Médico e autarca, nasceu em S. Bartolomeu de Messines, a
20-12-1899, onde também viria a falecer em 30-12-1949, com apenas 49 anos de
idade. Era filho de D. Conceição Neto Cabrita e do abastado proprietário local
Domingos Sequeira Cabrita, cujo espírito empreendedor lhe permitiu reunir
significativos meios de fortuna.
Busto do Dr. Francisco Cabrita, erigido frente ao Centro de Saúde da freguesia de S. B. de Messines |
Frequentou o Liceu de Faro e formou-se em Medicina, pela
Universidade de Coimbra, em 15-12-1926, fixando-se logo a seguir como clínico
na sua aldeia natal. Aqui desenvolveu o seu múnus clínico e aqui soube granjear
vastíssimo prestígio entre a população local. O povo simples e carente, amava-o
com absoluta sinceridade, a ponto de o cognominarem como “o pai dos pobres”.
Este honroso epíteto, deveu-se não só ao exercício do seu múnus de forma
gratuita, como ainda à forma como protegia os mais desfavorecidos, pagando os
medicamentos do seu bolso e, não raras vezes, saldando as dívidas das famílias
mais pobres nas mercearias locais. Naquela bonita terra, que também serviu de
berço a João de Deus, o maior poeta algarvio de sempre, era o Dr. Francisco
Cabrita a figura mais querida e popular, pela forma desinteressada com que
serviu o bem comum, e muito particularmente pela forma altruísta como protegeu
os mais carenciados.
No inicio da década de trinta, assistiu-se à consolidação
do Estado Novo e à consagração de Salazar como Primeiro Ministro. O país mergulhou
numa onda reorganizativa da vida social, com base na regulamentação legislativa
das novas instituições. As Casas do Povo foram um exemplo flagrante do
engajamento sociocultural das populações rurais. Imbuído desse espírito e
fazendo parte dessa onda nacional, se posicionava o Dr. Francisco Cabrita que,
em 1934, promoveu a criação da Casa do Povo de Messines, da qual seria
logicamente o seu primeiro presidente.
Fervoroso adepto das ideias nacionalistas, tornou-se pela
sua bondade e dedicação aos pobres, numa espécie de cacique local, razão pela
qual assumiu, em 1935, e durante alguns anos, sem remuneração, a presidência da
Câmara Municipal de Silves. Quando o ministro Duarte Pacheco pensou no
incremento do turismo (que se encontrava desde 1933 sob a alçada do SPN - Secretariado
da Propaganda Nacional), para cujo impulso inicial contou com a decisiva ajuda
de António Ferro, avançou-se em todo o país, na esteira das Comemorações
Centenárias de 1940, para a criação das comissões de iniciativa municipal de
Arte e Turismo. Na zona litoral, em particular nas praias de maior potencial
turístico, de que era paradigma emergente a Praia da Rocha, Quarteira e Monte
Gordo, no Algarve, evolui-se para a criação local das Juntas de Turismo, tendo
o Dr. Francisco Cabrita fundado e presidido à da Praia de Armação de Pêra,
devendo-se à sua enérgica iniciativa a construção da Avenida Marginal, que
ainda hoje é o local mais aprazível daquela estância turística.
Tratando-se de uma figura muito conhecida e respeitada em
todo o Algarve, não admira que fosse convidado a aceitar o exercício, em
simultâneo, das funções de médico da Casa do Povo, da Federação das Caixas de
Previdência e da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Na visita aos
seus doentes deslocava-se a cavalo pelos campos adentro, munido dos apetrechos
médicos, fazendo todo o tipo de assistência médica, desde partos a fraturas
ósseas, de pequenas cirurgias até ao tratamento de tuberculosos em adiantado
estado de doença. E raras foram as vezes em que perdeu um paciente. A
tuberculose e as doenças infecto-contagiosas, sobretudo nas camadas infantis,
eram na época um flagelo, a que o Dr. Cabrita deu o melhor do seu esforço, num
combate permanente entre a vida e a morte.
Busto do Dr.Francisco Cabrita, autoria do escultor José Carlos O pedestal, em grés de Silves, é um trabalho de Bruno Matos. |
A determinada altura sentiu-se doente e caiu no leito
durante largos meses, num cruciante sofrimento de que resultaria a sua morte
prematura. Uma doença cancerosa vitimou-o precocemente, numa altura em que
acalentava realizar vários projectos locais, para o desenvolvimento da
indústria na sua aldeia natal, e para a saúde pública no concelho de Silves.
Em face de todas as iniciativas que promoveu, quer como
médico quer como político local, o Dr. Francisco Cabral era certamente a figura
pública mais conhecida do barlavento algarvio, razão pela qual o seu funeral,
com mais de seis mil pessoas presentes, foi uma das maiores manifestações de
pesar alguma vez presenciadas no Algarve.
Era casado com D. Inácia Nobre Figueira Neto Cabrita e
pai de Domingos Manuel Figueira Neto Cabrita.
Por decisão da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu de
Messines foi dado o seu nome à rua onde sempre viveu e faleceu.
Sem comentários:
Enviar um comentário