No princípio do século XX era um jovem de espírito simples e modesto, sem ambições de futuro nem projectos de carreira. Era bondoso, sereno e pouco expansivo. Refugiava-se no silêncio das suas leituras e na exegese da Bíblia, o livro pelo qual regrou a sua conduta e modelou o seu carácter. Como não tinha apoios nem recomendações de gente importante, tornou-se num sacerdote sem futuro nem ambições de poder. Daí que após os votos sagrados, a sua carreira sacerdotal tivesse sido um verdadeiro périplo pelo interior pobre e desprotegido do Algarve.
Começou por exercer o seu múnus religioso nas
paróquias de Alcoutim, Santa Catarina da Fonte do Bispo, Giões e Cacela. Tudo
freguesias pobres e ignoradas do interior rural. As populações além de muito
pobres eram na sua maioria analfabetas e carenciadas de quase tudo, nomeadamente
dos mais elementares apoios sociais de educação e assistência médica. Nessas
aldeias do interior algarvio sobrevivia-se na dependência da terra, através da
agricultura e da pastorícia, sem que a maioria dos seus habitantes chegasse a sair da aldeia, para conhecer o mundo e a própria vida.
Por necessidade de serviço, e em benefício da
Igreja, o Padre Terramoto recebeu a incumbência de acumular as suas funções
presbiterais com a freguesia da Conceição de Tavira, onde foi, como sempre
muito bem quisto e admirado, não só pelo bom exercício das suas competências
ecuménicas, como principalmente pela sua dedicação aos mais pobres, aos
desvalidos e às crianças. Foi nestas duas últimas freguesias, de Cacela e da
Conceição de Tavira (conhecida por Cabanas de Tavira), que deixou mais
arreigadas saudades. Em Vila Nova de Cacela ainda hoje há quem se lembre dele
com profunda admiração e respeito, devido à acção religiosa que ali desenvolveu
ao longo de 26 anos consecutivos, a paroquiar aquela pobre freguesia de pescadores,
já então a sofrer uma indisfarçável decadência devido ao crescimento do
concelho vizinho de Vila Real de Santo António.
Como homem educado e instruído nas letras canónicas,
dedicou-se também à escrita, tendo inclusivamente colaborado assiduamente no semanário
farense «Folha de Domingo», onde manteve durante anos uma secção intitulada
«Reflexões obre o Evangelho», cujas mensagens aí explanadas serviram como guia
espiritual e de meditação religiosa para muitos sacerdotes que nas suas
paróquias, durante a missa dominical, explanavam na homilia as ideias
transmitidas pelo padre Terramoto naquele jornal diocesano.
Perto dos seus derradeiros dias de vida, o Padre
Terramoto sentiu faltar-lhe a saúde, recolhendo-se por isso à cidade de Faro,
onde contou com o apoio do presbitério e da corte diocesana, no apoio à doença
que o haveria de vitimar. Faleceu no dia 3 de Março de 1952. As gentes de Vila
Nova de Cacela, com o assentimento do município de Vila Real de Santo António
atribuíram-lhe uma das mais importantes artérias do casco urbano daquela praia
piscatório, como homenagem de gratidão e de reconhecimento pela forma como
dedicou os melhores anos da sua vida à protecção dos mais desfavorecidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário