quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

João Peres publica as suas «Memórias militares no Estado Português da Índia»

O meu amigo João Peres teve a amabilidade de me oferecer, com amável dedicatória, o seu último livro «Memórias, militares no Estado Português da Índia», prefaciado por Mário Proença, numa co-edição do Núcleo de Olhão da Liga dos Combatentes e do jornal «O Olhanense». Devo confessar que tenho pelo cidadão João Peres o maior apreço e consideração, não só pelas acções que tem desenvolvido em prol da sua cidade natal, como muito especialmente pelo povo de Olhão.
João Peres
O meu amigo João Peres foi um conceituado funcionário bancário até 2009, data da sua aposentação, mas foi como autarca que melhor o conheci e aprendi a admirar. Primeiro como vereador e depois como secretário executivo da Junta de Freguesia de Olhão. A seu convite participei em vários eventos e homenagens de índole histórica e cultural, quer a título individual quer como presidente da AJEA.
Manda a justiça realçar que, em todos os actos cívicos promovidos por aquela Junta, apercebi-me sempre da sua competência e do elevado zelo com que cuidada do mais ínfimo pormenor, para que tudo, no fim, corresse bem e fosse um sucesso. Pessoas com o sentido de responsabilidade do João Peres eram, nessa altura como ainda hoje, muito raras, porque em geral quem realiza e produz deixa-se seduzir pela ambição, que suscita a luz da vaidade. Nunca o João Peres se aproximava dos lustres da ribalta, para chamar a si a vã glória do sucesso ou do poder. A sua principal característica era a forma humilde, tímida até, como declinava os elogios que lhe eram devidos, endossando-os sempre para a sua Gracinda, que então presidia com enorme simpatia à Junta de freguesia de Olhão.
As circunstâncias do tempo e da política, acabariam por levá-lo depois a assumir a presidência do executivo da Junta, creio que por dois mandatos, e recentemente a presidir à assembleia da freguesia de Quelfes.
Mas de todas as conversas que com ele mantive, as que mais me emocionavam eram as suas recordações de África e da fatídica guerra colonial, da qual também eu guardava nefastas lembranças, quando no Natal de 1964 recebi a notícia da morte do meu irmão Álvaro Manuel Vilhena Mesquita, caído em combate na Guiné.
O João Peres é o exemplo do bom e modesto português, que apesar de todas as circunstâncias, nunca se arrependeu nem algum dia deixou de se orgulhar de ter defendido a Pátria na guerra colonial. Para defesa da honra e dignidade de todos os que a seu lado defenderam a nação lusíada, escreveu vários artigos na imprensa regional, nomeadamente no jornal «O Olhanense», elogiando aqueles que preservaram o nome e a glória de Portugal em África. E quando já quase nos íamos esquecendo dos que nas antigas colónias zelaram pela soberania nacional, o amigo João Peres bradava alto e com orgulho, que muitos dos seus camaradas haviam regressado à pátria diminuídos na sua integridade física, moral e psíquica. E foi com lucidez e coragem, que reivindicou o título de heróis nacionais para todos os soldados portugueses (brancos, negros e mestiços), que no capim da savana derramaram o próprio sangue, quando não perderam, na flor da idade, a sua própria vida.
Por causa dessa intransigente defesa dos valores, que enformam a pátria portuguesa, é que o João Peres foi eleito presidente do núcleo de Olhão da Liga dos Combatentes. Actualmente preside à Mesa da Assembleia-Geral, continuando a desenvolver acções de grande merecimento público, nos domínios da cultura e da acção social.
Para todos os que se interessam pela história da guerra colonial, lembro que o meu amigo João Peres já publicou outros trabalhos de grande interesse, nomeadamente «Retratos» em 2012, e «Memórias – Olhanenses na guerra do Ultramar», em 2013. Em 2016, complementou os trabalhos anteriores num livro de maior fôlego e abrangência intitulado «Memórias – combatentes na guerra do Ultramar», no qual analisa e descreve a vida, o sofrimento e sacrifício de alguns heróis que a seu lado combateram em África.
Este livro, que por amável deferência me ofereceu, narra com grande realismo as circunstâncias em que sobreviviam, com indizíveis dificuldades, as nossas forças militares nos antigos estados da Índia Portuguesa. A sua leitura é de um interesse fundamental, sobretudo para quem pretenda conhecer, ao pormenor, a bravura e a conduta heroica desenvolvida pelos soldados e oficiais algarvios nas antigas possessões do oriente. Neste livro relatam-se os sacrifícios e privações, o sofrimento e a saudade, a coragem e a valentia com que desempenharam as suas missões; mas também os momentos de lazer, os folguedos e tropelias, o bom humor com que tentavam dissipar a saudade e o temor da morte. Nele se descreve a acção militar, mas também o trajecto de vida de 27 jovens militares algarvios, que o João Peres resgatou do injusto esquecimento, a que todos nós votamos, aqueles que heroicamente defenderam a honra e glória de Portugal, na longínqua Goa, em Damão, Pequeno e Grande, e na mítica cidade de Diu.
Uma última palavra para as centenas de fotografias que ilustram este livro, muitas das quais são verdadeiros documentos para a história da nossa guerra no oriente.

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