A figura mais notável da História da Industria Conserveira no Algarve, foi sem sombra para dúvidas João António Júdice Fialho, um homem inteligente e empreendedor, que nas primeiras décadas do século XX conseguiu conquistar os principais mercados europeus com as suas conservas de atum e de sardinha, mas também com as suas massas alimentícias, compotas e marmeladas. Foi dos poucos industriais das pescas que há mais de um século atrás soube visionar o conceito de globalização à escala atlântica, investindo na aquisição de modernos meios de transformação industrial do pescado, cujos avultados lucros lhe permitiram diversificar a produção e reinvestir noutros segmentos de mercado.
Palácio Fialho hoje propriedade da Diocese do Algarve |
Nessa altura poucos se interessavam em Faro, ou no Algarve, pelo coleccionismo de peças artísticas e de antiguidades, paixão essa que herdou do sogro, o famoso Dr. Justino Cúmano, que foi no último quartel do séc. XIX um verdadeiro mecenas da arte e da cultura algarvia, proprietário do Teatro Lethes e grande impulsionador da Arte de Talma no Algarve.
Iniciou a sua actividade industrial precisamente na cidade de Faro onde
fundou uma fábrica de álcool que por razões conjunturais teve efémera duração.
Investiu depois no ramo da indústria da pesca do atum e da sardinha, sector
tradicional mas de confiável retorno financeiro. Depressa se apercebeu da
oportunidade do sector conserveiro, que nos finais do séc. XIX estava ainda a
dar os primeiros passos, fundando algumas fábricas em Portimão e Lagos. Anos
depois fundaria novas e sofisticadas unidades fabris na cidade de Faro, nas
vilas de Olhão e Espinho, tendo por fim avançado para a ilha da Madeira, onde
se tornou o principal industrial do sector, tal como aliás acontecia no
Algarve. O número de operários, que tinha por sua conta nas diversas fábricas
espalhadas pelo país, ascendia a largos milhares.
As marcas que lançou no mercado, sobretudo das suas conservas de
sardinha eram as mais conhecidas na Europa, principalmente em Inglaterra, onde
praticamente dominava esse sector de mercado. As latas de sardinha e de atum
das fábricas algarvias da Casa Fialho foram imprescindíveis para a alimentação
dos exércitos beligerantes durante a I Guerra Mundial.
Pedra de litografia usada nas conservas de Júdice Fialho |
Teve uma vida de intenso trabalho, com muitos dissabores, traições e
desilusões, que lhe endureceram o carácter. Retirou da sua experiência como
empresário uma capacidade negocial invulgar e uma diplomacia nas relações
exteriores muito peculiar. Soube extrair das relações com os políticos
nacionais e estrangeiros grandes lições, umas positivas quando baseadas na
honra, outras negativas quando envasadas na corrupção. De todas soube sempre
colher ensinamentos que lhe foram muito úteis no seu longo percurso
empresarial. Muitas dessas falsas amizades usou-as em proveito próprio. Não
obstante, foi um dos maiores industriais das pescas e da transformação
conserveira no país, com fábricas no Algarve e noutras regiões do país,
contribuindo com as suas iniciativas empresariais para o desenvolvimento da
economia nacional.
Panorâmica do palácio Fialho, actual Colégio do Alto |
Também investiu na pesca do bacalhau, enviando vários navios da sua
frota pesqueira do Algarve para os bancos na Terra Nova de onde voltavam
carregados de peixe que era depois aqui submetido à secagem, embalagem e
exportação para os mercados consumidores em todo o mundo. Embora o Algarve tivesse condições
muito propícias à indústria da secagem do bacalhau, o certo é que depois da
experiência da Casa Fialho praticamente não houve quem prosseguisse no aproveitamento desse sector.
Face aos seus negócios e aos avultados meios de fortuna, Júdice Fialho
passava largas temporadas no estrangeiro usufruindo da avançada cultura dos
países do centro europeu, adquirindo conhecimentos nos mais diversos meios,
quer científicos quer artísticos. A sua educação e esmerado bom gosto, levou-o
a coleccionar imensas obras de arte, principal-mente quadros, tapeçarias,
esculturas e ricas porcelanas, com as quais decorou e enriqueceu o seu palácio
de Faro.
soldagem das latas de conservas |
Em 17-4-1916, a Câmara Municipal de Portimão prestou-lhe uma homenagem pública, descerrando o seu retrato no salão nobre daquela edilidade, como prova de gratidão pelo desenvolvimento económico prestado à sua terra-natal.
Dois dias antes de falecer foi submetido a uma intervenção cirúrgica
que correu satisfatoriamente, sucumbindo no pós-operatório por causa de um ataque cardíaco, enfarte agudo do miocárdio.
Foi casado com D. Maria Antónia Cúmano Fialho, que era descendente de
uma das mais prestigiadas famílias do Algarve, filha do médico italiano Dr.
Justino Cúmano. Teve duas filhas, D. Justina Cúmano Fialho de Sousa Coutinho,
casada com D. António de Sousa Coutinho, Conde de Linhares, e de D. Isabel
Cúmano Fialho de Mendonça, viúva de Jorge de Mendonça.
O féretro do benemérito industrial chegou a Faro por via-férrea no dia
21-5-1934, ficando depositado no jazigo da família Cúmano até que ficasse
pronto o mausoléu que a viúva mandou edificar no Cemitério da Esperança. O seu
funeral foi uma grandiosa manifestação de pesar, demonstrada por milhares de
pessoas que deviam ao defunto diferentes provas de amizade e de protecção.
Vieram camionetas de todo o Algarve, especialmente de Portimão, Peniche e
Sines, onde aquele industrial possuiu fábricas e propriedades agrícolas.
O nome de João António Júdice Fialho encontra-se imortalizado na toponímia das cidades de Faro, Sines e Portimão. Recentemente o município de Portimão atribuiu-lhe o nome a uma Escola do Ensino Básico dos 2º e 3º Ciclos.
Conheci um senhor de nome Fialho por volta de 1958/9 o qual residia num palacete situado no jardim da Alagoa em Faro,hoje é um Hostel. Seria familiar do senhor referido no vosso artigo?
ResponderEliminarEra familiar, presumo que neto ou sobrinho-neto, mas não tenho a certeza.
EliminarTrabalho há 25 anos na antiga fábrica do grupo Fialho, em Peniche. esta fábrica foi vendida à multinacional americana Heinz em meados de 1988. sou o responsável pelas compras de pescado desta empresa desde Fevereiro de 1992. Sabemos que a fábrica foi construída em 1915 mas não sabemos a data. será possível ajudar-me nesta questão? Muito obrigado
ResponderEliminarRelatos antigos... mencionam uma filha de nome Branca. Existe alguma informação sobre este facto?
ResponderEliminarCom efeito, existiu uma filha de nome Branca, que faleceu em criança.
ResponderEliminarBoa tarde
EliminarSou Júdice de nome e sei que só existe uma família Júdice em Portugal
Como posso ter mais noticias sobre a família?
Maria Joãio
Boa tarde
EliminarEsta Sra. Branca, segundo consta na história da família, era minha bisavó (será que era a mesma que se diz que morreu em criança?). Deserdada pelos pais por ter casado com um humilde sapateiro (de nome Pinto), esta bisavó vivia em Lagoa e teve três filhas: Ema, Leonilde e Maria (sendo Ema Judice Pinto a minha avó).A avó Ema contava que na sua infância visitava a avó numa casa senhorial em Lagoa e cujo avô se dedicava à industria conserveira e de pescas. Será que existem dados que confirmem estas histórias? Ou pertencem a outro ramo da família?
Com os Melhores Cumprimentos
Jorge Claro
Meu nome e Elisabete Barradads Lourenco Rodrigues. A minha avo, era Leonilde e as tias avos, era Ema e Maria. Tinhamos um primo Jose, que me contou a mesma historia, e mais tarde a mesma historia foi confirmada pela minha mae, Maria Odete filha unica da Leonilde. O Centro de Turismo em Portimao tambem me contou o mesmo e informou-me que existe um livro sobre as 10 primeiras familias do Algarve, a nossa familia sendo uma delas. A minha mae sempre me disse que o nome da familia era Judice de Sousa Pinto. Ate um dia destes primo.
EliminarAlguém sabe se nessa fábrica havia um contabilista ou responsável que se chama-se Domingos Abraços?
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