sábado, 20 de junho de 2020

CABRITA, Francisco Neto


Médico e autarca, nasceu em S. Bartolomeu de Messines, a 20-12-1899, onde também viria a falecer em 30-12-1949, com apenas 49 anos de idade. Era filho de D. Conceição Neto Cabrita e do abastado proprietário local Domingos Sequeira Cabrita, cujo espírito empreendedor lhe permitiu reunir significativos meios de fortuna.
Busto do Dr. Francisco Cabrita,
erigido frente ao Centro de Saúde
da freguesia de S. B. de Messines
Frequentou o Liceu de Faro e formou-se em Medicina, pela Universidade de Coimbra, em 15-12-1926, fixando-se logo a seguir como clínico na sua aldeia natal. Aqui desenvolveu o seu múnus clínico e aqui soube granjear vastíssimo prestígio entre a população local. O povo simples e carente, amava-o com absoluta sinceridade, a ponto de o cognominarem como “o pai dos pobres”. Este honroso epíteto, deveu-se não só ao exercício do seu múnus de forma gratuita, como ainda à forma como protegia os mais desfavorecidos, pagando os medicamentos do seu bolso e, não raras vezes, saldando as dívidas das famílias mais pobres nas mercearias locais. Naquela bonita terra, que também serviu de berço a João de Deus, o maior poeta algarvio de sempre, era o Dr. Francisco Cabrita a figura mais querida e popular, pela forma desinteressada com que serviu o bem comum, e muito particularmente pela forma altruísta como protegeu os mais carenciados.
No inicio da década de trinta, assistiu-se à consolidação do Estado Novo e à consagração de Salazar como Primeiro Ministro. O país mergulhou numa onda reorganizativa da vida social, com base na regulamentação legislativa das novas instituições. As Casas do Povo foram um exemplo flagrante do engajamento sociocultural das populações rurais. Imbuído desse espírito e fazendo parte dessa onda nacional, se posicionava o Dr. Francisco Cabrita que, em 1934, promoveu a criação da Casa do Povo de Messines, da qual seria logicamente o seu primeiro presidente.
Fervoroso adepto das ideias nacionalistas, tornou-se pela sua bondade e dedicação aos pobres, numa espécie de cacique local, razão pela qual assumiu, em 1935, e durante alguns anos, sem remuneração, a presidência da Câmara Municipal de Silves. Quando o ministro Duarte Pacheco pensou no incremento do turismo (que se encontrava desde 1933 sob a alçada do SPN - Secretariado da Propaganda Nacional), para cujo impulso inicial contou com a decisiva ajuda de António Ferro, avançou-se em todo o país, na esteira das Comemorações Centenárias de 1940, para a criação das comissões de iniciativa municipal de Arte e Turismo. Na zona litoral, em particular nas praias de maior potencial turístico, de que era paradigma emergente a Praia da Rocha, Quarteira e Monte Gordo, no Algarve, evolui-se para a criação local das Juntas de Turismo, tendo o Dr. Francisco Cabrita fundado e presidido à da Praia de Armação de Pêra, devendo-se à sua enérgica iniciativa a construção da Avenida Marginal, que ainda hoje é o local mais aprazível daquela estância turística.
Tratando-se de uma figura muito conhecida e respeitada em todo o Algarve, não admira que fosse convidado a aceitar o exercício, em simultâneo, das funções de médico da Casa do Povo, da Federação das Caixas de Previdência e da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. Na visita aos seus doentes deslocava-se a cavalo pelos campos adentro, munido dos apetrechos médicos, fazendo todo o tipo de assistência médica, desde partos a fraturas ósseas, de pequenas cirurgias até ao tratamento de tuberculosos em adiantado estado de doença. E raras foram as vezes em que perdeu um paciente. A tuberculose e as doenças infecto-contagiosas, sobretudo nas camadas infantis, eram na época um flagelo, a que o Dr. Cabrita deu o melhor do seu esforço, num combate permanente entre a vida e a morte.
Busto do Dr.Francisco Cabrita, autoria do escultor José Carlos
O pedestal, em grés de Silves, é um trabalho de Bruno Matos.
Por outro lado, em face das suas convicções políticas, de nacionalista e entusiasta admirador do Doutor Oliveira Salazar, tornou-se no comandante de lança da Legião Portuguesa no Algarve. Faço lembrar que o único benefício que usufruía desse cargo era o de figurar nos lugares cimeiros das celebrações políticas e religiosas, sobretudo nas procissões pascais. Embora a Legião fosse uma espécie de milícia militar, de pouco lhe serviria o Dr. Francisco Cabrita que não fora soldado nem sabia disparar uma arma.
A determinada altura sentiu-se doente e caiu no leito durante largos meses, num cruciante sofrimento de que resultaria a sua morte prematura. Uma doença cancerosa vitimou-o precocemente, numa altura em que acalentava realizar vários projectos locais, para o desenvolvimento da indústria na sua aldeia natal, e para a saúde pública no concelho de Silves.
Em face de todas as iniciativas que promoveu, quer como médico quer como político local, o Dr. Francisco Cabral era certamente a figura pública mais conhecida do barlavento algarvio, razão pela qual o seu funeral, com mais de seis mil pessoas presentes, foi uma das maiores manifestações de pesar alguma vez presenciadas no Algarve.
Era casado com D. Inácia Nobre Figueira Neto Cabrita e pai de Domingos Manuel Figueira Neto Cabrita.
Por decisão da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu de Messines foi dado o seu nome à rua onde sempre viveu e faleceu.

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