Assistimos hoje a tempos tão dificéis que até os farmacêuticos, proprietários e industriais do ramo, se vêem na contingência de protestar publicamente contra as medidas de austeridades do governo, que paulatinamente têm levado o nosso país para o abismo da insolvência generalisada, quer das famílias, do comércio, da indústria e até dos serviços. Creio que verdadeiramente quem não está a sofrer na pele as agruras do desemprego nem da falência, são os políticos que de forma despudorada e impune têm roubado os fracos, os desprotegidos e os desafortunados - numa palavra, o povo.
Desta última manifestação pública, realizada a 13 de Outubro, em Lisboa, ressaltou aos olhos do público e da informação em geral a marcha de protesto dos farmacêuticos, no seio da qual tive a oportunidade de vislumbrar a presença de alguns amigos e conhecidos, que merecem o meu maior respeito e admiração pela sua coragem e frontalidade.
Porém, tudo isso me fez ressaltar à memória a figura de um notável algarvio, de que certamente já poucos se lembram, mas que por ter sido um dos primordiais obreiros da indústria farmacêutica, merece ser aqui relembrado, em preito de singela homenagem. Refiro-me a José Joaquim da Costa Fernandes, farmacêutico e industrial de Farmácia, que nasceu em Vila Nova de Portimão, e faleceu em Lisboa, a 5-2-1939.
Na sua especialidade era considerado como uma incontornável autoridade, devido aos seus conhecimentos científicos e à sua experiência profissional, sendo inclusivamente responsável pela criação de novas pomadas, unguentos e pílulas, no tempo em que a indústria farmacológica era ainda incipiente e dependia em muito da inteligência e da curiosidade científica dos próprios farmacêuticos.
Fundou em 1916, com o seu comprovinciano e amigo, cor. João Correia dos Santos, o Laboratório Farmacológico, situado na Rua Alves Correia em Lisboa, que teve a fama e o prestígio de ser dos melhores do país, para além de que foi um dos primeiros a ter um sentido industrial, abastecendo a maioria das farmácias espalhadas pelo país. Aliás, no decorrer dos anos foi o «Laboratório Farmacológico» considerado o melhor do país rivalizando inclusivamente com os seus congéneres europeus.
Depois da morte de José da Costa Fernandes perdeu o Laboratório, que fundara com tanto sacrifício, o seu principal obreiro, e o país perdeu também um dos maiores vultos da indústria farmacêutica. Ao seu sócio e amigo, cor. Correia os Santos faltava-lhe o espírito empresarial, revelando-se um estudioso profícuo, grande intelectual e colaborador assíduo da imprensa, nomeadamente do Algarve.
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