O terceiro conde de Carnarvon |
Vem de longe a fama encantatória das mulheres do sul
peninsular, cuja fascinante beleza deixava os mareantes do norte europeu
absolutamente rendidos, subjugados ao feitiço dos olhos místicos e desafiantes
destas sereias das terras mouriscas. E quantos forasteiros, das mais remotas
origens, aqui se deixaram prender nas teias do amor. O Algarve, a quem o Conde
Shomberg Lippe, chamara «um pedaço do Paraíso Terrestre», proporcionava aos que
aqui renovavam a sua pátria, todas as condições para uma vida serena e
feliz.
O fruto, que desta terra mais fama granjeou na voz dos
poetas, foi a rosa mística das suas belas agarenas. Por todo o mediterrâneo se
espalhou o maravilhoso mito da cativante beleza das mulheres do algarve-andaluz.
Contavam-se histórias de sedução ardente e de cativantes amarras, em que se
deixavam enlear os viandantes. Dizia-se até que as sereias subiam as falésias
das praias algarvias para acender fogueiras, com que se davam a conhecer aos
marinheiros os melhores ancoradouros. Aqui aportados deixavam-se enfeitiçar
pela invulgar beleza das mulheres algarvias. Enfim, fantasias que adoçavam a
realidade da vida, que era bem mais difícil, árdua e até cruel, para os que a
sorte não bafejava.
Henry John George Herbert conde de Carvarvon |
O terceiro Conde de Carnarvon, Henry George Herbert, cujo
espírito viageiro o tornou célebre, numa das suas visitas pelo sul peninsular,
deve ter sido um desses marinheiros que se deixou seduzir pela incandescente
beleza da mulher algarvia. Com efeito, numa das sessões em que interveio no
Parlamento inglês teceu, em 1836, rasgados elogios às mulheres algarvias, em especial
às de Silves, cidade que visitara para apreciar as suas antigualhas mouriscas.
Ouçamos as suas palavras, que são um mimo, um panegírico poético, uma bandeira
de propaganda regionalista, quiçá até um cartaz turístico que não deveríamos
descurar nos tempos que correm:
«As mulheres de Silves, assim como as de todo o Algarve,
são extremamente formosas de feições, e muitas vezes também de figura: tez pálida,
mas clara, olhos ensombrados por longas pestanas negras e sempre belos, tendo
quasi sempre a distingui-los uma expressão pensativa e bondosa, que se reflete
no sorriso, dando-lhe carácter. Os encantos das espanholas maravilham e atraem
os olhares, mas a beleza algarvia, menos ardente, é dotada de mais ternura e
nem por isso penetra menos fundo no coração.»
Panorâmica da cidade de Silves, em 1883 |
Esta expressiva declaração de Lorde Carnarvon – que foi uma
distinta figura da nobreza, da política e da literatura britânica, que deixou nas
suas obras notáveis descrições das terras e das gentes do sul peninsular – pode
ler-se num opúsculo muito interessante e curioso, realizado e editado pelos
serviços de propaganda da embaixada da Grã-Bretanha em Portugal. Numa edição de
esmerado cuidado, com belas ilustrações e impressa em papel couché, veio a
público com o sugestivo título: Portugal
na Literatura Inglesa – Famosos escritores ingleses prestam homenagem a
Portugal, Lisboa, Embaixada Britânica, 1943 (16 p., impresso a 2 colunas,
ilustrado, 25 cm).
Para os possíveis interessados, acrescento que o exemplar
que vi e consultei na Biblioteca Nacional de Lisboa, tinha a cota: L. 117620 V.
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