Folheto turístico, anos 40?, sobre Vila do Bispo-Sagres |
Entre os meus papéis velhos, fui encontrar aquilo que presumo ser um dos primeiros folhetos promocionais de turismo relacionados com a quase ignorada Vila do Bispo. Trata-se de uma folha, impressa dos dois lados a uma só cor, nas dimensões 23x33 cm, cujo tamanho nas tipografias antigas se designava por C4. Usava-se para diversos fins, geralmente para imprimir pequenos cartazes de publicidade, mas também como folhas volantes dos teatros e cinemas. Quando passaram a imprimir-se em três colunas, para facilitar a leitura e a inserção das imagens, houve quem se lembrasse de dobrar a folha em três partes, para a transformar numa espécie de tríptico informativo. Nasceram assim os desdobráveis, primeiro para fins religiosos destinados a divulgar as festividades e romarias, depois para fins educativos, informativos e turísticos.
Pela grafia do texto vê-se que respeita o acordo ortográfico de 1945, devendo datar, seguramente, da década de quarenta. Apresenta-se impresso em azul, com dez gravuras, em papel de razoável qualidade. O texto é curto, segue com rigor os factos históricos ligados ao Promontório de Sagres e à epopeia dos Descobrimentos Portugueses. Presumo que esta folha, possível desdobrável de propaganda turística, tenha sido editada na voragem das Comemorações dos Centenários de 1940, para ser distribuída no decurso da grande Exposição do Mundo Português. No âmbito dessas mesmas comemorações, realizou-se em Faro um grandioso certame, que decorreu em 1940 no Largo de S. Francisco, destinado a realçar o decisivo papel desempenhado pelo Algarve no arranque e no consequente sucesso dos descobrimentos henriquinos. E, certamente, durante esse magnífico evento de exaltação patriótica, que teve como Comissário Geral o pintor Carlos Porfírio, e como Presidente da Comissão Executiva o Dr. Júlio Dantas, estou certo que esta folha de propaganda turística foi também oferecida aos visitantes da grande exposição do Algarve.
Resumindo e concluindo… esta folha é uma peça documental de raro interesse para o estudo do turismo, e da sua propaganda institucional no Algarve. Não está datada, nem o texto nela inserido tem indicação de autor. Algumas das fotos que ilustram esta folha de propaganda – talvez destinada a ser um hipotético desdobrável turístico – estão assinadas por Carmo, um fotógrafo profissional que fez vários trabalhos para o SPN (Secretariado de Propaganda Nacional). O texto da face interior diz respeito a Vila do Bispo, é mais curto e incisivo que o da face exterior, respeitante ao mítico promontório de Sagres. Estão ambos muito bem escritos, quer no rigor histórico, quer no estilo literário, sendo de realçar a mensagem que se pretende estabelecer entre o paralelismo do ambiente e a majestosidade da penedia, entre a grandiosidade do mar e a vastidão do desconhecido, tentando confluir nessa atracção mística a razão justificativa dos descobrimentos marítimos. A figura tutelar do Infante D. Henrique, cognominado o Navegador, apresenta-se pela máquina da propaganda aos olhos do mundo como o herói da epopeia dos Descobrimentos, da diáspora lusíada e da portugalidade, através da língua de Camões falada por 200 milhões de pessoas espalhadas pelos cinco continentes, em cujos mares e portos acostaram e se disseminaram os genes e a cultura deste bravo e corajoso povo, que hoje é apenas uma referência residual na história da humanidade.
Folheto, verso, destaca o Infante |
Pórtico da Exposição dos Centenários em Faro, 1940 |
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