sábado, 26 de janeiro de 2019

VILHENA, Francisco Augusto da Silveira Almeida

Notabilíssima figura da elite farense do último quartel do século XIX, detentor de avultados meios de fortuna, que o vulgo conhecia e respeitava sob o título de Visconde do Cabo de Santa Maria. Viveu a maior parte da sua vida na cidade de Faro, onde marcou vincada presença social como político e jornalista. Defendeu as ideias avançadas do socialismo, e quando jovem chegou mesmo a simpatizar com a filosofia política de Proudhon e da Comuna de Paris. Tinha uma ilustração sólida, adquirida através da leitura dos grandes clássicos da literatura europeia e das obras filosóficas que marcaram o surgimento das ideias libertárias, do republicanismo operário e até mesmo do próprio anarquismo. Com o avançar da idade amansou os impulsos ideológicos, açaimou os projectos de justiça social cogitados na juventude, e tornou-se num cidadão pacato e empreendedor, num empresário de sucesso da opinião pública através do seu monumental jornal, o «Algarve e Alemtejo».
    Francisco Augusto da Silveira Almeida Vilhena, nasceu na vila de Ílhavo a 10-7-1848 - um dos históricos alfobres da miscigenação algarvia, através da emigração de marítimos que das praias do sul demandavam a costa do norte à procura de casamento -, e faleceu em Faro a 6-2-1928, com 80 anos de idade. Teve a desdita de ser monárquico e de assistir à queda do trono reinante, cabendo-lhe a honra de fazer a transição para o novo regime, entregando a autarquia a Bernardo de Passos (recém nomeado pela República como Administrador do Concelho), e o governo civil da região aos republicanos de Tavira. Sem nunca ter deixado de defender a democracia e a soberania nacional, acreditou no regime monárquico como veículo credível das ideias reformistas de uma sociedade mais justa e mais igualitária. Mas essa quimera nunca existiu, nem na democracia moderna. 
Veio para Faro com cerca de vinte anos de idade, para se empregar como aspirante de alfândega. Alguns anos depois ascendeu ao posto de director da Alfândega de Faro e mais tarde exerceu idênticas funções nas de Olhão e Vila Real de Santo António.
Interessou-se desde muito jovem pela política filiando-se no Partido Progressista, em cujas fileiras militava praticamente toda a sua família. Desempenhou funções públicas e políticas de assinalável relevo, nomeadamente as de Governador Civil substituto, presidente, eleito por diversas vezes, da Câmara Municipal de Faro, presidente da Junta Geral do Distrito, director da Companhia de Pescarias do Algarve, director da Companhia de Pescarias do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte, prior da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, de Faro, etc.
Como jornalista dispersou a sua prosa por vários periódicos de Lisboa e da província, obviamente afectos ao Partido Progressista, e dentro dessa linha política fundou e dirigiu em Faro os jornais «Comércio do Sul», «Progresso do Sul» e «Algarve e Alemtejo». Extintos estes periódicos, que não sobreviveram à implantação da República, manteve assídua colaboração nas colunas de «O Algarve» de Faro, publicando numerosos artigos sobre assuntos de pesca. Apesar de não ter uma instrução académica superior foi, contudo, um autodidacta e um estudioso incansável, evidenciando grande prestabilidade e admirável bondade para com os mais desprotegidos.
Pela sua dedicação à política e grande dinamismo nos meios industriais ligados às pescas, o rei D. Carlos concedeu-lhe em vida o título de Visconde do Cabo de Santa Maria, por decreto de 29-11-1898 e mais tarde elevou-o à grandeza de Conde por decreto de 3-4-1905.
Curiosamente foi o último presidente da Câmara Municipal de Faro no regime monárquico, cabendo-lhe a honra de empossar os seus sucessores republicanos. Por ironia do destino, assistiu à derrocada da monarquia e à extinção da república democrática.
Por fim, resta acrescentar que foi casado com D. Isabel Amália Coelho de Carvalho, nascida a 5-1-1854, oriunda da mais notável e possidente família da cidade de Faro. Dessa união nasceram vários filhos, de entre os quais destacamos Ventura Coelho de Vilhena e Francisco de Almeida Vilhena. Os seus avultados meios de fortuna foram sendo paulatinamente delapidados ao longo de décadas, perdendo-se também com a emergência do regime republicano o enorme prestígio social e político de que gozava a família Almeida Vilhena.

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