Já aqui me referi ao subido interesse e insofismável importância histórica e socioantropológica da Toponímia. Na maioria dos casos os topónimos adoptam a designação dos acidentes naturais que lhes estão adstritos (portos, cabos, montes, rios, minas), noutros casos adoptam o nome de animais (zoónimos), de plantas (fitónimos) e até de rochas, mas na generalidade eternizam o nome do seu fundador (antropónimos), do povo colonizador e até dos seus conquistadores. Existem cidades e vilas, tanto no nosso país como no Brasil e restantes ex-colónias, cujas designações comprovam as suas origens naturais e as suas origens históricas confirmadas na toponímia, como por exemplo Porto, Portalegre, Porto de Mós, Porto Alegre, Cabo Verde, Cabo Frio, Monte Alegre, Monte Carmelo, Minas Gerais, Rio Grande, Rio de Janeiro, etc..
No Algarve existem sítios e aldeias cuja toponímia certifica exactamente as mesmas origens naturais, como Porto do Carro (Estoi, Faro), Porto Largo (Monchique), Porto Nobre (Querença, Loulé); mas também Monte Gordo (Vila Real Stº António), Monte Clérigo (Aljezur), Monte das Sarnadas (Alte, Loulé), para além de muitos outros.
Mas não eram as origens naturais, físicas ou históricas dos topónimos que designam as localidades a razão principal deste breve apontamento. É que ao contrário do que se pensa ocorreram ao longo dos séculos necessidades de povoamento - aquilo a que poderiamos chamar colonização interna - que exigiram dos governantes e outras autoridades o uso de medidas enérgicas e urgentes para obstar ao despovoamento. Nalguns casos atraíam-se os povoadores com propostas de trabalho e de melhores salários, noutras com isenções e privilégios (isenção de recrutamento militar, não pagamento de impostos) e noutras com reaquisição dos direitos de liberdade controlada (transferência de presos e condenados para os castelos raianos, para os coutos de homiziados e para as colónias).
Mas casos houve em que o povoamento se fez duma forma quase forçada, imposta ou sem hipóteses de recusa, principalmente nas terras do sul. Ainda não há muitos anos que o ministro Duarte Pacheco, para dar satisfação a grandes obras públicas de desenvolvimento nacional, como barragens, estradas, etc., arrebanhava mão de obra no Alentejo e Algarve, de uma forma quase forçada e algo atrabiliária. Não vamos agora falar disso, mas todos sabemos que muitas centenas, senão milhares, de alentejanos e algarvios foram deslocalizados das suas terras de origem para irem construir em Lisboa diversas obras públicas, como foram os casos do Estádio Nacional, Parque de Monsanto, Alameda, Instituto Superior Técnico, pontes e estradas diversas, resultando disso a sua fixação em acampamentos e "bairros de lata", erigidos a esmo nas colinas e zonas limítrofes da capital, para só mais tarde serem definitivamente realojados nos novos bairrros sociais de Alcantara, da Ajuda, do Arco do Cego, de Monsanto, etc.
Instituto Superior Técnico, grandiosa obra de Duarte Pacheco |
Bairro social da Ajuda, notável obra de Duarte Pacheco |
Tudo isto para dizer que ao contrário do que era comum e até previzível no povoamento do território nacional, houve casos em que a origem dos seus primeiros povoadores deu o nome ao sítio ou ao local onde se fixaram, como aconteceu por exemplo no sítio dos Parizes, no concelho de São Brás de Alportel, que foi povoado por franceses que desertaram das tropas napoleónicas quando daqui foram rechassados em 1808. O mesmo aconteceu com o sítio dos franceses, na serra do Cachopo, concelho de Tavira.
Todavia, houve também casos de povoamento interno feito por algarvios, que não sabemos se foi realizado de forma pacífica e concertada, ou se foi operado de forma forçada pelas autoridades do tempo. Não sabemos inclusivamente a que época remontam, mas devem ter sido operados há alguns séculos atrás os dois casos que conheço de transferência de algarvios para efeitos de povoamento. São ambos no concelho de Alcácer do Sal e dizem respeito à pequena "Aldeia dos Algarvios", que nos anos quarenta do século passado tinha 26 fogos, e o "Monte dos Algarvios" que tinha apenas 4 fogos. Sei também que naquela cidade, implantada à beira Sado, existe uma «Rua dos Algarvios», o que é uma bonita homenagem aos que daqui partiram e não mais voltaram.
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