quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Soneto do poeta Marcos Algarve, dedicado ao Presidente Manuel Teixeira Gome

Quadro pintado por Columbano, existente
no Museu da Presidência da República
Quando o nosso embaixador em Londres, Manuel Teixeira Gomes - já então um reputado escritor e um intelectual muito apreciado nos mais cultos areópagos europeus - aceitou o convite de Afonso Costa, e o apoio do Partido Democrático, para assumir a presidência da República, em 5 de Outubro de 1923, o país vivia momentos de instabilidade política e de grande indecisão sobre o futuro do próprio regime. O país vivia debaixo de uma enorme insegurança, com greves constantes, com atentados terroristas à bomba nas ruas de Lisboa, levantamentos militares nos quartéis e governos que se sucediam mais rápidos do que as estações do ano. Pior do que isso eram os escândalos políticos de corrupção e de compadrio partidário, que foram desacreditando o regime.
A eleição de Manuel Teixeira Gomes, tornara-se numa réstia de esperança para a sobrevivência da República, que se unia em torno de um "príncipe árabe vestido em Londres". Não foi o último presidente, mas foi o primeiro a profetizar junto do seu Ministro da Guerra, Óscar Carmona e do seu conterrâneo Mendes Cabeçadas, que a moribunda República lhes haveria de cair nas mãos, para mergulhar numa inexorável ditadura.
Teixeira Gomes, ao lado de Afonso Costa, a
bordo do navio inglês que, por ordem de S.M.B,
 o transportou oficialmente a Lisboa

Não vou referir-me a esses factos, mas tão só a um soneto que o poeta Marcos Algarve (pseudónimo de Francisco Marques da Luz, natural de Olhão, jornalista republicano e maçom) escreveu em homenagem a Manuel Teixeira Gomes, no dia 5 de Outubro de 1923, quando este se alcandorou à mais alta magistratura da nação portuguesa.


O Presidente da República
O requintado Artista das viagens,
O Cellini da prosa facetada
O caminheiro da alma enamorada
E de olhos embebidos nas paisagens

Sobe hoje ao Capitólio das miragens
Onde a Arte soberana, enclausurada,
Chama por ele, tímida e magoada,
E pede-lhe o recorte das Imagens!...

A mão, porém, do Chefe e dos Artistas,
No mesmo impulso arrebatado e frio,
Fará que a Pátria aos vendavais resista…

Coragem!... Vão ao leme do Navio
Os glóbulos do sangue fantasista
Dum coração brioso de Algarvio!

Marcos Algarve

Sem comentários:

Enviar um comentário