quarta-feira, 29 de maio de 2019

João Mariano, o mago da penumbra e da imponderabilidade - na consagração de um artista algarvio de reputação nacional.

João Mariano, conceituado artista da fotografia

Venho mais uma vez à tribuna das redes sociais para falar de um algarvio, que, por mérito próprio e indubitável talento, logrou conquistar um lugar de destaque na exígua galeria do génio artístico nacional. Estou aqui, para felicitar o artista-fotógrafo, João Mariano, pela sua nomeação para os Prémios da Sociedade Portuguesa de Autores 2019, na categoria de Artes Visuais, com a exposição «Trezentos e sessenta e seis», acerca da qual publicou um belíssimo catálogo. Neste tipo de certames, o que importa é ser reconhecido, porque vencer é apenas uma questão de pormenor na escolha do júri.
Conheço de há muito o João Mariano, cuja obra artística tem sido elogiada pelos mais consagrados críticos da sua especialidade - a Fotografia, também designada como a oitava manifestação artística do Homem.
Em abono da verdade, impõe-se realçar que vincar presença, com independência e integridade moral, num mundo tão exigente e diversificado, como o da Arte, é muito difícil e ingrato, por todas as razões que dizem respeito ao confronto do talento, com a inteligência e o génio. Abstenho-me de falar, por exemplo, nos escolhos e entraves da proverbial inveja de que enferma a cultura lusíada. Num país onde se abatem as árvores para não fazerem sombra aos arbustos, é lógico que o talento de homens como João Mariano ofendem, ferem, a mesquinhez da nossa mediocridade.
A forca da morte espreita a vida do pescador
João Mariano tem feito exposições por todo o país e pelo estrangeiro, onde tem sido muito elogiado pela forma como capta o movimento do imperceptível, como evidencia o risco ou o desafio do perigo, nomeadamente dos mariscadores das pedras do velho Promontório de Sagres, face à brutalidade dos elementos naturais; como sente e transmite a leveza da solidez, até mesmo nas formas mais simples e fugazes da imperceptibilidade humana; como vislumbra a grandiosidade das coisas numa aparente frugalidade das formas; como materializa os fantasmas dos sentidos nos olores e nos sabores das coisas simples e belas da natureza. E todo o seu enorme talento consiste na capacidade de ver o invisível, ou seja, de sentir e tocar o que só o génio divisa. Essa sublime aptidão – ver e sentir o imponderável – define o intelecto de João Mariano, que aliás tem sido revelado à posteridade através de magníficos álbuns artísticos. São oito, no total, dos quais possuo dois, «Guerreiros do Mar» e «Lugares Pouco Comuns», verdadeiros monumentos da arte fotográfica, na difícil expressão do preto e branco, que não só dignificam o seu autor como um artista de eleição, como ainda exponenciam o nome do Algarve e da sua paradisíaca Aljezur no conceito e admiração do turismo à escala mundial.
Monstro do mar, captados pela objectiva do artista
Todas estas razões constituem forte motivo de orgulho para o município de Aljezur, na pessoa do meu amigo José Gonçalves, emérito vereador da cultura, e hoje presidente da edilidade, que sempre pugnou pelo prestígio da sua terra e dos seus munícipes, de entre os quais se tem distinguido os próprios pais do João Mariano. Refiro ao casal Zabel Moita e Ernesto Silva, dois artistas consagrados na difícil arte de esculpir o barro, inseridos na histórica tradição da cerâmica lusa, que deu a conhecer ao mundo os génios de Rosa Ramalho e Júlia Ramalho, José Franco, Herculano Elias, e de outros prestigiados nomes da nossa cerâmica figurativa. O Ernesto Silva, pai do João Mariano, tem uma particularidade muito especial – é um dos melhores poetas do Algarve, reconhecido e elogiado pela crítica da especialidade. Além disso, é detentor de uma memória prodigiosa, que lhe permite recordar, quase como se fosse ontem, alguns dos factos mais marcantes na história recente da vila de Aljezur. Quando vou a Aljezur passo sempre pelo seu atelier, para lhe dar um abraço, para apreciar as suas obras de arte, e, sobretudo, para o ouvir contar as histórias e tradições socioculturais das sacrificadas gentes de Aljezur, tão genialmente narradas pelo escritor algarvio Assis Esperança na sua obra imortal «Pão Incerto».
O apanhador de perceves diluído nas águas do mar
Para terminar, quero expressar aqui o meu regozijo por ver reconhecida pela SPA - Sociedade Portuguesa de Autores, a obra artística de João Mariano, cujo sucesso tem contribuído para o reconhecimento de Aljezur e da Costa Vicentina, como um dos últimos paraísos ambientais da Europa, com forte implicação no desenvolvimento turístico do Algarve e do nosso país.
Quando penso em Domingos Alvão, em Artur Pastor, em Eduardo Gageiro, em Mário Caldeira, ou em Zambrano Gomez - que fotografou a alma do povo algarvio (a pesca) – fico esperançado no futuro da arte fotográfica, e particularmente orgulhoso pelo reconhecimento da obra de João Mariano no contexto nacional.
© José Carlos Vilhena Mesquita

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