quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

D. António Barbosa Leão, bispo do Algarve

Aquele que foi um dos mais famosos prelados do Algarve, nasceu em Parada Todeia, antiga freguesia do concelho de Paredes a 17-10-1860 e faleceu como Prelado da Diocese do Porto a 21-6-1929. Era filho de Manuel Barbosa e de Maria Barbosa Leão, casal humilde, mas de inquestionável honradez, dedicação ao trabalho e grande seriedade.
Estudou no Colégio do Carmo, em Penafiel, e no Seminário Episcopal do Porto, onde se ordenou presbítero a 1-8-1886. Exerceu o professorado no Colégio da Formiga e no Seminário dos Carvalhos, até que em 4-9-1890 tornou-se pároco da freguesia da Lustosa no concelho de Lousada. Aí se manteve até 21-12-1904, passou a dedicar-se à pregação apostólica. A fama da sua erudição chegou ao conhecimento do governo e da Coroa que sugeriu a Roma, ao Papa Pio X que o nomeasse Bispo de Angola e Congo, o que sucedeu em Julho de 1907, depois do decreto de 13-2-1906 o haver incumbido dessas funções. Mas quando o bispo do Algarve, D. António Mendes Belo, foi designado Patriarca de Lisboa, o governo por decreto de 7-11-1907 nomeou D. António Barbosa Leão para o substituir na diocese de Faro, o que seria confirmado por Roma no mês seguinte. O novo prelado recebeu com satisfação a incumbência de dirigir a diocese algarvia, funções que desempenhou com competência e sentido de responsabilidade entre 3-4-1908 e 28-8-1919. Durante esse período desenvolveu algumas actividades e tomou posições notáveis no seio da diocese, nomeadamente em Dezembro de 1908, quando enviou a todos os párocos um inquérito para que estes respondessem acerca da antiguidade histórica da freguesia, rendimentos e outros meios de subsistência dos párocos. As respostas a esse inquérito são hoje muito consultadas pelos historiadores locais.
D. António Barbosa Leão, bispo de Faro

Por outro lado, em 1-2-1909, publicou a Pastoral da Páscoa, na qual abordava o ensino religioso. Em Fevereiro, mas do ano seguinte, apresentou ao governo um “Memorial” sobre as Côngruas como meio de sobrevivência dos párocos, enviando em Setembro um “Relatório” complementar, no qual sugeria os melhores meios para se proceder a uma nova dotação dos benefícios paroquiais. Mas quando dias depois se implantou a República tudo se alteraria na vida religiosa do país. A publicação da “Lei da Separação da Igreja do Estado” agravaria as relações políticas entre os dois poderes. Como reflexo desse antagonismo político, emergente da implantação do regime republicano, surgiu a publicação de uma Pastoral colectiva dos prelados portugueses, datada de 24-12-1910, na qual criticam de forma veemente as posições anti-clericais do governo.
Como o bispo do Algarve publicasse, precisamente um ano depois, uma pastoral em que acusava o regime de perseguir a Igreja e de subalternizar os párocos, o governo reagiu através da publicação do decreto de 6-1-1912 condenando-o à pena de desterro para fora da diocese durante dois anos, instaurando-lhe também um processo-crime. O prelado cumpriu o desterro indo viver para a sua casa da Parada, mas ao sair da diocese mandou publicar um protesto dirigido ao Presidente da República, cujo conteúdo reivindicativo pelas asserções impugnativas contra a arbitrariedade do poder temporal, constitui hoje um testemunho teológico bastante importante, sobretudo como documento histórico.
Terminado o desterro, voltou à diocese algarvia em 11-1-1914, sendo aqui recebido com grande júbilo pelos seus párocos e sobretudo pelos crentes pertencentes às classes sociais mais desfavorecidas. Teve a partir daí algumas iniciativas dignas de relevo. Assim, promoveu as comemorações do 1.º centenário do bispo D: Francisco Gomes do Avelar, falecido em Faro a 15-12-1816, em cuja homenagem o prelado mandou reunir entre 8 e 11 de Fevereiro de 1916 um congresso sobre as obras católicas no Algarve, cujos volumes de «Actas» são ainda hoje consideradas como fonte credível para a investigação histórica.
Saliente-se também o facto de D. Barbosa Leão ter publicado um folheto de 45 páginas no qual defendia sem rebuço o programa da União Católica e do Centro Católico Português, que suscitou grande polémica nos arraiais monárquicos, pelo facto do seu autor expender com sinceridade as suas posições políticas, face ao momento de confrontação bélica generalizada, que se vivia por toda a Europa. Havia, por essa razão, que salvar o país e garantir melhores condições de vida para os mais desfavorecidos, ajudando o governo e a República a levar por diante a sua política de reforma social.
Nos onze anos que D. Barbosa Leão esteve à frente da diocese algarvia, realizou uma obra fecunda de melhoramentos regionais, nomeadamente a construção do edifício do Seminário de S. José em Faro e da residência da cúria episcopal, onde viveu o próprio bispo.
Caricatura publicada na imprensa

Em Julho de 1919 foi nomeado Bispo do Porto, partindo de comboio para a cidade Invicta debaixo do aplauso do povo algarvio, assumindo a prelazia daquela diocese a 8-10-1919, onde permaneceu até à sua morte, ocorrida a 21-6-1929.
Quando se começou, em 15-1-1910, a publicar o quinzenário «Boletim do Algarve», órgão da diocese algarvia, foi D. António Barbosa Leão um dos seus mais assíduos colaboradores, publicando nessas colunas as suas Pastorais dirigidas à eclésia algarvia. Nele publicou em 1911 uma “Pastoral ao Clero” a propósito das relações da Igreja com a República, a qual causou grande polémica visto nela produzir afirmações liberais de quase franco republicanismo. Como já dissemos mais acima, essa atitude foi tida por abusiva e considerada de excessiva liberdade de opinião. Por isso recaiu sobre o ilustre prelado a adversidade do governo, que, em 6-1-1912, o penalizou com a proibição de não residir na sua diocese, partindo para a localidade de Parada, sua terra-natal, sobrepujado com o peso da injustiça dos homens.
Seja como for, D. António Barbosa Leão foi um homem inteligente, com inquestionáveis capacidades de escrita e talentos de orador, cuja preladia atravessou o conturbado período histórico da revolução republicana e da consolidação do novo regime. As pastorais que dirigiu ao presbitério algarvio e que publicou na imprensa local, para que todos tivessem conhecimento dos negócios eclesiásticos na região, foram medidas duma exemplar transparência, raramente imitada.
O povo algarvio tinha pelo bispo Barbosa Leão uma grande simpatia e respeito, disso não temos a mínima dúvida. 
Para além de ter fundado o «Boletim do Algarve», precursor do semanário paroquial «Folha do Domingo», que ainda se publica, dirigiu também a revista “Missões de Angola e Congo” e colaborou com o jornal “Novidades”, órgão nacional da Igreja Católica em Portugal. Publicou diversa propaganda religiosa e duas obras fundamentais para o espírito teológico da igreja: “A Largueza do Reino de Deus” e “De que Espírito Somos?”.

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