quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Largo da Palmeira, em Faro


Por razões de alargamento da rua que circunda a actual Praça Ferreira de Almeida, em Faro, foi a majestosa palmeira, que lhe dava a designação popular, abatida em finais de Fevereiro de 1950. Resistiu ao tempo e às agressões humanas durante meio século, pois fora mandada plantar em 1900 pelo então presidente da edilidade, Prof. João Rodrigues Aragão, docente no Liceu (cujas instalações ficavam na Rua do Município, onde é hoje a Polícia Judiciária) que foi uma das figuras mais conhecidas do seu tempo, pela sua vaidade e jactância politiqueira. Como era muito enfatuado e até arrogante, o povo chamava-lhe D. Pavão, havendo logo quem o criticasse pela ideia da palmeira com a seguinte quadra:

Dom Pavão aqui plantou
Neste largo uma palmeira,
Diz o povo que passou:
Ai Jesus, que grande asneira!

Permaneceu ali, altiva e esbelta meio século, embasada num plinto de pedra, com uma peanha à volta, para na sua sombra se reunir o concílio dos velhos do Restelo, que era um grupo de cidadãos idosos, com um certo prestígio social, que se divertiam a criticar as inovações e modernices das novas gerações.
As raízes da palmeira eram tão profundas que as chuvadas foram cavando na profundidade uma espécie de galeria que os miúdos aproveitavam para nela brincarem às escondidas. Disso se recordava com extrema saudade o Prof. Doutor Adelino da Palma Carlos quando lhe perguntei, uma vez em Lisboa, se ainda se lembrava da sua terra natal, ao que ele me retorquiu com a narração de um episódio da sua meninice passado no Largo da Palmeira, cujas raízes escavaram uma lúgubre e profunda galeria, no interior da qual os miúdos costumavam guardar o arsenal bélico das suas brincadeiras.
A Palmeira estava então situada no mesmo lugar onde hoje se encontra um quiosque, no extremo sul do largo.
Recentemente a edilidade mandou reimplantar naquele largo uma Palmeira, que embora não tendo ficado exactamente no mesmo lugar, conseguiu dar àquele recinto uma justificação para a sua designação popular, reconstituindo um espaço social aprazível e um enquadramento urbano esteticamente acolhedor.

2 comentários:

  1. Aqui está a justificação para a confusão que me fazia a designação de largo da palmeira!
    Sempre fazia confusão com largo perto da pontinha, esse sim tem arvores de grande porte e penso que tem palmeiras !

    Vitor xelim

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  2. Prezado Vítor Xelim
    Muito obrigado pelo seu comentário.
    A palmeira que deu o nome popular à Praça era mesmo grande, não só em largura de tronco como em altura. Tinha uma copa muito avantajada que dava uma prazenteira sombra nas tardes de verão, em cujo plinto, adaptado em bancos de pedra, se reuniam algumas figuras de "peso" social, como era o caso do Dr. Cândido Guerreiro, que gostava de se meter com os estudantes do Liceu, que nas suas capas coimbrãs já se julgavam doutores.
    As galerias subterrâneas da palmeira eram conhecidas de todos, mas tornaram-se perigosas pois podiam aluir e causar, dano não só aos transeuntes como também aos miúdos que nelas brincavam. Fez-se um novo pavimento, já no tempo do Estado Novo, creio que no início dos anos trinta, com novos bancos, mas desta vez de ferro forjado. As ruas eram de terra, e quando ventava levantavam muito pó. Só nos anos quarenta é que o Duarte Pacheco deu dinheiro para a Câmara as pavimentar com paralelepípedos de granito. Existem fotos antigas do largo mas não possuo nenhuma para ilustrar este breve "spot".
    Volte sempre.
    Um abraço do Vilhena Mesquita

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