domingo, 3 de fevereiro de 2019

Aforismos Algarvios


Não sou perito na importância sociocultural dos Provérbios, sendo certo que acredito que o nosso rifoneiro é uma espécie de orago da cultura popular. No fundo, o provérbio contém em si uma conjugação do saber empírico com a transmissão dos supremos valores da vida, como a ética, a moral, a justiça, a humildade, a coragem, a gratidão, a lealdade, a amizade e, em suma, a honradez. Os provérbios, adágios, aforismos, anexins ou simplesmente ditados populares, são na essência conselhos dirigidos aos mais jovens, transmitindo-lhes de forma sentenciosa, mas simples e memorizável, os melhores procedimentos ético-sociais.
Existem várias obras dedicadas à compilação do rifoneiro popular e do adagiário nacional. Algumas são especializadas em temas, profissões, regiões, épocas, etc. Conheço do Dr. José Pedro Machado, meu bom amigo já desaparecido, uma compilação monumental a que deu o sugestivo título de «O Grande Livro dos Provérbios», publicado pela Editorial Notícias em 1996. Em mais de seiscentas páginas compilou milhares desses aforismos populares, que os nossos avós tiveram a bondade de nos transmitir, quando ainda nem sabíamos ler. Talvez fosse essa mesma a origem dos provérbios, transmitir o saber adquirido pela experiência da vida aos que não sabiam ler ou não tinham qualquer outra fonte de informação. A forma simples e intuitiva dos avisos e conselhos contidos nos provérbios, é uma verdadeira lição de vida e de ensinamento, ainda hoje muito prática, acessível e útil. A musicalidade do provérbio ou ditado popular, expressa-se através da forma rimada e poética como é concebido.
Trago hoje a público apenas cinco ditados populares, que ouvi em diferentes lugares do Algarve, os quais, ao contrário do que seria expectável nesta região, não rimam, mas têm um peculiar "sabor" popular algarvio. Então vejamos:
«O pior ribeiro é o da porta» - significa que o mais difícil é dispor-se alguém a fazer qualquer coisa, porque o mais fácil é não fazer nada; ouvi este provérbio em Loulé.
«Barafunda não é peixe» - expressão que os pescadores usam para aconselhar calma e evitar zaragata; ouvi este ditado na ilha da Armona e em Olhão.
«Ficar à porta como o centeio» - provérbio usado para servir como termo de comparação; confesso que para o citadino é um pouco difícil de entender; ouvi-o em Moncarapacho.
«Quem vai a Alvor vai a Lagos, que é mais uma légua de areia» - ouvi esta sentença na praia do Alvor, cujo sentido me parece ser por demais evidente no espírito dos marítimos.
«Mais sofreu Nossa Senhora no Algarve» - expressão usada para aconselhar resignação; este ditado já o ouvi por todo o litoral algarvio; curiosamente é o único que consta no Grande Livro do Dr. José Pedro Machado.
Para terminar fica aqui o desafio: se algum dos meus amigos leitores conhecer algum provérbio genuinamente algarvio, agradeço que o compartilhe aqui, para que todos possamos desfrutar da sabedoria do nosso povo.

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