Muito se tem escrito ao longo dos tempos sobre o Algarve. Não iremos fazer aqui uma pesquisa exaustiva das opiniões críticas emitidas em livro por autores diversos e dispersos, porque a tanto não nos sobejaria nem a paciência nem o espaço. Faremos, apenas um breve bosquejo de algumas apreciações, que nos pareceram mais elucidativas, mas belas ou mais eloquentes. São uma espécie de caleidoscópio dos diversos ângulos pelos quais se podem apreciar as qualidades naturais, ambientais e humanas desta região bendita, que os portugueses e os estrangeiros admiram, mercê das suas particulares belezas e sobretudo das suas singularidades histórico-culturais.
Falcão Trigoso, Algarve, seca do figo, quadro de 1911 |
Assim, acerca do Algarve aqui ficam alguns
informes coligidos a esmo. Comecemos pela caracterização do conceito histórico de Região:
«… o antigo "reino do Algarve", a última zona a
incorporar-se na unidade territorial portuguesa, não teve apenas, com efeito, a
sua individualidade bem reconhecida no título que usavam os nossos primeiros reis, mas sempre
se considerou bem separado do resto do país: num documento de 1595, citado pelo
Dr. Leite de Vasconcelos (Biblos,vol.
VI, pág. 487), fala-se, por exemplo: da “estrada que vai de Tavira para
Portugal”, e Baptista de Castro no seu Mapa
de Portugal (vol. I. pág. 77), ainda escrevia que o Algarve ficava “separado
de Portugal pelos montes Caldeirão e Monchique”. E só por esta circunstância se
explica talvez o facto de ser o Algarve a única zona do país onde o distrito
veio sobrepor-se exactamente à antiga divisão provincial, constituindo, por
outro lado, uma razão até certo ponto atendível para que a ela se faça
corresponder também uma região geográfica verdadeiramente digna deste nome.» A.
de Amorim Girão, Esboço duma carta regional
de Portugal, 2.ª ed. p. 8.
«...
quando se fala da região algarvia, é sobretudo a zona litoral do Algarve
administrativo e histórico que queremos referir-nos. É, de facto, o seu manto
de sedimentos secundários e terciários que "transforme le pays en un
véritable jardin" no justo e autorizado dizer de Lapparent (Leçons de géographie
physique, 3.ª ed., pág. 463). A. de Amorim Girão, Esboço duma carta regional de Portugal, 2.ª ed. p. 136.
Algarve, família camponesa varejando a azeitona das oliveiras |
«…quem
entra no Algarve pelo caminho de ferro reconhece bem que não é em S. Marcos da
Serra, onde o solo e a paisagem são ainda os do Alentejo, mas apenas em S.
Bartolomeu de Messines, precisamente no limite setentrional da orla mesozóica,
que de súbito nos julgamos transportados a um verdadeiro mundo à parte.» in A.
de Amorim Girão, op. cit., p. 174.
«Tanto
o Algarve se considerava dantes divisão distinta do resto de Portugal, que em
certos documentos algarvios dos séculos XVI e XVII se fala dele como se fosse
outra nação, por exemplo: em 1595 diz-se numa confrontação: “...a estrada que
vai á aldeia de Moncarapacho e sidade de Tavira pêra Portugal...”; em 1607,
noutra confrontação: “...dali sempre pella estrada de Portugal”, isto é, que
vai para Portugal.» (J. L. V., Opúsculos, vol.V, p.330).
Postal antigo, traje rural da algarvia |
Do ponto de vista natural, ambiental e orográfico, o Algarve aparece-nos descrito e apreciado como uma região distinta, com culturas próprias e exclusivas, um clima ameno e dócil, uma réstia, em suma, do paraíso terrestre:
«As culturas
arvenses, e, em especial, da amendoeira, da figueira e da alfarrobeira, têm um
considerável desenvolvimento nesta sub-região (o litoral) que mais parece um
pomar, onde o homem, no dizer do Portugal
Pequenino, “é, como o árabe, mais hortelão do que lavrador”; e algumas
espécies vegetais próprias dos climas quentes, como a palmeira, a bananeira, o
esparto, etc., contribuem ainda para dar-lhe um aspecto inédito em Portugal.»
A. de Amorim Girão, Esboço duma carta regional de Portugal, 2.ª ed., p.140.
Amendoeiras em flor, camponesa algarvia |
«...Todo o Algarve é um pomar cultivado com esmero.
A gente ao Alentejo, quando vê um bocado de terra bem tratado, diz: - É um
pedacinho do Algarve». (Raul Brandão, Os Pescadores.
«...as casinhas aglomeradas, muito brancas, escorrem
luz brilhante, como numa paisagem de esmalte...» Mariana Santos, «O Barranco do Velho», in Biblos, vol. VIII, 203.
«…o Algarve que é um pomar cultivado com esmero, e a costa, a mais recortada e piscosa
de Portugal, com as suas praias
esplêndidas, a água que às vezes
parece caldo azul e ao pé dos
areais as armações do atum, o peixe
que com a sardinha dá mais
dinheiro em Portugal.» Maria Angelina e Raul Brandão, Portugal Pequenino,
Lisboa, 1930, p. 109.
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