sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O poeta Salazar Mosocoso, na miséria

Publicou-se na imprensa algarvia, nos anos trinta do século passado, uma “Carta de Lisboa” da autoria do Dr. Ludovico de Meneses, na qual se instava aos homens da cultura e aos estudantes do Liceu de Faro para que abrissem uma subscrição público com o objectivo de acudir ao estado de miséria em que se encontrava o grande poeta lacobrigense Salazar Moscoso, então a residir na cidade de Santarém, onde aliás, pouco depois, viria a falecer.
A razão desse apelo à solidariedade intelectual prendia-se com o facto daquele ilustre poeta ter enviado ao Dr. Ludovico de Meneses (de quem fora colega e dilecto amigo no tempo em que ambos leccionaram no Liceu de Faro) uma carta contendo um pedido de auxílio entregue por intermédio de um amigo, cujo teor passo a transcrever:

Santarém, 3-4-1932
Meu caro Menezes

Apresento-te o meu excelente amigo Alfredo de Moraes, antigo jornalista e escritor distinto, de fino espírito e vasta ilustração, com cuja amizade me honro e congratulo.
Ele melhor do que eu, te exporá a minha angustiosa situação e a absoluta carência em que me encontro da assistência dos meus amigos e especialmente dos meus comprovincianos.
Sem mais abraça-te o teu velho amigo
Bartolomeu Salazar Moscozo


Nessa sua «Carta de Lisboa» o Dr. Ludovico de Menezes, para comprovar a beleza e inspiração lírica do seu dilecto amigo, publicou o seguinte sonetilho de Salazar Moscoso:

NUPCIAS

Ao teu solar que branqueja,
Sobre um alto monte erguido
Agora, com teu marido,
Vens recolhendo da igreja.

Tem o prado que floreja
Um frémito indefinido,
Todo o povo reunido
Do véu a fímbria te beija.

E os choupos, os amieiros,
Acompanham, mesureiros
As saudações da ribeira

Só as abelhas douradas
Choram por ver desfolhadas
As flores da laranjeira!

Este belo sonetilho, no qual o genial poeta exalta a vaporosa figura da mulher/noiva, constitui uma espécie de apoteose parnasiana da beleza feminina, cuja sequência rítmica do verbo lírico revela um poeta de rara inspiração e de profundo sentimentalismo romântico.

J.C.V.M.

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