Agustina com seu amigo Manuel de Oliveira |
Faleceu ontem, dia 4 de Junho de 2019, a escritora Agustina Bessa
Luís, cuja obra é por todos os especialistas considerada como das mais
representativas da literatura portuguesa contemporânea.
A nossa imortal escritora Agustina Bessa Luís, deixou-nos aos 96 anos
de idade, de forma serena, tranquila e recatada, como aliás sempre viveu e
escreveu os seus romances. Sem pedir licença, sem pagar favores, e sobretudo
sem se submeter aos interesses instalados, quer fossem políticos, religiosos,
económicos ou sociais. Agustina foi em todas as suas atitudes uma mulher do
Norte - livre, soberana e independente. E isso causava a invídia e o ciúme
daqueles que para serem notícia, e verem os seus livros figurarem nas colunas
dos suplementos literários, tiveram que se filiar em partidos políticos e
noutras maçonarias menos recomendáveis.
Tive o prazer de a conhecer pessoalmente, quando eu era ainda muito
jovem, pelo que não me apercebi concretamente da sua importância no seio da
nossa literatura. Sempre achei que sendo uma mulher do Norte não deveria ser
muito boa escritora, porque me habituei no sinistro tempo do Fascismo a dar
mais importância ao que acontecia ou vinha de Lisboa. É curioso que, passados
mais de 40 anos do «25 de Abril», nada mudou - ainda hoje o que vem, ou
acontece, em Lisboa é muito mais importante e de maior relevância do que aquilo
que se passa em qualquer parte do país.
A província não tem valor nenhum. Lisboa é o centro do império, e o
resto é paisagem. O meu pai dizia-me que o José Régio e o Aquilino (Mestre
Aquilino, como ele o tratava) tinham sido os últimos valores da província. Não
imaginava que a Agustina, filha de boas famílias durienses com negócios no
Porto, viesse a ser gente, com nome e impacto nacional.
Lembro-me de alguns escritores, jovens talentosos, que apareciam no
café «Magestic», no Porto, a tentear caminho, receberem do meu pai este
desolador conselho: "vá para Lisboa e faça-se gente".
Proferi idêntico conselho, em público, na Biblioteca de Albufeira, à
escritora Luísa Monteiro, minha conterrânea a viver, como eu, no Algarve. E
lembro-me de a maioria dos presentes me repreenderem por tão infeliz sugestão.
A própria Luísa Monteiro não aceitou o meu alvitre, e fez mal. Se tivesse ido,
acredito que, com as amizades certas, teria conseguido penetrar na corte dos
literatos, e seria hoje um nome consagrado da moderna literatura portuguesa.
Como grande admirador da sua obra, guardo na memória as imagens do
nosso primeiro encontro, e das suas generosas palavras, doces e maternais. Mas
do que jamais me poderei esquecer é da oferta de dois livros, que ela própria
autografou e escolheu para mim, por começarem pela letra M (de Mesquita), e que
guardo religiosamente - os romances «O Manto» e «A Muralha». Vou agora
relê-los, em homenagem às gratas recordações da sua memória.
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