sexta-feira, 15 de maio de 2020

A beleza das mulheres de Silves

O terceiro conde de Carnarvon
Vem de longe a fama encantatória das mulheres do sul peninsular, cuja fascinante beleza deixava os mareantes do norte europeu absolutamente rendidos, subjugados ao feitiço dos olhos místicos e desafiantes destas sereias das terras mouriscas. E quantos forasteiros, das mais remotas origens, aqui se deixaram prender nas teias do amor. O Algarve, a quem o Conde Shomberg Lippe, chamara «um pedaço do Paraíso Terrestre», proporcionava aos que aqui renovavam a sua pátria, todas as condições para uma vida serena e feliz.
O fruto, que desta terra mais fama granjeou na voz dos poetas, foi a rosa mística das suas belas agarenas. Por todo o mediterrâneo se espalhou o maravilhoso mito da cativante beleza das mulheres do algarve-andaluz. Contavam-se histórias de sedução ardente e de cativantes amarras, em que se deixavam enlear os viandantes. Dizia-se até que as sereias subiam as falésias das praias algarvias para acender fogueiras, com que se davam a conhecer aos marinheiros os melhores ancoradouros. Aqui aportados deixavam-se enfeitiçar pela invulgar beleza das mulheres algarvias. Enfim, fantasias que adoçavam a realidade da vida, que era bem mais difícil, árdua e até cruel, para os que a sorte não bafejava.
Henry John George Herbert
conde de Carvarvon
O terceiro Conde de Carnarvon, Henry George Herbert, cujo espírito viageiro o tornou célebre, numa das suas visitas pelo sul peninsular, deve ter sido um desses marinheiros que se deixou seduzir pela incandescente beleza da mulher algarvia. Com efeito, numa das sessões em que interveio no Parlamento inglês teceu, em 1836, rasgados elogios às mulheres algarvias, em especial às de Silves, cidade que visitara para apreciar as suas antigualhas mouriscas. Ouçamos as suas palavras, que são um mimo, um panegírico poético, uma bandeira de propaganda regionalista, quiçá até um cartaz turístico que não deveríamos descurar nos tempos que correm:
«As mulheres de Silves, assim como as de todo o Algarve, são extremamente formosas de feições, e muitas vezes também de figura: tez pálida, mas clara, olhos ensombrados por longas pestanas negras e sempre belos, tendo quasi sempre a distingui-los uma expressão pensativa e bondosa, que se reflete no sorriso, dando-lhe carácter. Os encantos das espanholas maravilham e atraem os olhares, mas a beleza algarvia, menos ardente, é dotada de mais ternura e nem por isso penetra menos fundo no coração
Panorâmica da cidade de Silves, em 1883
Esta expressiva declaração de Lorde Carnarvon – que foi uma distinta figura da nobreza, da política e da literatura britânica, que deixou nas suas obras notáveis descrições das terras e das gentes do sul peninsular – pode ler-se num opúsculo muito interessante e curioso, realizado e editado pelos serviços de propaganda da embaixada da Grã-Bretanha em Portugal. Numa edição de esmerado cuidado, com belas ilustrações e impressa em papel couché, veio a público com o sugestivo título: Portugal na Literatura Inglesa – Famosos escritores ingleses prestam homenagem a Portugal, Lisboa, Embaixada Britânica, 1943 (16 p., impresso a 2 colunas, ilustrado, 25 cm).
Para os possíveis interessados, acrescento que o exemplar que vi e consultei na Biblioteca Nacional de Lisboa, tinha a cota: L. 117620 V.

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