domingo, 12 de julho de 2009

Alan Villiers no Algarve


Nos finais de Maio de 1953 deslocou-se ao Algarve o oficial da armada e reputado escritor australiano Alan John Villiers, que se tornou famoso por várias acções militares e científicas, mais ou menos aventureiras, por si depois descritas nos principais órgãos da imprensa londrina. Tornou-se, assim, num misto de herói-romântico dos tempos modernos, que se cobriu de glória na 1.ª expedição ao Antárquico capitaneada pelo norueguês Carl Anton Larsen’s, e na volta ao mundo em 58 mil milhas marítimas, ao comando do seu navio-escola «Joseph Conrad» realizada entre os anos de 1934 e 1936.
Quando eclodiu a II Guerra Mundial alistou-se, em 1940, como tenente da marinha de guerra e, em 1944, era já comandante de uma companhia de fusileiros que participou na invasão da da Normandia e da Itália. Mais tarde tomou parte na ocupação militar de Rangum, da Malásia e das Índias Ocidentais. Além disso treinou os cadetes da armada britânica para desembarques militares no Oriente e foi professor da Escola Naval em Haberdovey, na Nova Gales, de onde saiu em 1950 para acompanhar a frota portuguesa do bacalhau a bordo navio «Argus».
Data desse ano o seu cruzamento com a cultura portuguesa e sobretudo com o estudo das arrojadas actividades pesqueiras da nossa frota e dos corajosos pescadores algarvios nas pescas longínquas da Terra Nova e da Gronelândia. Dessa viagem e dessa convivência resultaram vários artigos na imprensa estrangeira, nomeadamente no prestigiado «New York Times», relatando a dura pesca do bacalhau nos frígidos mares do norte, constatando inclusivamente que “nunca vira em toda a sua carreira marítima tamanha valentia como a dos portugueses”. Enquanto navegou no «Argus» filmou a faina pesqueira nos bancos gelados do bacalhau, dando origem a um belo documentário cinematográfico intitulado «A Campanha bacalhoeira de 1950», o qual foi traduzido em várias línguas e exibido nos principais cinemas do mundo inteiro. A sua acção jornalística, as suas conferências difundidas pelos microfones da BBC e o seu documentário, propagandearam o nome de Portugal, divulgando as suas glórias marítimas, as suas potencialidades pesqueiras e a coragem dos seus pescadores. Para o regime salazarista, o comandante Villiers foi uma benesse dos deuses, porque divulgou o país e prestigiou a nossa economia sem quaisquer encargos de propaganda.
Em 1951 publicou em livro o relato da sua viagem à terra do bacalhau num livro intitulado The Quest of the Schooner Argus, que teve enorme sucesso e foi traduzido em dezasseis línguas. Saiu no nosso país com o título A Campanha do Argus, e foi compreensivelmente laureada pelo SNI com o prémio Camões. A sua obra literária compõe-se de uma boa dúzia de sucessos editoriais que lhe granjearam prestígio mundial e lhe abriram as portas de muitas academias. Por outro lado, publicou milhares de artigos nos mais célebres jornais e revistas do mundo ilustrado, nomeadamente na National Geographic Magazine, na Reader’s Digest, etc.
A sua visita ao Algarve, efectuada a convite das autoridades oficiais, tinha como especial propósito a observação da chamada “tourada do mar”, que mais não era do que a sangueira resultante do içar dos atuns capturados nas armações para os barcos da pesca. O comandante Villiers ficou encantado com o que viu, tendo em seguida percorrido toda a costa algarvia e demorada as suas observações nas belas e paradisíacas praias que se espraiam de Sagresa até Vila Real de St.º António. Dessa sua expedição turística resultou a produção de um filme a cores intitulado «The Golden Beaches of Adventure», no qual também reproduz com realismo e autenticidade a faina do atum desde a montagem da armação até à captura dos tunídeos. Também nesse filme resulta claro que as praias de Monte Gordo e da Praia da Rocha, com seus casinos e hotéis de nível europeu, eram as mais prósperas e procuradas pelos turistas, que embora em número ainda escasso demandavam o litoral algarvio, quase todo o ano. As praias de Quarteira e Albufeira não foram esquecidas, dando particular destaque à sinuosidade das suas ruas mouriscas, e à brancura do seu peculiar e humilde urbanismo.
Refira-se, a concluir, que neste seu trabalho cinematográfico foi assistido por Joaquim Maia Águas, chefe de serviços de assistência aos pescadores do Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau.
A questão agora coloca-se na seguinte interrogação: onde pára esse documentário? O seu actual visionamento resultaria num grande benefício pois que como facilmente se adivinha constitui um verdadeiro documento histórico dos primórdios do nosso pioneirismo turístico.

J. C. Vilhena Mesquita

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