O agostiniano Frei Joaquim de Santa Rita, publicou nos meados do séc. XVIII a
notável obra Academia dos Humildes e Ignorantes, na qual afirmava que se
o Algarve tivesse sido povoado por gente do Minho, dentro de poucos anos esta
província tornar-se-ia no canto mais belo do mundo. É claro que isto era um exagero,
em todo o caso é verdade que os minhotos são infatigáveis trabalhadores, gente
enérgica e honrada que por onde passa lança mãos ao trabalho vencendo na vida.
Mas esse espírito empreendedor e perseverante, associado a um carácter esforçado e guerrreiro, muito peculiar nas gentes obreiras do Minho, nem sempre foi pacífico ou bem tolerado, como acontece no tempo presente. É que geralmente os que vinham de fora chegavam ao Algarve para lutar pela vida e alcançar objectivos de sucesso. Daí que muitos deles se tivessem elevado para patamares de preponderância económica, social e política. Os minhotos, mas também os beirões, são ainda hoje no Algarve considerados e respeitados como empresários, proprietários, comerciantes e industriais, de reputado sucesso. Daí que muitos deles tivessem sido convidados a assumir cargos de chefia nos organismos locais da administração pública e da política em geral.
Porém, ainda hoje sobejam resquícios de antigas invejas, inultrapassadas cobiças e de insuperáveis invídias, que fizeram com que os algarvios lhes lançassem o epiteto de "Filipes", como se minhotos e nortenhos fossem estrangeiros usurpadores das riquezas e dos benefícios locais, numa clara alusão ao domínio estrangeiro durante o período da subjugação espanhola. O certo é que se formos a ver à lupa os cargos de chefia regional verificamos que na sua maioria são desempenhados por não algarvios, ou, na melhor da hipótese, por algarvios de fresca data, isto é, filhos de lisboetas, beirões e minhotos. Felizmente, hoje, esses ditos e epítetos são águas passadas que já não movem moinhos.
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