Não sou perito
na importância sociocultural dos Provérbios, sendo certo que acredito que o
nosso rifoneiro é uma espécie de orago da cultura popular. No fundo, o
provérbio contém em si uma conjugação do saber empírico com a transmissão dos
supremos valores da vida, como a ética, a moral, a justiça, a humildade, a
coragem, a gratidão, a lealdade, a amizade e, em suma, a honradez. Os
provérbios, adágios, aforismos, anexins ou simplesmente ditados populares, são
na essência conselhos dirigidos aos mais jovens, transmitindo-lhes de forma
sentenciosa, mas simples e memorizável, os melhores procedimentos
ético-sociais.
Existem várias
obras dedicadas à compilação do rifoneiro popular e do adagiário nacional.
Algumas são especializadas em temas, profissões, regiões, épocas, etc. Conheço
do Dr. José Pedro Machado, meu bom amigo já desaparecido, uma compilação
monumental a que deu o sugestivo título de «O Grande Livro dos Provérbios»,
publicado pela Editorial Notícias em 1996. Em mais de seiscentas páginas
compilou milhares desses aforismos populares, que os nossos avós tiveram a
bondade de nos transmitir, quando ainda nem sabíamos ler. Talvez fosse essa
mesma a origem dos provérbios, transmitir o saber adquirido pela experiência da
vida aos que não sabiam ler ou não tinham qualquer outra fonte de informação. A
forma simples e intuitiva dos avisos e conselhos contidos nos provérbios, é uma
verdadeira lição de vida e de ensinamento, ainda hoje muito prática, acessível
e útil. A musicalidade do provérbio ou ditado popular, expressa-se através da
forma rimada e poética como é concebido.
Trago hoje a público
apenas cinco ditados populares, que ouvi em diferentes lugares do Algarve, os
quais, ao contrário do que seria expectável nesta região, não rimam, mas têm um
peculiar "sabor" popular algarvio. Então vejamos:
«O pior ribeiro é o da porta» - significa que o mais difícil é
dispor-se alguém a fazer qualquer coisa, porque o mais fácil é não fazer nada;
ouvi este provérbio em Loulé.
«Barafunda não é peixe» - expressão que os pescadores usam para
aconselhar calma e evitar zaragata; ouvi este ditado na ilha da Armona e em
Olhão.
«Ficar à porta como o centeio» - provérbio usado para servir como
termo de comparação; confesso que para o citadino é um pouco difícil de
entender; ouvi-o em Moncarapacho.
«Quem vai a Alvor vai a Lagos, que é
mais uma légua de areia»
- ouvi esta sentença na praia do Alvor, cujo sentido me parece ser por demais
evidente no espírito dos marítimos.
«Mais sofreu Nossa Senhora no Algarve» - expressão usada para aconselhar
resignação; este ditado já o ouvi por todo o litoral algarvio; curiosamente é o
único que consta no Grande Livro do Dr. José Pedro Machado.
Para terminar
fica aqui o desafio: se algum dos meus amigos leitores conhecer algum provérbio
genuinamente algarvio, agradeço que o compartilhe aqui, para que todos possamos
desfrutar da sabedoria do nosso povo.
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