Exemplo dos Lavores femininos |
Haverá ainda hoje certamente muitas senhoras farenses que se recordam de Dª Maria do Céu Rio, uma prestigiada professora de Lavores Femininos, que ensinou a muitas jovens meninas os primeiros rudimentos das artes manuais, e da educação feminina, especialmente das chamadas artes menores. Mas os principais aspectos desse tipo de ensino prendiam-se com a chamada educação feminina, relacionadas com actividades domésticas, como bordar, costurar, passajar, remendar e até reciclar roupa usada, mas também pintar, modelar o barro, fazer tapeçarias, e até cozinhar. Noções de higiene, de puerícia e de civilidade, eram igualmente veiculadas às jovens alunas.
Esta conceituada professora de Lavores e de Educação Feminina não nasceu no Algarve, mas isso não obstou a que fosse considerada, nos anos quarenta e cinquenta do século XX, como uma das mais apreciadas e respeitadas professoras do Ensino Técnico Profissional no Algarve.
Maria do Céu Rio, nasceu em Lisboa no ano de 1890, e fez toda a sua formação escolar e profissional na capital, onde viria a conhecer o seu marido, José Fernandes Guerreiro, algarvio que julgo nascido em Loulé, também professor-mestre na área do Ensino Técnico-Profissional.
Por razões de facilidade de colocação profissional, e também por conveniência conjugal, decidiram ambos concorrer à Escola Industrial e Comercial de Faro, em cujo quadro docente foram integrados, na qualidade de mestres nas suas áreas de especialização, ela nos Lavores e ele no Desenho Industrial e Oficinas. Ambos adquiriram rapidamente uma certa aura de competência e de prestígio profissional, que lhes foi conferida pelos colegas, mas principalmente pelos alunos, que reconheciam na Profª Maria do Céu uma forte veia artística e uma apetência natural para o desenho, para a pintura, e muito especialmente para os bordados e tapeçarias. Por outro lado, era uma senhora muito simpática, de boa educação, porte fino e lanheza de trato. Mostrava-se sempre condoída com a infelicidade alheia, com os pobres e as agruras dos necessitados, participando com o seu esforço e os seus lavores artísticos na angariação de meios para acudir às crianças desvalidas e às famílias mais desfavorecidas. Era em tudo um coração terno, de espírito solidário e benfazejo.
Um lenço bordado na aula de Lavores |
Ao longo da sua vida dedicou-se ao estudo das artes tradicionais portugueses, particularmente na área da tapeçaria, aprendendo as técnicas mais exigentes, não só de Portalegre como também de Arraiolos, inclusivamente os bordados de Castelo Branco, e outras técnicas mais populares mas menos exigentes.
Mercê da sua disponibilidade e espírito cooperante, mas também pelo seu talento artístico e grande aptidão para o restauro de obras de arte, foi-lhe pedido que efectuasse o restauro das tapeçarias de Tavira existentes no Museu da Figueira da Foz, o que fez com que se dedicasse ao estudo dos tapetes tradicionais franceses executados na conformidade das técnicas de Aubusson.
Trabalhou na Escola Industrial e Comercial de Faro durante mais de trinta anos, até à aposentação por limite de idade, granjeando provas da maior admiração e simpatia por parte dos seus colegas, alunas e funcionários, que não regateavam elogios aos seus gestos de bondade e de generosidade, mas também às provas da sua elevada competência profissional.
Faleceu a 25 de Setembro de 1974, quando tinha 74 anos de idade, e toda a sociedade farense sentiu com extremo pezar o seu desaparecimento. A Escola Industrial e Comercial de Faro deu a público um voto de luto pelo falecimento da Profª Maria do Céu Rio, cujo inconsolável marido ainda continuava ligado àquela instituição de ensino.
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