sábado, 15 de agosto de 2020

Capitão Palermo, das ordenanças de Loulé, julgado por embriaguez


A família Palermo era uma das mais distintas na vila de Loulé no século XIX. A sua origem era certamente italiana, mas quando chegou a terras lusas vinha importada da vizinha Espanha. Um dos seus descendentes, Cláudio Francisco Palermo, era um homem de posses que gozava do prestígio social que os bens de fortuna lhe conferiam.Por isso, quando houve que eleger entre as famílias nobres da vila um capitão para a Companhia de Ordenanças de Loulé, escolheram o Cláudio Palermo que com o decorrer dos anos acabou por desiludir os que nele depositavam a maior confiança para o exercício das funções de defesa dos habitantes da vila, face a um cataclismo natural ou a um ataque militar. Não sei a razão que levou o respeitado capitão Palermo a descurar as suas obrigações, e a refugiar-se no álcool, talvez na aguardente ou “bebidas espirituosas”, enveredando pelo caminho da embriaguez, que lhe arruinou a saúde, a carreira militar e o crédito social. Acabou por ir parar a tribunal militar sob a acusação de desleixo e negligência das funções que lhe foram conferidas.
Panorâmica da vila de Loulé nos finais do século XIX, vendo-se a muralha do castelo e a torre da Matriz
Felizmente, os juízes do tribunal militar, em sessão de julgamento realizada a 11 de Agosto de 1827, acabariam por absolver o capitão Palermo das acusações de relaxe, desalinho por embriaguez e incúria, no exercício das funções inerentes ao comando da Companhia de Ordenanças de Loulé.
Os jornais da capital, nomeadamente a «Gazeta Constitucional», órgão do governo, na sua edição nº 33 de 22-9-1827, publicou o desfecho deste caso através da notícia que extratamos para a posteridade:
LOULÉ - Ponte medieval no Pego dos Cavalos
«Claudio Francisco Palermo, capitão da 5ª companhia do terço das Ordenanças de Loulé, foi accuzado de ter huma desordenada vida pelo mao uzo de bebidas espirituosas, que o reduz a huma embriaguez effectiva, de que tem sido por vezes advertido pelo seo coronel, e corrigido até com prizão; e absolvido por sentença do conselho de guerra regimental, que o de justiça confirmou, em vista das suas respostas, e defeza, e a não ser accuzado de falta alguma de serviço, e por isso não compreendido em algum dos artigos de guerra.»
A solidariedade militar, neste caso, funcionou bem e o capitão Palermo foi absolvido de todas as acusações, principalmente da sua embriaguez crónica.

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