimento de Milícias de Lagos, que para ali se havia dirigido para defender, em vão, os direitos da Carta Constitucional.
Em 1833, após o desembarque do Duque da Terceira, os albufeirenses acorreram às casas da Câmara para jurarem e firmarem o auto de aclamação e fidelidade a D. Pedro e sua filha D. Maria II. Fizeram-no livremente, julgo que por convicção política dos seus principais cidadãos. Porém, o Remexido ao tomar conhecimento dessa aclamação, cercou e atacou a vila, saqueando-a e incendiando-a. Nesse ataque foram assassinadas várias pessoas, diz-se que às mãos do Remexido pereceram 86 dos mais ilustres cidadãos daquela vila. Na própria igreja foi assassinado, com dois tiros e onze punhaladas, o major Severino José de Sequeira Samora, que com cerca de 80 anos morreu abraçado aos seus familiares.
Durante a guerra-civil chamavam à vila de Albufeira a Gibraltar portuguesa por ali se facilitar refúgio aos constitucionais, que depois dali emigravam para o Reino Unido, e outros portos da Europa. 
Albufeira, pintura de George Landman, 1813
Os albufeirenses alistaram-se voluntariamente nas milícias que combateram e destroçaram a guerrilha do Remexido. Em retribuição desse importante gesto de patriotismo e sacrifício, D. Pedro IV enviou pessoalmente à Câmara de Albufeira uma carta, escrita pelo seu próprio punho, a agradecer os serviços prestados à sua causa, e outorgando-lhe o epiteto de «Baluarte de Fidelidade». Nessa altura, o concelho de Albufeira recebeu, para a sua administração, as freguesias de Pera e Alcantarilha.
Porém, dois anos depois, na vigência política conhecida por “Setembrismo”, tudo se alterou. A vila de Albufeira perdeu a influência que com tanto sacrifício lograra conquistar. A prova disso ficou demonstrada na remodelação do seu património administrativo. As freguesias de Pera e Alcantarilha perdeu-as para o concelho de Silves, e até a pingue aldeia de Boliqueime lhe foi retirada, para enriquecer a administração autárquica de Loulé.

[1] Percebe-se que as origens da Guarda Nacional estão directamente relacionadas com as ideias políticas que inspiraram a Revolução de 1820. Por isso, quando ocorreu a Vilafrancada, em 1823, de inspiração reacionária e absolutista, decretou-se quase de imediato a abolição da Guarda Nacional. Importa dizer que, como tropa de 2.ª linha, tinha as mesmas funções até aí exercidas pelos antigos Regimentos de Milícias do Reino. Após a guerra-civil e a reimplantação do regime liberal, a Guarda Nacional foi recriada em 1834, acabando por ser definitivamente extinta em 1847, no seguimento da guerra da Patuleia.

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