O poeta João de Deus, ainda novo, numa pose de burguês, muito adversa à sua mentalidade de homem do povo. |
Falei aqui, há bem pouco, do "poeta das crianças", João de Deus, nascido na ridente, e hoje prospérrima, aldeia de São Bartolomeu de Messines, no histórico concelho de Silves. Disse que estava o seu féretro depositado no Panteão dos Jerónimos, todavia o seu desejo seria ficar sepultado ao lado dos pais na sua aldeia natal. É essa derradeira vontade que transparece, cristalina e indubitável, no seu magistral poema "Pátria", do seu imortal e inigualável, «Campo de Flores», 5.ª ed., Lisboa, Liv. Aillaud e Bertrand, s/d, tomo I, p. 313.
Aqui vos deixo na íntegra esse belíssimo poema, do qual ressalto o último verso, que o meu amigo João Leal, decano dos jornalistas algarvios, tanto gostava de evocar nos seus arrebatantes discursos:
Como o pródigo volta ao lar paterno
Desenganado do que em vão procura,
Eu já desfalecido nesta lida
De sonhos sobre sonhos de ventura,
Desejava dormir o sono eterno
Abrindo junto ao berço a sepultura!
Fechar em suma o círculo da vida
No saudoso ponto de partida!
Chegado pois. Senhor, aquele dia
Que se me apague a luz que me alumia,
Deixai-me descansar onde repousa
Meu santo pai, e sua terna esposa
— A minha santa mãe!
Ser-me-à assim mais leve a fria lousa...
Que a terra onde se nasce é mãe também!
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