terça-feira, 29 de janeiro de 2019

O Algarve na opinião alheia


Muito se tem escrito ao longo dos tempos sobre o Algarve. Não iremos fazer aqui uma pesquisa exaustiva das opiniões críticas emitidas em livro por autores diversos e dispersos, porque a tanto não nos sobejaria nem a paciência nem o espaço. Faremos, apenas um breve bosquejo de algumas apreciações, que nos pareceram mais elucidativas, mas belas ou mais eloquentes. São uma espécie de caleidoscópio dos diversos ângulos pelos quais se podem apreciar as qualidades naturais, ambientais e humanas desta região bendita, que os portugueses e os estrangeiros admirammercê das suas particulares belezas e sobretudo das suas singularidades histórico-culturais.
Falcão Trigoso, Algarve, seca do figo, quadro de 1911
Assim, acerca do Algarve aqui ficam alguns informes coligidos a esmo. Comecemos pela caracterização do conceito histórico de Região:
«… o antigo "reino do Algarve", a última zona a incorporar-se na unidade territorial portuguesa, não teve apenas, com efeito, a sua individualidade bem reconhecida no título que usavam os nossos primeiros reis, mas sempre se considerou bem separado do resto do país: num documento de 1595, citado pelo Dr. Leite de Vasconcelos (Biblos,vol. VI, pág. 487), fala-se, por exemplo: da “estrada que vai de Tavira para Portugal”, e Baptista de Castro no seu Mapa de Portugal (vol. I. pág. 77), ainda escrevia que o Algarve ficava “separado de Portugal pelos montes Caldeirão e Monchique”. E só por esta circunstância se explica talvez o facto de ser o Algarve a única zona do país onde o distrito veio sobrepor-se exactamente à antiga divisão provincial, constituindo, por outro lado, uma razão até certo ponto atendível para que a ela se faça corresponder também uma região geográfica verdadeiramente digna deste nome.» A. de Amorim Girão, Esboço duma carta regional de Portugal, 2.ª ed. p. 8.

«... quando se fala da região algarvia, é sobretudo a zona litoral do Algarve administrativo e histórico que queremos referir-nos. É, de facto, o seu manto de sedimentos secundários e terciários que "transforme le pays en un véritable jardin" no justo e autorizado dizer de Lapparent (Leçons de géographie physique, 3.ª ed., pág. 463). A. de Amorim Girão, Esboço duma carta regional de Portugal, 2.ª ed. p. 136.
Algarve, família camponesa varejando a azeitona das oliveiras

«…quem entra no Algarve pelo caminho de ferro reconhece bem que não é em S. Marcos da Serra, onde o solo e a paisagem são ainda os do Alentejo, mas apenas em S. Bartolomeu de Messines, precisamente no limite setentrional da orla mesozóica, que de súbito nos julgamos transportados a um verdadeiro mundo à parte.» in A. de Amorim Girão, op. cit., p. 174.

«Tanto o Algarve se considerava dantes divisão distinta do resto de Portugal, que em certos documentos algarvios dos séculos XVI e XVII se fala dele como se fosse outra nação, por exemplo: em 1595 diz-se numa confrontação: “...a estrada que vai á aldeia de Moncarapacho e sidade de Tavira pêra Portugal...”; em 1607, noutra confrontação: “...dali sempre pella estrada de Portugal”, isto é, que vai para Portugal.» (J. L. V., Opúsculos, vol.V, p.330).

Postal antigo, traje rural da algarvia
Do ponto de vista natural, ambiental e orográfico, o Algarve aparece-nos descrito e apreciado como uma região distinta, com culturas próprias e exclusivas, um clima ameno e dócil, uma réstia, em suma, do paraíso terrestre:

«As culturas arvenses, e, em especial, da amendoeira, da figueira e da alfarrobeira, têm um considerável desenvolvimento nesta sub-região (o litoral) que mais parece um pomar, onde o homem, no dizer do Portugal Pequenino, “é, como o árabe, mais hortelão do que lavrador”; e algumas espécies vegetais próprias dos climas quentes, como a palmeira, a bananeira, o esparto, etc., contribuem ainda para dar-lhe um aspecto inédito em Portugal.» A. de Amorim Girão, Esboço duma carta regional de Portugal, 2.ª ed., p.140.
Amendoeiras em flor, camponesa algarvia

«...Todo o Algarve é um pomar cultivado com esmero. A gente ao Alentejo, quando vê um bocado de terra bem tratado, diz: - É um pedacinho do Algarve». (Raul Brandão, Os Pescadores.

«...as casinhas aglomeradas, muito brancas, escorrem luz brilhante, como numa paisagem de esmalte...» Mariana Santos, «O Barranco do Velho», in Biblos, vol. VIII, 203.

«…o Algarve que é um pomar cultivado com esmero, e a costa, a mais recortada e piscosa de Portugal, com as suas praias esplêndidas, a água que às vezes parece caldo azul e ao pé dos areais as armações do atum, o peixe que com a sardinha dá mais dinheiro em Portugal.» Maria Angelina e Raul Brandão, Portugal Pequenino, Lisboa, 1930, p. 109.

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