Foi certamente uma das primeiras mulheres portuguesas a tirar um curso superior, sendo provavelmente a primeira a licenciar-se em Engenharia Agrónoma.
Não tenho a certeza se era natural de Faro, mas sei que era algarvia, descendente de boas famílias, que teve uma educação esmerada, com a qual, aliás, honrou os pergaminhos herdados dos seus antepassados.
Estudou no Liceu Nacional de Faro, nos anos iniciais do século vinte, tendo sido, juntamente com suas irmãs, uma das primeiras que abriram as portas daquele preclaro estabelecimento de ensino à frequência do belo sexo, num tempo em que só aos homens competia discernir o futuro, através da formação e chefia da família, da organização da sociedade e da liderança da vida política. Os rapazes, descendentes das famílias mais distintas e com maior poder financeiro, usufruíam do privilégio de investirem na sua própria formação intelectual, científica e profissional, frequentando para isso os melhores colégios e escolas, não só no país como até no estrangeiro.
O movimento feminista, que nos finais do século dezanove despontara na Grã-Bretanha, e que tivera na martirizada Rosa Luxemburgo o expoente máximo da grandeza intelectual da mulher, fez despontar em certas famílias a necessidade de cuidar da educação das suas filhas para as não deixarem à mercê dos maridos, nem do despotismo marital que tanto caracterizava a sociedade burguesa anterior à implantação da República.
Após concluir o curso liceal em Faro, com altas e distintas classificações, partiu para Lisboa onde se revelaria como uma das mais inteligentes e dedicadas investigadoras do curso de Agronomia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Projectada para uma grande carreira científica acabou por se apaixonar por esse grande valor nacional que foi o Eng.º Agrónomo e Silvicultor José de Pina Manique e Albuquerque, com quem se casou pouco depois. A distinção social e meios de fortuna do seu marido, descendente directo do grande Pina Manique e também da insigne família dos Albuquerque, não lhe permitiram prosseguir os seus trabalhos de investigação agronómica, resignando-se aos prazeres do lar e às responsabilidades de mãe. Ainda assim acompanhou o marido na direcção da Estação Agronómica Nacional, em torno da qual evoluíam as classes mais avançadas dos cursos de Agronomia e Silvicultura.
Resta acrescentar que a Eng.ª Agrónoma Teresa de Jesus Lopes, que presumo natural de Tavira, faleceu a 18-8-1965, em Lisboa, no seu requintado apartamento da Avenida da República, confortada pelos carinhos da sua filha, Helena Guiomar de Pina Manique e Albuquerque. Não quero terminar este breve apontamento biográfico, sem deixar de lembrar as suas irmãs, que a seu lado frequentaram o Liceu de Faro, e foram igualmente distintíssimas mulheres da sociedade do seu tempo, ambas licenciadas, figuras ilustres e de grande nobreza de carácter, que, igualmente, só não marcaram vincado relevo nos meios intelectuais e científicos, porque também elas foram casadas com prestigiadas figuras nacionais. A mais velha, a Dr.ª Branca Lopes Martins, casou-se com o eminente Professor Doutor Augusto da Silva Martins, de quem enviuvou relativamente cedo; e a mais nova, Dr.ª Maria João Lopes do Paço, foi casada com o notável arqueólogo Tenente-Coronel Afonso do Paço, que muito amou o Algarve e aqui mantinha residência de férias, para não falar já nos trabalhos de investigação que deu à estampa sobre esta região. No fundo foram três mulheres, belas e inteligentes, que tendo-se libertado da sociedade machista do seu tempo, através do investimento na sua própria formação intelectual e científica, acabaram por ser simplesmente distintas esposas de três grandes homens. Aquilo que poderia ter sido a excepção tornou-se na confirmação da regra.
sábado, 5 de março de 2011
ALBUQUERQUE, Teresa de Jesus Lopes de Pina Marques e
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