terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Efemérides Algarvias – 11 a 13 Janeiro

O poeta João de Deus, com os seus filhos, vendo-se
 a esposa na varanda fronteira à sua casa de Lisboa
11 de Janeiro de 1896 – morre em Lisboa o poeta João de Deus, consagrado na memória lusíada com o epíteto de “poeta das crianças”, por ter dedicado grande parte da sua vida à invenção de um método pedagógico de leitura, para ser utilizado no ensino primário. Era algarvio, natural de São Bartolomeu de Messines, e tinha a bonomia prazerosa das gentes meridionais. Os amigos, que os teve em grande número, descreviam-no como homem ponderado, de voz macia e dócil, com raras exteriorizações da gloriosa auréola de pândego, que o tornaram famoso nos dez anos que demorou a concluir o curso de Direito, em Coimbra, tantos quantos demorou Agamémnon a conquistar Tróia – dizia em amena galhofeira o então jovem poeta.
O poeta caricaturado por Bordalo Pinheiro
João de Deus, que é hoje um verdadeiro “Pai da Pátria” – e por isso repousa no panteão dos Jerónimos – foi um homem bom, generoso, sério e honrado, um grande talento nacional, sempre lembrado como o poeta do «Campo de Flores» e o pedagogo da «Cartilha Maternal», cujo método de leitura ajudou sucessivas gerações de crianças pobres a saírem da aviltante situação do analfabetismo e, por isso, submissas vítimas da desumana exploração que se viveu nos campos e nas fábricas deste país. Na batalha da educação nacional e na guerra contra o obscurantismo, João de Deus foi um verdadeiro herói, um grande português a quem presto nesta singela evocação a mais sentida homenagem.
13 de Janeiro de 1754 – A faixa costeira algarvia, desde a ponta de Sagres até Tavira, foi assolada por um violento furação, com ventos fortíssimos, que se presume, pelos estragos causados, serem equivalentes às rajadas de duzentos km/hora que hoje se verificam em iguais cataclismos. Acresce que a este ciclone sucederam chuvas torrenciais, que pioraram a situação de habitabilidade nas casas térreas, as quais na freguesia de S. Pedro correspondiam à principal mancha urbana, visto ser uma área habitada maioritariamente por pescadores e gente pobre da cidade.
Igreja de S. Pedro em Faro, vendo-se a torre que caiu
Por isso, foi em Faro, que se registaram os estragos mais avultados, com destelhamentos e derrocada de casas, nomeadamente a torre da Igreja de S. Pedro, cujo desabamento sobre os casebres vizinhos, causou colossais prejuízos. A perda de vidas parece, todavia, ter sido muito significativa nas Terras do Cabo, correspondente ao antigo concelho de Sagres cuja quebra demográfica justificaria a sua extinção em 6-11-1836, com a reforma administrativa de Passos Manuel, a mesma que abateu o Reino do Algarve, dando lugar ao distrito de Faro. Já agora, acrescento que a histórica vila de Sagres andou em sucessivas bolandas administrativas. Primeiro foi a sua transmutação em 1836 no concelho Vila do Bispo, depois passou em 1855 para o de Lagos, recuperando a sua autonomia em 1861, voltando em 1895 a ser reanexado ao de Lagos, até que em 1898 seria definitivamente restaurado, na sua designação e território.
13 de Janeiro de 1904 – Estabeleceu-se o contrato entre o Governo e a firma «Macieira & Filhos» com vista ao restabelecimento das carreiras regulares por via marítima, entre Lisboa e o Algarve, com escala em Portimão, Faro e Vila Real de Santo António. Este contrato foi decisivo para o desenvolvimento económico do Algarve, já que as comunicações por terra se resumiam praticamente ao caminho de ferro, que só chegaria à foz do Guadiana em 1906. Os transportes de mercadorias, por grosso e em larga escala, só eram economicamente viáveis por via marítima, que permitia a trasfega no porto de Lisboa para os diversos mercados da Europa. Além disso, as principais empresas comerciais do trato internacional, sediadas no Algarve, eram estrangeiras, de origem inglesa, francesa, espanhola, italiana, etc.

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