segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quadras populares de Poetas algarvios


Há muita gente que julga que os mais consagrados poetas do Algarve não se interessavam pela poesia popular. Nada mais errado. Até mesmo o Fernando Pessoa escreveu muitas quadras populares, que serviram para vender dezenas de manjericos, durante anos a fio, no Cais do Sodré, ou junto à estátua equestre do D. José, nas noites festivas de S. João e de St.º António.
Para que sirvam de exemplo, aqui ficam, extractadas da imprensa da época, algumas quadras populares de poetas consagrados do Algarve:

Não digas que me amas
A ver se tenho ciúme;
Os laços de amor são chamas
E não se brinca com lume.

João de Deus

Deus criou o sol num dia
E noutro fez o luar.
Mas, p’ra fazer os teus olhos,
Levou um ano a pensar

João Lúcio

O que eu te falo em segredo,
- o que eu converso contigo -
... nas mágoas que te não conto,
nos sonhos que te não digo!

Bernardo de Passos

Beijos puros não há hoje,
Nem mesmo esses que eu te dei!
- Eu sei lá quem tu beijastes!
Sabes lá quem eu beijei!

José Dias Sancho

Ora loira, ora morena,
tanto te mudas, te pintas
que talvez te valha a pena
um marido “troca tintas”.

António Santos


Ó alcachofra, Deus queira,
Por amor de nós, os dois,
Que tu morras na fogueira
E ressuscites depois.

Emiliano da Costa

Quem me dera ver-te doido
- Duvidas ?... Pois é assim –
Quem dera ver-te doido,
Mas doido de amor por mim.

Maria de Marim Marques

Nas voltas tontas do mundo
Mais tonta coisa não vi,
Tu, tonta, à roda dum mastro,
E eu, à roda de ti!...

Armando de Miranda

Eu sei que gostas de mim,
Embora digas que não:
A boca nem sempre diz
O que sente o coração.

Isidoro Pires

Os meus olhos choram sempre
Quando me lembro, meu bem,
Como foi que tu morrestes,
Sem que eu morresse também!...

Lutgarda de Caires

Quem tem amores tem penas;
quem não ama penas tem:
- Abençoadas as penas
que me vens dando, meu bem!

Vitória Régia

Meu amor, vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.

António Aleixo

1 comentário:

  1. Quem vive amargurado
    Só conhece o sofrimento
    Não sabe o que é ser amado
    Nem pode ser ciumento

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