João Mariano, conceituado artista da fotografia |
Venho
mais uma vez à tribuna das redes sociais para falar de um algarvio, que, por
mérito próprio e indubitável talento, logrou conquistar um lugar de destaque na
exígua galeria do génio artístico nacional. Estou aqui, para felicitar o
artista-fotógrafo, João Mariano, pela sua nomeação para os Prémios da Sociedade
Portuguesa de Autores 2019, na categoria de Artes Visuais, com a exposição
«Trezentos e sessenta e seis», acerca da qual publicou um belíssimo catálogo.
Neste tipo de certames, o que importa é ser reconhecido, porque vencer é apenas
uma questão de pormenor na escolha do júri.
Conheço
de há muito o João Mariano, cuja obra artística tem sido elogiada pelos mais
consagrados críticos da sua especialidade - a Fotografia, também designada como
a oitava manifestação artística do Homem.
Em
abono da verdade, impõe-se realçar que vincar presença, com independência e
integridade moral, num mundo tão exigente e diversificado, como o da Arte, é
muito difícil e ingrato, por todas as razões que dizem respeito ao confronto do
talento, com a inteligência e o génio. Abstenho-me de falar, por exemplo, nos
escolhos e entraves da proverbial inveja de que enferma a cultura lusíada. Num
país onde se abatem as árvores para não fazerem sombra aos arbustos, é lógico
que o talento de homens como João Mariano ofendem, ferem, a mesquinhez da nossa
mediocridade.
A forca da morte espreita a vida do pescador |
João
Mariano tem feito exposições por todo o país e pelo estrangeiro, onde tem sido
muito elogiado pela forma como capta o movimento do imperceptível, como
evidencia o risco ou o desafio do perigo, nomeadamente dos mariscadores das
pedras do velho Promontório de Sagres, face à brutalidade dos elementos
naturais; como sente e transmite a leveza da solidez, até mesmo nas formas mais
simples e fugazes da imperceptibilidade humana; como vislumbra a grandiosidade
das coisas numa aparente frugalidade das formas; como materializa os fantasmas
dos sentidos nos olores e nos sabores das coisas simples e belas da natureza. E
todo o seu enorme talento consiste na capacidade de ver o invisível, ou seja,
de sentir e tocar o que só o génio divisa. Essa sublime aptidão – ver e sentir
o imponderável – define o intelecto de João Mariano, que aliás tem sido
revelado à posteridade através de magníficos álbuns artísticos. São oito, no
total, dos quais possuo dois, «Guerreiros do Mar» e «Lugares Pouco Comuns»,
verdadeiros monumentos da arte fotográfica, na difícil expressão do preto e
branco, que não só dignificam o seu autor como um artista de eleição, como
ainda exponenciam o nome do Algarve e da sua paradisíaca Aljezur no conceito e
admiração do turismo à escala mundial.
Monstro do mar, captados pela objectiva do artista |
Todas
estas razões constituem forte motivo de orgulho para o município de Aljezur, na
pessoa do meu amigo José Gonçalves, emérito vereador da cultura, e hoje
presidente da edilidade, que sempre pugnou pelo prestígio da sua terra e dos
seus munícipes, de entre os quais se tem distinguido os próprios pais do João
Mariano. Refiro ao casal Zabel Moita e Ernesto Silva, dois artistas consagrados
na difícil arte de esculpir o barro, inseridos na histórica tradição da
cerâmica lusa, que deu a conhecer ao mundo os génios de Rosa Ramalho e Júlia
Ramalho, José Franco, Herculano Elias, e de outros prestigiados nomes da nossa
cerâmica figurativa. O Ernesto Silva, pai do João Mariano, tem uma
particularidade muito especial – é um dos melhores poetas do Algarve,
reconhecido e elogiado pela crítica da especialidade. Além disso, é detentor de
uma memória prodigiosa, que lhe permite recordar, quase como se fosse ontem,
alguns dos factos mais marcantes na história recente da vila de Aljezur. Quando
vou a Aljezur passo sempre pelo seu atelier, para lhe dar um abraço, para
apreciar as suas obras de arte, e, sobretudo, para o ouvir contar as histórias
e tradições socioculturais das sacrificadas gentes de Aljezur, tão genialmente
narradas pelo escritor algarvio Assis Esperança na sua obra imortal «Pão
Incerto».
O apanhador de perceves diluído nas águas do mar |
Para
terminar, quero expressar aqui o meu regozijo por ver reconhecida pela SPA -
Sociedade Portuguesa de Autores, a obra artística de João Mariano, cujo sucesso
tem contribuído para o reconhecimento de Aljezur e da Costa Vicentina, como um
dos últimos paraísos ambientais da Europa, com forte implicação no
desenvolvimento turístico do Algarve e do nosso país.
Quando
penso em Domingos Alvão, em Artur Pastor, em Eduardo Gageiro, em Mário
Caldeira, ou em Zambrano Gomez - que fotografou a alma do povo algarvio (a
pesca) – fico esperançado no futuro da arte fotográfica, e particularmente
orgulhoso pelo reconhecimento da obra de João Mariano no contexto nacional.
©
José Carlos Vilhena Mesquita
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